“Poucos candidatos entenderam que poderiam fazer uma comunicação mais direta sem precisar de intermediários”, avalia o professor Marcelo Vitorino a respeito do impacto da pandemia sobre os agentes políticos
O professor Marcelo Vitorino, especialista em comunicação política, diz que hoje o eleitor está num ambiente multicanal, o que se torna um dos principais desafios para as eleições de outubro de 2022. “Hoje, o foco dos eleitores está em um ambiente multicanal, com possibilidades infinitas de se comunicar. O eleitor pode estar na rede social, numa ferramenta de troca de mensagens ou ainda assistindo vídeos em um canal no youtube”, disse Vitorino, consultor de marketing e comunicação política e dedica-se a campanhas digitais desde 2008.
Vitorino argumenta ainda que não há mais espaço para separar a atividade política em dois tempos, campanha eleitoral e depois das eleições.”Na comunicação política de hoje, vemos a busca por transparência, em dar mais legitimidade às informações, ou seja, mostrar realmente quem é aquele político. Busca se desmistificar aquele ser perfeito, o que ele vendia nas eleições anteriores”.
“Atualmente, podemos perceber que os grandes caciques políticos já estão mais digitais, estão perdendo aquelas nuances da comunicação tradicional da velha política. Isso porque, a comunicação tradicional era muito centrada na política tradicional, naquela a comunicação era basicamente informativa e pressupunha que o eleitor queria conhecer as qualidades dos candidatos”, afirma Vitorino.
Nesse contexto, diz o professor, o presidente Jair Bolsonaro está na frente do ex-presidente Lula (PT) e do pré-candidato Ciro Gomes (PDT). “Bolsonaro tem se destacado nas redes sociais e com essa comunicação mais transparente do que outros players, outros políticos mais conhecidos”, disse nesta entrevista exclusiva.
O que muda da eleição de 2020 para 2022, em termos de comunicação política?
Eu não acredito que vai haver grandes mudanças na comunicação política de 2022 em relação a 2020. Houve uma mudança significativa de 2018 para 2020, com uma diminuição no uso de ferramentas como WhatsApp para disseminação de boatos.
O que deve acontecer?
As eleições de 2022 devem seguir a mesma linha que em 2020, talvez com uma ampliação no uso do impulsionamento de conteúdo que agora é uma prática e tem se tornado mais frequente e importante. O impulsionamento foi muito utilizado em 2020, mais do que em 18, então devemos expandir e provavelmente vai ter um trabalho maior na mobilização de militantes partidários, tanto partidários quanto os militantes sem fidelidade partidária.
O que significa hoje a “velha política” para a comunicação política? Qual o perfil do ator político mais ‘linkado’ com a comunicação política, digamos de ponta?
A comunicação política tradicional deve ser dividida em dois momentos: o período eleitoral e o momento do período não eleitoral. Antigamente a propaganda eleitoral tinha o monopólio da comunicação política. Porque era o momento em que os candidatos tinham para apresentar a sua visão de mundo, visão de candidatura e seus valores. Quando você abre espaço e tira a comunicação do cercadinho do período eleitoral, tira também o peso da propaganda eleitoral e você faz um trabalho mais distribuído na comunicação como um todo. Então por esse motivo a gente pode invalidar a tese que a propaganda perdeu o monopólio da comunicação
Aquele político tradicional tem que correr atrás, então?
Atualmente, podemos perceber que os grandes caciques políticos já estão mais digitais, estão perdendo aquelas nuances da comunicação tradicional da velha política. Isso porque, a comunicação tradicional era muito centrada na política tradicional, naquela a comunicação era basicamente informativa e pressupunha que o eleitor queria conhecer as qualidades dos candidatos.
O que dá mais legitimidade ao eleitor?
Na comunicação política de hoje, vemos a busca por transparência, em dar mais legitimidade às informações, ou seja, mostrar realmente quem é aquele político. Busca se desmistificar aquele ser perfeito, o que ele vendia nas eleições anteriores. Então, quando avaliamos desta forma, podemos tomar como exemplo até mesmo o presidente Jair Bolsonaro. Bolsonaro tem se destacado nas redes sociais e com essa comunicação mais transparente do que outros players, outros políticos mais conhecidos.
Nesse sentido, Bolsonaro comunica melhor que Ciro e Lula?
O fato é que o presidente mostra e fala coisas que algumas pessoas podem gostar e outras não. Ainda assim, ele mostra quem ele é, sem filtros dentro dessa comunicação. Vejo que hoje, dentro de uma comunicação transparente, ele é o mais adaptado, outros têm feito tentativas. Ao meu ver Ciro Gomes e o Lula mantém uma comunicação extremamente tradicional, algo que não tem a ver mais com o tempo que estamos. Ciro faz uso da internet como se fosse televisão no canal mais informativo do que de relacionamento, Lula também.
Quais são serão os desafios da comunicação política comunicação política nos pós pandemia ou na pós vacina?
Eu acredito que não é só uma questão de pré ou pós pandemia, mas é um desafio constante, o de falar com o eleitor no momento em que ele quer se comunicar. Antigamente, nos comunicávamos com o eleitor por meio da mídia, a mídia tradicional, ela trazia as informações e os eleitores recebiam sem um canal direto para a troca de diálogo.
Hoje o foco dos eleitores está em um ambiente multicanal, com possibilidades infinitas de se comunicar. O eleitor pode estar na rede social, numa ferramenta de troca de mensagens ou ainda assistindo vídeos em um canal no youtube, basta o político fazer esse trabalho de selecionar o conteúdo relevante que esteja de acordo com o canal que o espectador está. Talvez a maior dificuldade aqui seja empacotar e dividir a informação dentro das diversas formas de entretenimento.
O que a pandemia pode ter mostrado/ensinado aos atores e agentes políticos?
Infelizmente eu não acredito que a pandemia ensinou algo para a maior parte da classe política. Alguns poucos entenderam que com a pandemia ficou um campo mais aberto com a comunicação direta com o eleitor, com as lideranças comunitárias e as lideranças regionais, segmentos que antes serviam de ponte entre o candidato e o eleitor. A pandemia fez com que até mesmo esses grupos representativos perdessem um pouco de sentido em muitos lugares. Na minha opinião, poucos candidatos entenderam que poderiam fazer uma comunicação mais direta sem precisar de intermediários.
“Vejo que hoje, dentro de uma comunicação transparente, Bolsonaro é o mais adaptado, outros têm feito tentativas. Ao meu ver Ciro Gomes e o Lula mantém uma comunicação extremamente tradicional, algo que não tem a ver mais com o tempo que estamos.”
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