Por Carlos Eduardo Lins da Silva
Como quase todos os políticos no poder, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, faz tudo – dentro dos limites da legislação e da cultura política de seu país – para obstruir o trabalho do jornalismo independente que possa afetar os seus próprios interesses ou de seu partido. O que não o impede de se dizer favorável ao trabalho do jornalismo independente que atrapalhe seus adversários, ou mesmo ultrajado quando estes tentam dificultar tal trabalho.
Essa contradição foi apontada na semana passada na sala de imprensa da Casa Branca por Jake Tapper, setorista da rede de TV ABC, quando o porta-voz de Obama, em nome do presidente, lamentou a morte de dois correspondentes de guerra na Síria que, segundo ele, “tentavam reportar a verdade” sobre o que ocorre naquela nação, dirigida por um inimigo dos EUA.
É evidente que os métodos de Obama para colocar obstáculos à investigação jornalística mal podem ser comparados aos atos de brutalidade e violência que Bashar al-Assad utiliza. Mas, ao se valer – como tem feito com mais constância do que a maioria de seus predecessores – da Lei de Espionagem de 1917 para combater vazamentos de informações de governo para a imprensa, Obama não apenas deixa de cumprir promessas de campanha de que iria incentivar os que apontassem desvios de conduta na administração pública federal, como coloca o seu nome ao lado dos poucos chefes de governo americano dos séculos 20 e 21 que pontificam no quesito combate à liberdade de ação da imprensa – quem sabe apenas ao de Richard Nixon.
Tortura exposta
O caso mais famoso é o do recruta do Exército Bradley Manning, preso em condições pouco humanas há meses à espera de corte marcial por ter passado ao WikiLeaks os célebres despachos de diplomatas dos EUA a seus superiores no Departamento de Estado.
Mas há outros, como o de um ex-funcionário da CIA que passou informações a jornalistas sobre a prática de tortura. Agentes da CIA a respeito de quem há acusações sólidas de terem torturado pessoas suspeitas de terrorismo não foram até agora indiciados por crime nenhum, mas seu ex-colega que falou com repórteres sobre essas práticas, sim.
Por enquanto, só quem tem pagado o preço na Justiça por vazamento de informações têm sido funcionários de governo, não os jornalistas que as receberam (com a exceção de Julian Assange, do WikiLeaks, a quem o governo dos EUA pretende processar assim que ele veja resolvidas as pendências que tem com a Justiça de seu país).
Mas Obama (ou alguém em seu nome na administração que nenhuma vez foi desautorizado pelo presidente) tem se esforçado para colocar repórteres independentes na cadeia, mesmo alguns que o beneficiaram quando estava na oposição a George W. Bush.
É o caso de James Risen, do New York Times, que em 2005 ganhou o prêmio Pulitzer pela sua série de reportagens sobre as mentiras a respeito das armas de destruição em massa que serviram como justificativa para a invasão do Iraque, e textos sobre a prática de torturas por militares americanos contra civis iraquianos.
Nada de novo
Na época em que as reportagens foram publicadas, Obama se valeu delas para atacar o governo Bush. Agora, o seu governo processa Risen para que ele revele quem foram as suas fontes para aquelas reportagens; e, caso não as revele (como deve fazer, em respeito a um princípio ético jornalístico fundamental para a profissão), provavelmente será sentenciado a vários meses de prisão, como já ocorreu com colegas por motivos semelhantes.
Enfim, nada de muito novo no front da guerra entre políticos e o jornalismo independente. Eles sempre aplaudem e incentivam quem os pratica quando o objeto de sua investigação são seus adversários. E tentam coibi-los quando se sentem prejudicados.
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