Dilma está no 2º turno, avisa Zé Dirceu
Líder estudantil, exilado, militante, deputado, ministro, articulador político e blogueiro de sucesso. A trajetória de Zé Dirceu, ou José Dirceu de Oliveira e Silva, como foi registrado lá em Passa Quatro (MG) compreende todo o período de transição política do século passado e início do atual, desde quando vivíamos sob ditadura militar, passando pela anistia até redemocratização de nosso país.
Em visita a cidade que o abrigou durante a clandestinidade, Cruzeiro do Oeste, Zé Dirceu participou do aniversário de 31 anos de seu filho, Zeca Dirceu e aproveitou para conversar com a imprensa para explicar seu posicionamento nas eleições do próximo ano. Garante que a ministra Dilma Rousseff já está no segundo turno, o que ele classifica como o “terceiro mandato do PT”. No Paraná, defende a continuidade da aliança com o governo Requião, e vai além, “não posso concordar é dar as costas para o Roberto Requião, para o PMDB”. Confira a entrevista completa.
Qual posição que o PT deve assumir no Paraná, tendo em vista alguns pré-candidatos declarados como o senador Osmar Dias (PDT), o senador Alvaro Dias (PSDB), o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB) e o vice-governador Orlando Pessuti do PMDB?
Zé Dirceu – Acredito que no Paraná como em todo Brasil já existe praticamente unanimidade no partido: o que vai dirigir os palanques estaduais é o palanque nacional. O interesse maior do PT é dar continuidade aos oito anos de governo do Lula e continuidade, chamado terceiro mandato tem um nome: Dilma Rousseff.
Portanto no Paraná, nós devemos seguir essa máxima e o nosso interesse é reunir no mesmo palanque o PMDB, PDT, PSB, PP, PR, PTB. Esse é o nosso interesse e essa é a diretriz com o PT participando dessa coalizão como uma força importante. Agora o que vai acontecer e como isso vai se desenvolver aí a pergunta tem que ser dirigida a nossa presidente Gleisi Hoffmann, às lideranças como Paulo Bernardo, André Vargas, Doutor Rosinha, aos prefeitos como o Zeca Dirceu e outros, tem que dialogar com os nossos deputados federais com o nosso senador Flavio Arns.
De qualquer maneira é muito importante no Paraná consolidar e manter a aliança que temos com o PMDB. Isso que eu tenho defendido. Muita gente tomou isso como uma restrição ao senador Osmar Dias. Não tenho nenhuma restrição ao Osmar Dias. O que eu não posso concordar é dar as costas para o Roberto Requião, para o PMDB. Nós temos que buscar uma aliança com o dois, que para nós é o ideal.
E é isso que eu tenho defendido porque com a candidatura da Dilma, temos uma situação nova no sul do país. No Rio grande do Sul, ela já passou o (José) Serra, em Santa Catarina tende a empatar. E nós precisamos garantir no Paraná e no sul do país um resultado favorável porque nós não viemos bem em 2004, 2006 e 2008 no sul do País – em 2002, sim – é só olhar os resultados eleitorais.
Então precisamos fazer um esforço porque Paraná é muito importante. Acho que essa não é nem a minha opinião é a opinião do diretório nacional do partido e da maioria do PT.
Qual será o seu papel nas eleições de 2010. Muito se fala, inclusive, que o senhor vai coordenar as alianças do PT em todo Brasil?
Zé Dirceu – Eu não coordeno nada, não sou dirigente do PT, não sou parlamentar. Eu sou petista e, evidentemente, sou uma liderança do partido, tenho o meu papel e esse papel é reconhecido na militância do PT em todo Brasil e eu vou ajudar a apoiar. Primeiro, eu todos os anos viajo, esse não é o primeiro ano que eu viajo. Em 2007, visitei 21 estados do Brasil; em 2008, visitei 13 e não visitei mais porque eu fui visitar 15 países o qual eu priorizei que era uma agenda que tinha no exterior. Mas eu já visitei 19 estados vou voltar agora para visitar Pernambuco e vou ainda ao norte do país, Maranhão, Pará, Amapá, e em agosto vou a Sergipe, Goiás e Tocantins. Portanto visitei praticamente quase todo país e depois também tenho que ir ao Acre que não visitei ainda.
