da Folha de S.Paulo
O coronel reformado do Corpo de Bombeiros do Rio Walter da Costa Jacarandá admitiu ontem ter participado de sessões de tortura no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna) em 1970, durante a ditadura militar (1964-1985).
Jacarandá prestou depoimento em uma sessão conjunta das comissões Estadual e Nacional da Verdade.
“Participei de alguns interrogatórios e certamente houve excessos. Choque elétrico, pau de arara, é fato que aconteceram. Na maior parte das vezes o que eu fazia era traçar os perfis dessas pessoas e passava para quem ia interrogá-los”, afirmou o militar.
Jacarandá foi convocado para depor sobre a tortura e a morte de Mário Alves. Militante do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), ele foi levado para o DOI-Codi na sede do 1º Quartel do Exército, na Tijuca.
Antes, o major ouviu pessoas que disseram ter sido torturadas por ele, como o advogado José Carlos Tórtima e o professor Paulo Sérgio Paranhos. Tórtima disse que Jacarandá foi “até corajoso” de comparecer à sessão e pediu que ele revelasse o que aconteceu no DOI-Codi em 1970.
“Não me lembro” foi a resposta mais usada por Jacarandá durante a hora e meia que foi interrogado.
Outros três militares convocados para depor sobre o caso não compareceram. O advogado Rodrigo Roque justificou a ausência de Duleme Garcez, Luiz Mário Correia Lima e Roberto Duque Estrada: “Os três prestaram depoimento a esta comissão pelos mesmos fatos. Eles respondem pelo desaparecimento do Mário Alves na Justiça”.
Jacarandá disse que foi para o DOI movido pelo espírito de “aventura”: “Era paraquedista e queria entrar nesta guerra. Nunca tive cor política e continuo não tendo”.