Na primeira eleição presidencial a ser disputada sem doações de empresas, a disputa por dinheiro provoca uma crise no PT. Numa resolução aprovada na semana passada, o partido decidiu que a prioridade na distribuição dos recursos do fundo eleitoral, estimados em R$ 210 milhões, será das campanhas presidencial e a deputado federal. Candidatos a governador e a deputado estadual ficam no fim da lista. As informações são d’O Globo.
“Os recursos do fundo eleitoral não serão suficientes para financiar todas as candidaturas no nível que o partido gostaria”, afirma o texto, que provocou mal-estar no partido. Criado no ano passado, o fundo eleitoral destina cerca de R$ 1,7 bilhão de recursos públicos para os partidos financiarem seus candidatos. Doações de pessoas físicas são permitidas, assim como o autofinanciamento.
Diante da realidade, o PT prioriza, em primeiro lugar, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Em segundo, vêm as campanhas a deputado federal, “priorizando os candidatos à reeleição e aqueles com viabilidade eleitoral, conforme avaliação dos diretórios estaduais, referendados pelo diretório nacional”. Os candidatos ao Senado vêm em terceiro.
O foco na Câmara é estratégico. Manter a quantidade de parlamentares é fundamental para o futuro: menos deputados federais significa menos tempo de televisão nas próximas disputas e menos recursos dos fundos partidário e eleitoral.
O teto de gastos da campanha presidencial, se houver segundo turno, é de R$ 105 milhões. Como o PT tem 57 deputados federais e deve dar R$ 1 milhão a cada um, os postos prioritários podem ficar com mais de R$ 160 milhões, o que deixaria apenas R$ 50 milhões para as campanhas de candidatos a senador, governador e deputado estadual. Os valores exatos serão definidos em abril.
— A prioridade para a campanha do presidente Lula ninguém contesta. O problema é deixar os governadores e deputados estaduais de lado. Temos 150 deputados estaduais, que são fundamentais para levar o partido aos pequenos municípios. O PT pode perder penetração nesses locais — diz o secretário-geral, Romênio Pereira, um dos que votou contra a resolução, aprovada na Executiva por 17 votos a 2.
Em São Paulo, a situação é difícil para o pré-candidato do PT ao governo, Luiz Marinho. Além de a campanha a governador estar em quarto na lista de prioridades financeiras do partido, ele vai enfrentar o prefeito da capital, João Doria (PSDB), que colocou R$ 4,6 milhões do próprio bolso na campanha de 2016. E nem mesmo entre os candidatos a governador do PT Marinho terá preferência. Pela resolução, a prioridade será dos cinco estados que a legenda já governa — Minas, Bahia, Ceará, Piauí e Acre.
O tesoureiro do PT, Emídio de Souza, minimiza a divergência:
— Todos os cargos em disputa receberão algum tipo de ajuda, mas é evidente que temos prioridades. É natural que alguém se insurja contra ela (resolução).
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