O que eu tenho no primeiro momento é que eu fui para defender a candidatura da ministra Dilma Rousseff, o que hoje é desnecessário porque ela está consolidada no PT, e para ajudar nas alianças. O que eu faço é ajudar. Agora quem fala em nome do PT, quem articula é o Ricardo Berzoini que é o presidente do partido e o Zé Eduardo Dutra que é o nosso candidato, os líderes do partido na Câmara dos Deputados, os presidentes dos diretórios regionais, os governadores, os senadores.
Eu procuro colaborar, procuro apoiar e ajudar, mas nem tenho o papel que meus adversários gostariam que eu tivesse que é nenhum. Nem tenho o papel que muitas vezes parece determinante como se eu fosse ainda presidente do PT. Não tenho mais esse papel.
Mas de qualquer maneira acho que posso ajudar muito o PT para consolidar a aliança até porque não há divergência dentro do PT sobre essa aliança. Pode haver em um estado ou outro, dois ou três estados, e na maioria dos estados, o PT hoje tem acordo sobre as eleições de 2010.
Como o senhor analisa o desempenho da ministra Dilma Rousseff nas pesquisas?
Zé Dirceu – Eu analiso com muita satisfação. Até porque ela hoje tem mais de 20% dos votos. Ela tem o voto feminino, o voto petista, o voto do governo, apoio do Presidente e tem o voto dela porque ela começa a se consolidar com uma liderança. E com apoio, o trabalho que temos que fazer, é para chagar a um terço dos votos, que é o que temos no país, até o carnaval do ano que vem. Esse é percentual em que podemos começar a eleição, que será o objetivo nosso, que é possível.
Por quais condições que a ministra pode chegar a pontuar 30 pontos nas pesquisas?
Zé Dirceu – Primeiro pelo governo que fizemos e estamos fazendo. Segundo pelo enfrentamento que demos à crise, que está evidente, e que foram enfrentamentos corretos porque os resultados estão aparecendo. Terceiro pelas propostas que vamos apresentar ao país porque o terceiro mandato do PT será um outro governo.
O presidente Lula governou o Brasil, está no sétimo ano, ele não é candidato quem é candidato é a ministra Dilma e, portanto, haverá um programa para dar continuidade às muitas políticas e para enfrentar problemas novos.
Está evidente que temos problemas que podem ser enfrentados agora. Um exemplo é a questão da juventude. Nós avançamos muito na educação, mas temos que avançar mais na educação, no lazer, na cultura, na inclusão digital e, principalmente, criar mais empregos. Nós criamos onze milhões de empregos nesses quase sete anos de governo e precisamos criar nos próximos quatro anos mais de dois milhões de empregos por ano.
Isso chama a atenção também para outra questão que é consolidar a política econômica e viabilizar um crescimento do investimento do país e um aumento do crescimento para 6, 7%.
E, principalmente, uma mudança de qualidade de crescimento, para agregar mais valor e para isso precisa-se de uma revolução educacional e tecnológica. Nós precisamos fazer grandes investimentos em tecnologia, de informação, espacial, nanotecnologia, bioquímica.
Ou seja, o Brasil precisa dar um salto de qualidade na sua base tecnológica, porque isso aumenta os salários e fortalece o mercado interno. E o país precisa cuidar das cidades, o que está ligado à questão do emprego e da juventude, meio de transporte, saneamento, habitação.
Isso que nós avançamos muito nesses precisa melhorar na questão ambiental e na questão agrícola. Nós temos que combinar esse desenvolvimento agrícola, agricultura familiar, reforma agrária com a questão ambiental.
Temos a reforma política, vamos ter uma melhora da gestão pública em todo o país, uma reforma administrativa, uma reforma do estado Brasileiro, para devolvermos o papel estado no desenvolvimento do país, aos bancos públicos.
Mas é preciso avançar e agora trata-se de discutir um novo programa e acredito que Dilma está no segundo turno. E a questão é vencer as eleições.
Há mais de 30 anos quando o senhor participou do movimento estudantil, tinha um sonho de um governo para mudar o Brasil. E em 2002, o senhor começou a participar desse sonho com o PT. Esse governo que o PT está conduzindo se aproxima daquilo que o senhor sonhava em relação às mudanças pretendidas?
Zé Dirceu – Sim, não tenho dúvida nenhuma sobre isso. Acredito que o governo do presidente lula, o primeiro e o segundo, estão realizando os meus sonhos, as mudanças esperadas. Quando nós ganhamos as eleições, quando saiu o resultado, quando o Serra ligou para o Lula reconhecendo a vitoria do Lula, o Lula me abraçou, nós estávamos em um hotel em São Paulo, e disse que eu não esquecesse que quem estava chegando ao governo com ele era a minha geração e que ele ia ser fiel aos sonhos da minha geração.
