A política econômica vai mal. No primeiro trimestre deste ano, as contas externas tiveram um déficit recorde de US$ 24,9 bilhões, equivalentes a 4,31% do PIB. O déficit, que não acontecia desde 2010, se deve a equívocos, que nos preocupam e são considerados pelo governo, como sempre, “de pouco interesse” ao chamado povo. (…)
Apesar disso, Dilma faz gracinhas com as palavras, a exemplo de seu antecessor e inspirador, dizendo que neste país nem se flerta com a inflação. Os fatos a desmentem: o Comitê de Política Monetária do BC decidiu, em reunião no dia 17 de abril, elevar a taxa de juros, de 7,25% para 7,5% ao ano, devido à necessidade de “neutralizar o risco” de disparada da inflação, principalmente em 2014.
Trechos do artigo “A herança é deles”, do empresário Cláudio Slaviero, publicado nesta quinta-feira, 2, na Gazeta do Povo. Leia a seguir a sua íntegra.
A herança é deles
Estou torcendo pela reeleição da presidente Dilma em 2014. E, aliás, sou absolutamente defensor do ditado popular que prevê que devemos pagar tudo que fazemos aqui e agora. O que Dilma e seu partido estão plantando, com a supervisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não é herança que se possa transferir a ninguém, nem a adversários e muito menos a aliados. Ninguém merece.
A política econômica vai mal. No primeiro trimestre deste ano, as contas externas tiveram um déficit recorde de US$ 24,9 bilhões, equivalentes a 4,31% do PIB. O déficit, que não acontecia desde 2010, se deve a equívocos, que nos preocupam e são considerados pelo governo, como sempre, “de pouco interesse” ao chamado povo.
Assim como, segundo o ministro Guido Mantega, o PIB, o “pibinho”, o crescimento medíocre e outros assuntos. Por exemplo: em 2012, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 5,84%, acima da meta perseguida pelo governo, de 4,5%. Neste ano, o Banco Central estima que ela vá subir 5,7%. Em 2014, segundo suas previsões, deve recuar para 5,3%.
Apesar disso, Dilma faz gracinhas com as palavras, a exemplo de seu antecessor e inspirador, dizendo que neste país nem se flerta com a inflação. Os fatos a desmentem: o Comitê de Política Monetária do BC decidiu, em reunião no dia 17 de abril, elevar a taxa de juros, de 7,25% para 7,5% ao ano, devido à necessidade de “neutralizar o risco” de disparada da inflação, principalmente em 2014.
Foi a primeira alta da Selic desde julho de 2011 – quando a taxa subiu de 12,25% para 12,5%. A taxa de 7,25% era o menor patamar histórico da Selic e vigorava desde outubro de 2012.
Enquanto gasta tufos de dinheiro oficial em propaganda partidária, com artistas globais a divulgar programas eleitorais em programação normal de rádio e tevê, e acomoda seus interesses em 39 ministérios, o governo debate-se na eterna dúvida: crescer com alguma inflação ou não crescer? Em março passado, depois de vários anos, alguns setores registraram deflação no país, com alta de preços e crescimento negativo.
Em relação ao PIB, o orçamento oficial deste ano foi elaborado com base numa expectativa de crescimento de 4,5%. Para economistas, ele deve crescer 3%. A estimativa do governo já baixou de 4,5% para 3,1%. Para 2014 não houve mudança e a estimativa continua em 3,5%.
No cenário, medidas pontuais pretendem manter vivo o projeto político de continuidade no poder do PT. Há um número infindável de exemplos, sempre em prejuízo da sociedade, que, em nome do imediatismo, não percebe as consequências. Por exemplo: o governo reduz a conta de luz para a população. Elogiável! Só que, da forma como foi feita, quebra literalmente as empresas! A Eletrobras perdeu R$ 10 bilhões com a medida e teria de demitir cerca de 5 mil funcionários. A nossa Copel tem um prejuízo anual, só de ICMS, de R$ 450 milhões. A Cesp, a Cemig, todas elas, enfim, terão de arcar com os prejuízos em decorrência da medida.
Protecionismo a grupos de apaniguados e dinheiro público farto aos amigos, cessões comerciais, com resultados questionáveis, para países como Equador, Cuba, Irã, Venezuela, Bolívia e Argentina, desmoralização das instituições, veto à maior amplitude democrática com a proibição de novos partidos que poderiam ameaçar a reeleição, ameaça de controle da mídia, projeto para deter o poder do Ministério Público, manobras para evitar cadeia para os mensaleiros e seus ideólogos, tentativa de submeter o Supremo Tribunal Federal ao Congresso etc., são infindáveis os exemplos que tomariam cadernos deste jornal com a herança que se constrói nesses dias. Uma herança que ninguém merece. Dilma que continue com ela em 2014.
Cláudio Slaviero, empresário, é ex-presidente da Associação Comercial do Paraná e autor do livro A Vergonha Nossa de Cada Dia.
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