Cesar Silvestri Filho (PPS) é um dos mais jovens prefeitos entre as grandes cidades paranaenses. Foi eleito pela primeira vez em 2012, poucos dias antes de completar 32 anos de idade. Reeleito com mais de 60% dos votos, em 2016, se prepara hoje, aos 37 anos, para tomar uma das decisões mais difíceis de sua carreira: renunciar ao cargo ainda com quase três anos de mandato para se arriscar em uma disputa incerta como pré-candidato ao governo.
Herdeiro de uma família de longa tradição política regional – o avô, Eleição pós-Lava Jato abre espaço para o ‘novo’, diz Silvestri Filho, também foi prefeito da cidade; o pai, Cesar Silvestri, vice-prefeito, secretário de Governo, Indústria e Comércio e da Casa Civil do governo Beto Richa e hoje comanda a Agência Reguladora do Paraná (Agepar); e a mãe, Cristina Silvestri, é deputada estadual – ele se coloca nessa eleição, mesmo assim, como um representante da renovação da política no Estado. E não vê contradição nisso. Até porque, afirma, pretende se apresentar como um nome “novo”, mas com o lastro de experiência administrativa no Executivo.
Na quarta da série de entrevistas do Bem Paraná com os pré-candidatos ao governo, o prefeito de Guarapuava explica porque decidiu se arriscar a trocar um mandato garantido por um eleição difícil e porque acredita que tenha chances, mesmo sendo pouco conhecido, e sem o apoio de grandes estruturas partidárias e políticas tradicionais.
Bem Paraná – Porque o senhor decidiu ser candidato ao governo?
César Silvestri Filho – O determinante, não é uma decisão só minha, uma compreensão também do partido, que o quadro político do Estado repete uma tendência nacional de sinalizar espaço para candidaturas que possam representar um quadro novo, uma alternativa aos nomes mais tradicionais. Isso associado ao fato de ter ligado a essa novidade o lastro de uma administração municipal bem sucedida. Terminei o meu mandato com o maior índice de aprovação entre as maiores cidades do Paraná e fui reeleito também com a maior votação. Então é evidente que o partido se entusiasmou com isso, e ter nesse cenário um nome que leve o resultado de gestão, o estilo de gestão própria, acaba sendo um diferencial. Até porque boa parte dos candidatos que estão sendo colocados não têm um lastro administrativo próprio. Não foram eleitos para o Executivo. Então acaba sendo um diferencial para ocupar esse momento.
BP – O senhor teria que renunciar à prefeitura de Guarapuava em abril, ainda com quase três anos de mandato para disputar o governo, sem qualquer garantia de sucesso. Vale a pena correr esse risco?
Silvestri Filho – Essa é a grande decisão desse processo. Claro que não é uma decisão simples. Mas é o preço a pagar da ousadia para você se inserir no cenário político estadual. Eu sou de uma família de políticos. Mas o fato que nós fazemos política regional. Então essa acaba sendo uma boa oportunidade para você passar a fazer política em outro patamar. Bem ou mal, o mandato no Executivo é que te cria acervo de realizações.
Bem Paraná – Qual a sua opinião sobre o ajuste fiscal implantado pelo atual governador?
César Silvestri Filho – Se você analisar friamente – não avaliando o episódio do confronto (de 29 de abril de 2015 no Centro Cívico). Aquilo lá foi desastroso. Foi um desastre político. Mas olhando as medidas em si, a verdade é que o governo do Estado reagiu a uma crise que era nacional. O que o governo fez foi se antecipar a ela. E se criou uma série de iniciativas que estancou o déficit. Claro que há um custo amargo. Mas acabou criando um ambiente até mesmo para o Estado investir. Então eu não tenho como não reconhecer isso como uma medida corajosa e necessária para o momento. Até porque eu fiz o mesmo. Dentro da minha realidade, o cenário era o mesmo. A crise nacional também me afetou. Se eu não ajo como agi, não teria tido o resultado que tive. Eu consegui imprimir o maior volume de investimentos público da história do município nesses anos de crise. Claro que a gente teve um sucesso melhor na condução das medidas, na capacidade de dialogar diretamente com os servidores, de explicar. Acho que isso foi um diferencial.
