Em Curitiba, estudante tem que apresentar atestado de pobreza para ter direito à Educação
É necessário que o estudante apresente uma espécie de "atestado de pobreza" à Prefeitura para ter direito a meio passe escolar em Curitiba. Ou seja, o cara só vai de ônibus para a escola se provar que é miserável. A Prefeitura de Curitiba diz que assim evita "injustiças" e afasta os ricos de tal "benefício" restrito aos pobres!
Atestado de pobreza, senhores do século XXI!!!! Pensei que esta aberração havia sido suprimida dos nossos bárbaros costumes. Mas a turma do prefeito Beto Richa assim exige. Criam dificuldades para não conceder o que é um direito: acesso à educação.
Aqui, não basta ser pobre, há de se provar que é pobre.
Meados da década de 70, agricultura em crise, também precisei de tal atestado para ter direito a livros numa escola. O esquema era: mostrava o atestado e ganhava os livros da Fename, Fundação Nacional do Material Escolar, ligada ao governo federal e que os milicos acreditavam que iria dar um jeito na ignorância nacional. A ditadura acabou, a Fename foi para o espaço e a ignorância nacional viceja, ganha exuberância, se faz pelos quatros cantos e espalha-se com o vento.
Consegui o atestado na Delegacia de Polícia de Cianorte. Fui até lá e conheci um escroque que atendia aos miseráveis, trabalhadores rurais desempregados e putas que tiravam suas licenças por meio de uma carteira de bailarina. O escroque cobrava uma taxa de todfo mundo, conforme a cara do peão. Ele pegava o dinheiro rapidamente e fazia as notas sumirem no próprio bolso, sem cerimônia, sem vergonha.
Assim, ainda criança, tive o meu primeiro contato com os que faturam com a miséria alheia. Eh, turminha que cresce!
Paguei três cruzeiros para ter a merda do atestado que era de graça. Consegui o dinheiro vendendo garrafa vazia. (Só para comparar, a entrada do cinema custava um cruzeiro).
Ganhei uma borracha, régua de plástico, compasso, dois lápis pretos e uns livros. O de Literatura Portuguesa nunca usei em sala de aula, a professora simplesmente ignorou, preferia ditar os pontos.
Guardo este livro em casa até hoje: a ditadura achou que Florbela Espanca poderia ser publicada. Pelo menos dois poemas da poeta estão lá e provam-me:
Há poesia mesmo na pobreza atestada.
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