Folha de S.Paulo
Em 22 de agosto de 2013, com o dólar cotado a R$ 2,44, o Banco Central anunciou aquele que se tornaria o maior programa brasileiro de intervenções no câmbio. Três anos depois, o BC acumula perda de R$ 86 bilhões, o equivalente a três anos de pagamentos do Bolsa Família.
O valor considera apenas o custo do seu principal instrumento de ação nesse mercado, os contratos de “swap” (troca, em inglês) cambial.
Oficialmente, a política do BC visa oferecer proteção e liquidez ao mercado de câmbio. No primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, no entanto, a ação do BC foi vista por muitos economistas como uma tentativa de segurar a alta do dólar para ajudar no combate à inflação.
Nesse contrato, o BC oferece proteção contra oscilação da taxa de câmbio, o que reduz a procura pela moeda estrangeira. Em troca, recebe uma remuneração com base em taxas de juros. Em momentos de forte alta do dólar, o governo perde dinheiro.
Isso começou a ocorrer em setembro de 2014. Daquele mês até o dia 14, o BC perdeu bilhões. O dinheiro é desembolsado de fato e, para pagar a conta, o governo tem de aumentar seu endividamento.
A conta se tornou tão alta que, recentemente, o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) afirmou que esse se tornou o principal fator responsável pelo aumento na despesa pública com juros.
Nas eleições de 2014, economistas ligados a candidaturas de oposição alertaram para o risco fiscal de manter um volume alto de “swaps”. Também defenderam a redução imediata desse estoque.
O BC, no entanto, continuou a elevar a oferta de contratos até o fim do programa de intervenções, em março de 2015, quando esse volume chegou a US$ 115 bilhões. Depois, começou a reduzir o estoque, mas interrompeu essa política no mês passado, quando o dólar bateu R$ 3,50.
VENDER RESERVAS
Uma crítica ao BC é que seria possível atuar no câmbio pela venda de dólares. Hoje, o país tem US$ 370 bilhões em reservas. A manutenção do estoque também tem custo.
O governo descarta usar esses recursos neste momento, pois considera que isso beneficiaria os que querem tirar dinheiro do país, que comprariam a moeda a um custo menor, bancado pelo BC.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que essa posição tem feito com que o mercado respeite o teto informal de R$ 3,50 colocado pelo governo e que não vê a possibilidade de uso das reservas, a não ser em caso de uma disparada de preços em direção ao patamar de R$ 5,00.
O “swap” começou a ser utilizado em 2002, no governo FHC. Naquele ano, houve uma perda de quase R$ 11 bilhões (quase R$ 24 bilhões em valores atualizados).
Sob Lula, o BC chegou a usar o “swap reverso”, para segurar a valorização da moeda. Em quase todo o período, teve mais lucro que prejuízo.
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