BP – O atual governo sofreu grande desgaste em razão do ajuste. O PPS apoiou as medidas. Teme que isso possa prejudicar sua campanha?
Silvestri Filho – Eu tenho a convicção de que foram as medidas necessárias para o momento. E avalio com franqueza como populista qualquer tipo de crítica que repudia as medidas de ajuste, mas ao mesmo tempo cobra uma educação melhor, saúde melhor, investimento em infraestrutura. Como gestor sei que não existe milagre.
BP – O atual governo congelou os salários dos servidores por dois anos, o que incluiria 2019, primeiro ano da próxima administração. Pretende manter essa política ou revê-la?
Silvestri Filho – Eu vou falar por mim. Eu assumi a prefeitura de Guarapuava com um histórico de anos sem reajuste salarial. Estou no sexto ano de gestão. Em todos os anos – mesmo enfrentando a crise – assegurei o reajuste dos servidores. Na medida em que você tem hoje as contas do Estado mais equilibradas, por conta das medidas até que foram feitas, isso vai dar condições para que o próximo governo reveja essas medidas. Se a economia do Brasil continuar reagindo, eu vejo que seguramente é possível se restabelecer essas questões do reajuste.
Bem Paraná – O PPS, nas últimas eleições, não teve candidato próprio ao governo. Apoiou Beto Richa. E o senhor terá que desimcompatibilizar em abril, mas as convenções são em julho. Não teme que nesse período o partido conclua ser melhor uma aliança com outra candidatura?
César Silvestri Filho – No partido está bem resolvido isso. Eu tenho o incentivo e o apoio total do partido. O que para mim é muito claro, que a decisão de renúncia que é determinante para o processo. Tomada a decisão de renunciar ao mandato, a candidatura passa a ser um processo irreversível. Eu não vou deixar três anos de mandato por uma coisa que não é para dar sequência.
BP – O senhor tem se colocado como representante do novo na política paranaense. Mas vem de uma família que está na política há muito tempo. Não é uma contradição?
Silvestri Filho – Não. Não vejo contradição. Em nenhum momento eu falei que represento um candidato outsider, de fora do universo político. O fato concreto é que o meu nome é um nome novo para o quadro político estadual. E esse ao mesmo tempo passa a ser o grande desafio da minha candidatura. Que é tornar o meu nome massificado como meus principais adversários. Eu sou o único político da minha geração que passou pelo voto, já, pelo Legislativo e pelo Executivo. Então é nisso que eu acredito que acaba sendo uma novidade, com um lastro, consistência. Porque eu também não vejo que o eleitor esteja disposto a ir pelo novo, (só) pelo novo.
BP – O senhor é pouco conhecido do eleitorado. A campanha será relativamente curta e o PPS tem pouco tempo na propaganda de rádio e TV. Como pretende superar esses obstáculos?
Silvestri Filho – Eu vejo que a minha candidatura é fruto do momento em que o Brasil vive. Ela parte muito da convicção de que essa é uma eleição em que o comportamento do eleitor vai ser diferente. Essas candidaturas que são fruto de grandes acordos, conchavos, eu acredito que vai gerar um mau humor muito grande no eleitor. E a candidatura que apresentar um nível de independência maior vai acabar sendo legitimada. Se tem uma eleição que tem um ambiente propício para que algo diferente aconteça é essa. Vai ser a primeira eleição pós-Lava Jato. É um ambiente totalmente diferente que pode dar espaço para que algo de novo aconteça. E essa questão de ter uma candidatura com pouco tempo, pouco palanque, pouco dinheiro, não é um privilégio só da minha. Se você avaliar até mesmo os nomes que estão bem colocados nas pesquisas tendem a disputar a eleição praticamente isolados. Se o Beto (Richa) sair do governo e a Cida (Borghetti) assumir, o Ricardo (Barros) vai levar para o palanque dele praticamente todos os partidos que estão hoje cortejando esses outros nomes. É muito provável que tanto o Osmar (Dias) quanto o Ratinho (Jr) também disputem a eleição com pouco de espaço, de tempo de TV.
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