O ex-ministro José Dirceu ficou calado durante depoimento à CPI da Petrobras na manhã desta segunda-feira em Curitiba. O depoimento de Dirceu, apontado pela força tarefa da Lava-Jato como um dos líderes do esquema de corrupção da Petrobras, durou menos de quinze minutos e frustou membros da comissão. O Ministério Público Federal decide esta semana se irá denunciar ou não o ex-ministro, que é acusado de ter recebido propina por meio de falsas consultorias prestadas a empreiteiras investigadas. O ex-ministro nega. As informações são d’O Globo.
Preso em Curitiba desde o dia 3 de agosto, Dirceu estava visivelmente abatido e desconfortável com a situação. Mais magro do que quanto foi preso no dia 3 de agosto, o ex-ministro ainda tentou tentou mostrar um sorriso ao cumprimentar os parlamentares da mesa, mas a simpatia durou até os primeiros questionamentos.
Os deputados tentaram provocar o ex-ministro para que ele falasse, mas não deu certo. Bruno Covas (PSDB-SP) questionou se parte do faturamento de R$ 34 milhões da consultoria do ex-ministro, a JD, teve origem no esquema de corrupção da Petrobras.
O deputado delegado Waldir (PMDB-GO) chegou a indagar o ex-ministro se ele se considerava “ladrão do dinheiro do povo brasileiro”, numa referência ao grito “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”, pelo qual ele é saudado por petistas em eventos. Mesmo assim, Dirceu manteve a sua posição de não falar.
No início da sessão, o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), havia oferecido ao ex-ministro a possibilidade de realizar uma sessão fechada da comissão para ele se sentir mais à vontade para falar. A oferta, porém, foi refutada.
– Seguindo orientação de meu advogado, permanecerei em silêncio – respondeu repetidamente o ex-ministro.
A petista Mario do Rosário (RS) chegou a defender Dirceu. Disse, durante a sessão da CPI, que deixar o ex-ministro preso por quatro semanas sem chance de prestar depoimento à Polícia Federal representa um “desapego aos princípios fundamentais da democracia”.
Na saída do depoimento, o advogado de Dirceu, Roberto Podval, afirmou que pedirá à Justiça que o ex-ministro seja transferido da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba. Podval também considerou a CPI desnecessária.
– Talvez a CPI tenha sido desnecessária na medida em que ela está atrasada em relação a investigação. Normalmente, na maioria das vezes, se tem uma CPI antes e aqui a CPI está vindo depois, então é difícil colher dados em uma CPI quando a investigação está aí, mas pessoas já estão presas. Fica difícil a CPI trabalhar pelo próprio tempo das coisas – explicou o advogado.
Podval afirmou que José Dirceu também ficará em silêncio no depoimento que deve prestar à Polícia Federal na tarde desta segunda-feira. De acordo com o advogado, a defesa ainda não teve acesso a todos os elementos dos autos. A PF tem até amanhã para entregar o relatório sobre a prisão do ex-ministro.
– Não tem como ele depor sobre uma acusação que foi feita com base numa delação sem que eu tenha acesso a delação – afirmou Roberto Podval.
Segundo o Ministério Público Federal, Dirceu “repetiu o esquema do mensalão”, e participou do esquema de corrupção da Petrobras desde a época em que era ministro da Casa Civil do governo do ex-presidente Lula. Além disso, Dirceu foi “instituidor e beneficiário do esquema da Petrobras”, mesmo durante e após o julgamento do mensalão.
OUTROS DEPOIMENTOS
Ainda nesta segunda-feira foram ouvidos pela CPI João Antônio Bernardi, funcionário da empresa Saiopem, Otávio Marques de Azevedo, executivo da Andrade Gutierrez, Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras e Elton Negrão de Azevedo, também executivo da Andrade Gutierrez. Todos permaneceram em silêncio durante seus depoimentos, apesar da provocação de alguns deputados.
A comitiva de deputados deve ficar na cidade até quinta-feira para, além de ouvir os presos, fazer acareações entre eles. As sessões serão realizadas às 9h, no prédio da Justiça Federal e serão abertas.
Esta é segunda vez que os parlamentares vão à capital do Paraná para ouvir investigados que estão detidos na cidade. A primeira vez foi em maio, quando foram ouvidos presos como o doleiro Alberto Youssef e Mário Goes, empresário acusado de ser um dos operadores do esquema de corrupção.
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