A economia brasileira vive a pior recessão da História. Em 2016, encolheu 3,6%, após perda de 3,8% em 2015. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é a pior recessão desde 1948, quando começa a série histórica do Produto Interno Bruto (PIB). É a primeira vez em quase 70 anos que o PIB tem dois resultados negativos anuais seguidos, com perda acumulada de 7,2%. As informações são de Daiane Costa, Marcello Corrêa e Kátia Gonçalves n’O Globo.
Pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getulio Vargas, o atual ciclo recessivo, que começou no segundo trimestre de 2014, completou em dezembro de 2016 onze trimestres e já se tornou o mais longo em 35 anos. Ele alcançou a mesma duração da crise do governo Collor(1989-1992), com magnitude superior à crise da moratória da dívida (1981-1983), quando a economia encolheu 8,5%.
A mediana das previsões dos economistas e analistas ouvidos pela Bloomberg era de queda de 3,5% no ano e de 0,5% no último trimestre de 2016. Para 2017, no entanto, as perspectivas são um pouco melhores. Economistas ouvidos pelo GLOBO apostam que o nível da atividade deve ficar entre a estabilidade e uma alta que pode chegar a 0,7%.
Com o recuo acumulado de 7,2%, o PIB voltou ao patamar do terceiro trimestre de 2010, ano em que houve crescimento de 7,5% Os anos seguintes também foram de resultados positivos: 4% em 2011; 1,9% em 2012; 3% em 2013; e uma discreta alta de 0,5% em 2014. Segundo o IBGE, isso significa que a recessão anulou todos esses ganhos. Ou seja, é como se a economia brasileira tivesse parado no tempo.
Considerando apenas o quarto trimestre do ano, a economia caiu 0,9% em relação ao trimestre anterior. O IBGE também divulgou revisões para o desempenho da economia nos últimos trimestres. No terceiro trimestre de 2016, a queda passou de 0,8% para 0,7%. Já no segundo trimestre o recuo passou de 0,4% para 0,3%. Já no primeiro trimestre a perda ficou um pouco mais intensa, de 0,5% para 0,6%. E no terceiro trimestre de 2015 saiu de 1,6% para 1,5%. No quarto trimestre de 2015, por sua vez, a queda passou de 1,1% para 1,2%.
O PIB per capita teve queda de 4,4% em termos reais, alcançando R$ 30.407 em 2016. O PIB per capita é definido como a divisão do valor corrente do PIB pela população residente no meio do ano.
O indicador já acumula queda de 9,1% entre os anos de 2014 e 2016. Embora a economia ainda tenha tido resultado positivo em 2014, não foi suficiente para fazer frente ao crescimento médio de 0,9% da população nos últimos anos. Os anos seguintes, de recessão, intensificaram esse movimento.
Na avaliação do IBGE, a recessão de dois anos se diferencia de outras crises por ser disseminada por todos os setores da economia. A maior perda pelo lado da oferta foi na agropecuária, de 6,6%. Pelo lado da demanda, o pior desempenho foi de investimentos, com recuo de 10,2%.
— Em outros períodos, algumas atividades econômicas davam uma segurada na economia. Agora, nesse biênio, foi uma coisa disseminada na economia toda, o que não é muito comum de acontecer. A gente viu, por exemplo, serviços muito afetados. Os serviços muito ligados à indústria, como parte de carga, sempre foram muito afetados pela indústria. Mas os outros não eram tanto — destaca Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Pela ótica da oferta, em 2016, recuaram a agropecuária (-6,6%), a indústria (-3,8%) e os serviços (-2,7%). O mau desempenho da agropecuária em 2016, de acordo com o IBGE, decorreu,principalmente, da agricultura. A queda de 6,6% da agropecuária é o pior resultado do setor dos últimos 20 anos.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, destaca que, em todas as comparações, as taxas, ainda que negativas, pararam de aprofundar a queda. Na comparação com o trimestre anterior houve estabilidade e nas demais a queda desacelerou:
– Quando vemos o resultado na margem, a queda é bastante parecida com a do trimestre anterior, manteve mais ou menos o mesmo patamar de queda que havia tido no terceiro tri de 2016. E, em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o 4º tri teve um resultado menos negativo, assim como o resultado anual.
A indústria, ao recuar 3,8%, caiu menos do que no ano anterior, quando a retração foi de 6,3%. Este já é o terceiro ano seguido de queda da geração de renda desse componente. No setor, o destaque positivo foi o desempenho da atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana, que cresceu 4,7% em relação a 2015.
– A melhora da indústria em 2016, que caiu menos do que no ano anterior, foi a responsável pelo PIB fechado do ano ter caído menos em 2016, em relação a 2015. Em 2016, foi um ano ruim para a agropecuária devido a quebra de safra por conta do clima. A indústria teve queda
menos ruim do que no ano anterior e os serviços tiveram queda igual ao do ano anterior. A diferença é que em 2014 já tínhamos uma indústria caindo, mas serviços crescendo. Em 2015 tivemos os dois em queda e em 2016 a indústria caiu menos, mas os serviços continuaram no mesmo ritmo de queda e agro virou. Depois de subir em 2015 caiu em 2016 – explica Rebeca.
A indústria de transformação teve queda de 5,2% no ano. Foi o primeiro resultado anual negativo desde 2013, quando havia encolhido 3,2%. A construção sofreu contração de 5,2%, enquanto que a extrativa mineral acumulou recuo de 2,9%, influenciada pela queda da extração de minérios ferrosos. Ambos os segmentos caem há três anos seguidos.
A queda do setor de serviços foi igual a do ano anterior, de 2,7%. Essa é a segunda queda anual seguida.
Dentre as atividades que compõem os serviços, transporte, armazenagem e correio sofreu queda de 7,1%, seguida por comércio (-6,3%) – segundo recuo seguido, menos intenso do que o ano anterior –, outros serviços (-3,1%), serviços de informação (-3,0%) e intermediação financeira e seguros (-2,8%). As atividades imobiliárias variaram positivamente em 0,2%, enquanto que a administração, saúde e educação públicas (-0,1%) ficou praticamente estável em relação ao ano anterior.
Já no setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 1,9%, enquanto que as importações de bens e serviços caíram 10,3%.
— Como já tinha acontecido em 2015, até por conta da dinâmica da economia brasileira, a gente teve uma contribuição positiva do setor externo para o crescimento econômico. A exportação cresceu e houve uma queda das importações de bens e serviços. No ano, apesar de a gente estar tendo uma valorização do câmbio, no ano de 2016, a gente ainda teve uma desvalorização de 4,8%, que ajudou ainda a manter uma contribuição positiva do setor externo — explica Rebeca.
TAXA DE INVESTIMENTO NO MENOR NÍVEL
A piora na economia levou as taxas de investimento e poupança aos menores patamares desde 2010. Os indicadores são importantes para determinar a capacidade de crescimento do país. Em 2016, a taxa de investimento recuou para 16,4%, após ter ficado em 18,1% no ano anterior. Já a taxa de poupança passou de 14,4% para 13,9%.
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