A lista fala mais pelo o que não diz. Aponta quem recebeu propina e esquece-se de quem mandou pagá-las
Mary Zaidan
Pronto. A tão esperada lista dos políticos envolvidos na roubalheira da Petrobras veio a público na noite de sexta-feira. Com algumas estranhezas, como a fartura de 32 integrantes do PP, a relação, de imediato, pouco mexeu na acelerada pulsação do Congresso. Mas a taquicardia por lá, e também no Planalto, continuará fora de controle. Até porque com mais gente na mira abrem-se fartas possibilidades de traições e novas trincheiras para se percorrer a trilha da dinheirama.
Como em qualquer caso de polícia, os caminhos do dinheiro unem os criminosos aos beneficiários do crime – os que mandam executar e nunca sujam as próprias mãos.
Os rastros costumam valer mais do que o número de gente metida na encrenca. Percorrê-los tem sido a obsessão dos investigadores da Operação Lava Jato. E passam a ser agora tarefa primeira das investigações e diligências autorizadas pelo ministro Teori Zavascki, do STF.
A lista fala mais pelo o que não diz. Aponta quem recebeu propina e esquece-se de quem mandou pagá-las.
O PT até ensaiou comemorar a inclusão do tucano Antônio Anastasia (MG), mas não teve fôlego. Afinal, além de dois deputados – José Mentor (SP) e Vander Loubet (MS), e do já enrolado ex-líder Cândido Vacarezza (SP), estão no rol os senadores Humberto Costa (PE), ex-ministro de Lula, o cara-pintada que liderou movimentos Fora Collor, Lindbergh Farias (RJ), e a aguerrida Gleisi Hoffmann (PR), ex-ministra da presidente Dilma Rousseff. Além do ex-ministro e tesoureiro da campanha de Dilma, Antônio Pallocci, hoje sem foro privilegiado.
Collor de Mello, hoje senador, foi o único do PTB, partido de Roberto Jefferson, principal delator do mensalão. Os outros seis são do PMDB, o grupo mais parrudo, com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL) e da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), com ex-ministros de José Sarney, Lula e Dilma – Valdir Raupp (RO), Romero Jucá (RR) e Edison Lobão (MA) -, além do deputado Anibal Gomes (CE) e da ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney.
E os demais partidos da coalizão governista? Ficaram de fora das benesses ou só da lista?
Em um governo que faz o diabo para segurar o poder na unha, é difícil crer que desvios da fenomenal quantia de R$ 10 bilhões da Petrobras, segundo as primeiras estimativas da Polícia Federal, tenham ocorrido apenas para rechear bolsos de uns e outros. Só para se ter uma ideia do poder de fogo e da enormidade disso, a milionária campanha de reeleição de Dilma declarou ter gasto R$ 318 milhões.
Dono da caneta há 12 anos e responsável pela nomeação daqueles que coordenaram as falcatruas, o PT sabe que não tem como esconder que é o maior beneficiário dos desvios na Petrobras. Seja para o partido ou, indiretamente, para aliados.
Com a popularidade de Dilma ladeira abaixo, a economia em frangalhos e pressão intensa interna e de aliados que lhe puxam o tapete, o PT não confia na fidelidade nem dos mais próximos. Todo mundo é um delator em potencial.
E se um dos nossos ou uma magoada Roseana Sarney resolver falar? E se um dos 32 do PP, partido apoiador de primeira hora que lidera a lista, se sentir na berlinda e abrir o bico?
Esta foi só a primeira lista. Inclui apenas a Petrobras e as primeiras delações. Outras virão, com a construção da usina de Belo Monte encabeçando o rol. Nelas, os beneficiários dos crimes são por demais conhecidos. Boa parte dos demais
bandidos também.
O mapa do assalto está aí. Basta imprimi-lo.
Mas nada disso terá qualquer valia sem a coragem de se chegar até onde o caminho leva, com punições aos que estimulam e lucram com o crime. Que o Supremo seja supremo.
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