Desenvolver o mercado de trabalho deve ser um dos mais importantes desafios da economia brasileira em 2020, quando as condições apresentadas para o crescimento serão bem melhores do que as encontradas no 2019 que se encerra. O crescimento econômico sem geração de empregos é efêmero, desalinha a sociedade e gera o fenômeno de incluídos e excluídos. Por Luiz Carlos Trabuco Cappi.
Nos manuais clássicos de economia, o trabalho é definido como um dos cinco fatores de produção. A terra, o capital, a organização empresarial e a técnica, ou conhecimento, são os demais fatores que, combinados, produzem riqueza na forma de bens necessários para a sobrevivência, o desenvolvimento e o bem-estar da sociedade.
Esse conceito tradicional tem sido revisto diante do impacto provocado pela revolução tecnológica que se intensificou ao longo dos últimos trinta anos.
As novas tecnologias de comunicação e informação, a inteligência artificial, a interação das economias nacionais num mundo globalizado e as alterações profundas nas práticas gerenciais, entre outras tantas novidades, deram à economia do século 21 uma nova feição, que ainda está sendo moldada.
Mas já está claro que o trabalho, em suas características essenciais, permanece como o fator sem o qual a produção de riqueza é impossível.
Quanto mais complexo e disruptivo se torna o ambiente econômico, mais fica claro que todo esse conjunto de mudanças mantém como cláusula pétrea da organização social a importância do trabalho.
O trabalho, afinal, é uma atividade produtiva e muito mais. É um exercício libertador, um meio de se inserir na sociedade e o veículo para cada um encontrar o seu lugar. É componente fundamental da vida desde tempos primórdios, por ser gerador de conhecimento e de crescimento pessoal. É ele que cria no presente a convergência entre passado e futuro.
E qualquer que seja o grau de tecnologia aplicado a uma atividade, o ser humano continuará a ser indispensável. Mesmo numa linha de montagem inteiramente formada por robôs a intervenção humana seguirá sendo necessária. Igualmente numa empresa de serviços que se relacione com seus clientes unicamente por meios digitais as decisões são tomadas por pessoas. Os próprios aplicativos tecnológicos são fruto do esforço e genialidade de seres humanos.
O crescimento da economia é fundamental para o desenvolvimento equilibrado do mercado de trabalho, da base ao alto do edifício profissional. Numa sociedade numerosa como a nossa, ganhos paulatinos nas estatísticas de acesso ao trabalho logo sobressaem. A redução de 1,6% na taxa de desemprego apurada pelo IBGE de outubro do ano passado a outubro passado representou a inserção de nada menos do que 1,436 milhão de brasileiros no mercado.
As expectativas apontadas pelos agentes econômicos abrem para 2020 uma janela para que o contingente de 93,801 milhões de ocupados cresça. A positividade poderá atacar a taxa de desocupação no País, de 11,8%, somando 12,515 milhões de brasileiros.
Para aproveitar essa boa chance, quanto mais bem preparado e qualificado estiver o trabalhador, mais condições ele terá de crescer. Estudo recente da agência de recursos humanos ManpowerGroup entrevistou 39 mil empregadores em 43 países, entre eles o Brasil. Nada menos que 45% dos empregadores entrevistados disseram que não conseguem encontrar nos candidatos as competências necessárias para as vagas disponíveis, o maior nível em 12 anos.
Isso mostra que as escolas e universidades ainda formam profissionais para um mercado de trabalho que existia no século 20, no Brasil e no mundo. Entretanto, estudos revelam que 65% das crianças que entraram na escola primária em 2016, quando se tornarem economicamente ativas desempenharão funções que, em muitos casos, não existem hoje.
No tempo disruptivo que já chegou, o conceito do trabalho tal qual o conhecemos, porém, permanece. Regras de conduta como esforço, disciplina, motivação, foco e compromisso com metas e objetivos continuam sendo a melhor prática humana para a ruptura de paradigmas e a superação de desafios pessoais.
Nessa jornada em busca da prosperidade geral do País que vivemos, o trabalho continua sendo o eixo central.
O portal de entrada do prédio da administração central do Bradesco, na Cidade de Deus, exibe o dístico ‘Só o trabalho pode produzir riquezas’. Ela foi instalada há 60 anos, na inauguração da nossa sede. Esta é a nossa crença e a consideramos mais atual do que nunca.
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