Estelita Hass Carazzai, Folha de S. Paulo
Fazia poucos minutos que a primeira-dama do Paraná, Fernanda Richa, havia deixado o bairro do Parolin, na periferia de Curitiba.
Ela acabara de liderar uma caminhada pela reeleição do marido, o governador Beto Richa (PSDB), que está em primeiro lugar nas pesquisas. “Ela já foi?”, lamentou uma mulher, depois de perder a comitiva. “Queria dar um abraço nela. Só para não perder o costume.”
Após pedir exoneração do posto de secretária da Família em agosto, Fernanda tem se dedicado integralmente à campanha à reeleição do tucano.
Bem articulada e popular, ela se tornou uma “dublê de Beto”, político de estilo mais reservado e menos espontâneo. Ele continua exercendo o cargo (se licenciará na próxima semana para se dedicar à campanha na reta final), e ela se firma como seu principal cabo eleitoral.
Na caminhada acompanhada pela Folha, abraçou moradores como velhos conhecidos e recebeu flores. Fernanda discursa de improviso e faz piadas. Mesmo sob sol forte, não usa óculos escuros [“É impopular”, diz].
“Eu nunca vi! A mulher de um governador, rica, poderosa, se dar assim com todo mundo”, dizia a dona de casa Maria Aparecida Vieira, 64.
Fernanda é filha de banqueiro. Seu avô fundou o banco Bamerindus, depois comprado pelo HSBC. Estudou em escolas de moças na Suíça e na Inglaterra.
Ela diz que aprendeu com a família a ser solidária logo cedo: seus pais a faziam visitar comunidades carentes. Na campanha, sua agenda é concentrada na periferia, onde se popularizou ainda como primeira-dama de Curitiba (2005-2010).
Na ocasião, aproximou-se de líderes comunitários. Alguns deles viraram comissionados da prefeitura e depois, do Estado. “Não há problema algum nisso. É uma oportunidade de troca muito interessante”, argumenta.
Em Curitiba, criou um programa que monitora famílias em situação de pobreza e dá, além de auxílio financeiro, capacitação profissional e acesso à saúde, habitação e educação. Cita estudos que apontam redução de 65% da pobreza na cidade.
‘SUPERSECRETARIA’
No governo, o projeto virou o Família Paranaense. Richa juntou as atribuições de três secretarias e deu o comando a ela. “Meu marido não criou uma supersecretaria, me deu um supertrabalho”, afirma.
Há quem entenda que Fernanda tem uma forma tradicional e personalista de fazer assistência social –e política. “Ela pegou uma política nacional de assistência e deu uma grife”, afirma a professora de serviço social da PUC-PR, Maria Izabel Pires.
Para ela, a forma como o projeto se estrutura cria a imagem de um governo [e de um governante] bondoso, benevolente–e não de algo que é de direito do cidadão. Nas caminhadas, Fernanda costuma anotar os telefones de quem está em dificuldade e promete ajudar.
Faz eventos, com palco e discursos, para distribuir cobertores [num deles, na campanha passada, foi multada pela Justiça Eleitoral por pedir votos ao marido]. Para Fernanda, os eventos são uma forma de prestar contas à sociedade. “O tribunal pode me questionar do avesso. Tenho muita tranquilidade de que não errei.”
Ela defende que a essência de sua ação é dar independência às pessoas. Ao fazer campanha para o marido, Fernanda também forja seu trajeto rumo às urnas. Seu nome volta e meia é aventado para ocupar a Prefeitura de Curitiba.
“Talvez um dia eu seja. Seria um cargo com a oportunidade de fazer coisas muito boas.” O grupo político de Beto, que comandava a cidade havia 24 anos, perdeu o posto na última eleição, em 2012.
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