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‘Eleição do marketing’, diz Roberto Romano

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Em entrevista a Marcelo Freitas, do jornal Metro, o professor de ética da Unicamp, Roberto Romano, projeta uma eleição presidencial com poucos projetos e forte influência da propaganda. Para ele, Dilma Rousseff precisa se reinventar, Aécio Neves ser mais combativo e acha difícil Eduardo Campos ser uma surpresa

É possível esperar alguma novidade nas eleições?
As eleições deste ano já trouxeram novidade, que é o fato em não ter repetido aquela distinção entre o PT e o PSDB. A candidatura de Eduardo Campos com a Marina Silva modifica a estrutura do jogo. Além disso, há uma quantidade grande de pequenos candidatos que podem desequilibrar o resultado do partido que receba mais votos: o Pastor Everaldo, a Luciana Genro, todos eles somados podem dar uma diferença considerável no primeiro turno.

Embora haja uma ideologia diferente, os projetos políticos se apresentam bem semelhantes, principalmente sobre a manutenção das diretrizes da economia. Há convergência de propostas?
Se for eleito, Aécio Neves vai manter os pressupostos do Plano Real, adaptado à situação de hoje, enfrentando a
inflação alta e a crise na produção industrial. O Eduardo Campos vai assumir a mesma posição. E a presidente Dilma Rousseff idem. Não existem muitas opções além dessa situação que foi resultante de 12 anos de governo petista. Muito difícil ter uma novidade.

Os gastos excessivos de campanha ainda são um fator de desequilíbrio na disputa eleitoral?
É abissal a distância dos candidatos da oposição e do governo com os candidatos ditos nanicos. Um exemplo é o Pastor Everaldo. Embora tenha o apoio das igrejas evangélicas, ele não vai ter recursos para crescer mais do que 8%. Da mesma forma, a Luciana Genro. As despesas dos candidatos estão se tornando cada vez mais insuportáveis. Vai chegar um momento que será preciso colocar um limite nisso, mas claro que os interesses políticos, econômicos, ideológicos e até mesmo religiosos estão por trás destes gastos, o que é uma coisa preocupante.

O que esperar dos debates: mais apresentação de projetos ou mais troca de acusações?
Nem uma coisa nem outra. O foco será a propaganda. Infelizmente, os debates estão sendo controlados pelo marketing
político — e isso não é um fenômeno apenas no Brasil. De tal modo, o que você pode dizer é que será um confronto de marqueteiros. Não vejo a possibilidade de grandes emoções e apresentação de projetos. Eu acho que os debates serão pautados pela propaganda.

Qual será o papel da internet?
Tem sido cada vez mais importante. A campanha pela Ficha Limpa, por exemplo, conseguiu mobilizar para uma mudança legal. A internet será determinante tanto para o bom quanto para o péssimo, porque haverá uma enxurrada de ataques recíprocos, dos mais baixos, sem que as pessoas assumam as suas responsabilidades. E, do ponto de vista positivo,
o candidato terá a oportunidade de colocar em debate o que a mídia tradicional impede porque o tempo é limitado, o que não acontece com a internet, que tem o tempo mais elástico.

Em 2002, o então candidato Lula defendia a alternância de poder como algo salutar para a democracia e foi bem-sucedido. Essa percepção, com a presidente Dilma Rousseff querendo ter mais quatro anos de governo, hoje se perdeu entre os eleitores?
Eu acho que não. As pesquisas Ibope e Datafolha mostram que os eleitores querem mudança, inclusive na prática
governamental. Esse desejo de mudança também pode ser debitado ao fato da permanência muito longa do Partido dos Trabalhadores no centro do poder. Note que, mesmo com a hegemonia do PT, setores do PMDB e de outros partidos da base aliada estão no plano estadual dando apoio a candidaturas opostas à de Dilma Rousseff.

Durante os 12 anos, a base governista impôs mais derrotas ao governo do PT do que a própria oposição. Aécio Neves, que é o principal candidato oposicionista, terá que adotar uma postura mais combativa?
Com certeza. Eu seria até mais severo. Eu diria que durante os governos Lula e Dilma, a oposição deu muito apoio aos projetos do governo, sobretudo no setor econômico. A estrutura da macroeconomia se manteve a mesma, com ligeiras modificações. Não é que a oposição foi apenas fraca, ela foi conivente com boa parte da política do governo. É um efeito do sistema político brasileiro. O Brasil é aquele país em que é proibido ser oposição, porque senão não conseguirá recursos para seus Estados ou municípios junto aos ministérios. Você manter uma atitude oposicionista radical é uma tarefa heroica.

O candidato Eduardo Campos se apresenta como terceira via. As pesquisas, no entanto, apontam que a campanha dele ainda foi incapaz de absolver os 20 milhões de votos conquistados pela sua vice Marina Silva. Há chances de uma guinada?
Eu não sou pitonisa, mas acho que será muito difícil. Mesmo porque essa aliança foi feita e, em termos estratégicos, não há concordância. Inclusive a Marina, não raro, coloca óbice às alianças que o Eduardo Campos quer fazer. Ele, por sua vez, é um político tradicional do Nordeste, que tem uma posição muito antiga em termos de prática política. E, por isso,
acho que ele não vai modificar muito e não vai conseguir, pelo menos no meu prognóstico, uma situação que o coloque em condição de derrotar os outros adversários.