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Em 99, Itamaraty via “narcoestado” na fronteira paraguaia

da Folha de S. Paulo

O ministro do Interior do Paraguai, Carlos Filizzola, respondeu ontem às declarações do ex-embaixador do Brasil no Paraguai, Bernardo Pericaz, presentes em documentos do Itamaraty publicados pelo projeto Folha Transparência. Filizzola disse que o Paraguai “está longe de se converter em um narcoestado”. Segundo o ministro, o Paraguai não pode ser comparado “com países [da América Latina] que estão controlados por narcotraficantes. O narcotráfico não atinge no Paraguai as dimensões de outros países”.

Ele ressaltou que, recentemente, o Paraguai prendeu traficantes importantes e apreendeu grandes quantidades de drogas. Em telegrama de 30 de novembro de 1999 da embaixada brasileira em Assunção para o Itamaraty, Pericaz diz que, a médio prazo, “o pior cenário possível mas com possibilidades reais” no Paraguai seria a criação de um “narcoestado” na fronteira com o Brasil. O telegrama afirma que o narcoestado se sustentaria “dos frutos do crime e da chantagem que poderia fazer em relação a [hidrelétrica de] Itaipu”.

As declarações foram feitas durante o governo do presidente paraguaio Luis González Macchi (1999-2003). Pericaz foi embaixador em Assunção entre 1997 e 1999.

O jornal paraguaio “ABC” também repercutiu ontem reportagem da série “Segredos do Itamaraty” publicada pela Folha no último domingo que mostra como o Brasil cedeu a pressões do Paraguai ao recusar asilo ao deputado Conrado Pappalardo, tido como um dos supostos “autores intelectuais” do assassinato do vice-presidente Luís Argaña.

O diário tentou contatar o dirigente colorado Félix Argaña, que não quis falar sobre a morte do pai nem sobre as declarações de Pericaz de que Luís sofria de “instabilidade mental-emocional”.

Essa última informação está em telegrama de agosto de 2007, divulgado anteontem pelo Folha Transparência, junto a outras 186 mensagens confidenciais da embaixada em Assunção.

O site do projeto (transparencia.folha.com.br) já disponibilizou a íntegra de 1.658 documentos confidenciais liberados pelo Itamaraty a pedido da Folha.

Após a liberação dos textos relacionados ao Paraguai, o “ABC” também criou, em seu site, uma página que remete ao Folha Transparência.