E eu acredito nisso, pois minha geração lutou muito pela liberdade. O Brasil foi redemocratizado em grande parte pela luta do Lula, dos metalúrgicos do novo sindicalismo, também do MDB, de muitos intelectuais, dos estudantes, mas muito pela luta do PT, inclusive nas Diretas, na Constituinte. E minha geração, o grande anseio dela, era retomar o projeto de desenvolvimento nacional do país, combater a pobreza e, principalmente, desenvolver o país do ponto de vista educacional e tecnológico, dar ao país uma presença no mundo.
Acredito que as principais bandeiras que tínhamos naqueles anos estão sendo realizadas. Evidentemente que temos uma luta longa pela frente. O nosso país é um país com profundas diferenças sociais, com muita pobreza, muita miséria, muitos problemas de segurança pública, violência. Nós temos um salto ainda para dar em matéria tecnológica. Nós temos problemas graves ainda, fiscais, a máquina administrativa do Brasil ainda precisa de muitos avanços, os problemas do País não estão equacionados e resolvidos, mas estamos no caminho certo e temos as bases e temos condições de fazê-lo.
Isso se expressa principalmente na liderança que o presidente tem no mundo, na popularidade que ele tem em dezenas de países e na presença do Brasil no mundo hoje. E essas últimas semanas foram expressivas com relação a isso: o papel do Brasil no G20, o Brasil como negociador e a força que o mundo mudou para. A China, Índia, Rússia e o Brasil terão papel importante nas negociações que contam.
Quais são as negociações que contam?
Zé Dirceu – As que vão liberar o comércio mundial, colocando fim ao protecionismo.
Por que isso é importante para o Brasil?
Zé Dirceu – O Brasil é um grande exportador de alimentos, um grande exportador de minérios, de tecnologia, de capital de serviços, de manufaturados. Na questão energética, o Brasil é que tem a chave da questão energética porque o Brasil, além de ter uma energia limpa que são as hidrelétricas, o Brasil tem o biocombustivel, tem a biomassa e o Brasil tem o ciclo completo de enriquecimento de urânio. Portanto, uma vez resolvida a questão da segurança das usinas nucleares e do tratamento do lixo radioativo, o Brasil é um país que pode produzir 10, 20, 30% das suas necessidades, além desenvolver energia nuclear para fins pacíficos.
É importante para o Brasil o financiamento do desenvolvimento no mundo, o combate a fome. Um bilhão de pessoas passa fome no mundo por causa da especulação financeira, porque muitos países abandonaram a agricultura familiar, abandonaram o desenvolvimento agrícola, abandonaram a segurança alimentar, abandonaram as reservas. O Brasil não. O Brasil é hoje um exemplo e o país tem um papel importante na questão ambiental porque o Brasil tem a Amazônia, o Brasil tem água, o Brasil é um país privilegiado para produzir alimentos e energia no futuro. Além do que o país tem um papel político na nova ordem internacional que precisa ser redesenhada financeira, economicamente, e de poder.
Se nós analisarmos o que a minha geração lutava e formos olhar o Brasil hoje, nos avançamos muito. Eu me sinto totalmente realizado com a reeleição do Lula e com a possibilidade da Dilma ser a presidente do Brasil. É como se fosse a primeira eleição do Lula, eu me sinto da mesma maneira, com o mesmo entusiasmo, com a mesma energia e com a mesma disposição de ajudá-la dentro das minhas possibilidades que são pequenas.
Mas acredito que, como eu, milhares e centenas de pessoas vão se engajar na campanha da Dilma. E é isso que faz a força que vai elegê-la. Não são só com o apoio dos dirigentes, dos parlamentares. Vamos lembrar que com o Lula, sempre avançamos e com a experiência do Zeca Dirceu, com o apoio da cidadania, com o apoio da juventude, com o apoio das lideranças e formadores de opinião pública, das forças que são progressistas, das forças que querem como empreendedor, como pequeno empresário, como profissional que trabalha, como um empresário que trabalha e vê o país como prioridade.
Vamos lembrar que eu lutei muito para que o José Alencar fosse o vice-presidente do Lula, não foi fácil, a maioria do PT não queria, havia fortes resistências no PT para que o Jose de Alencar não fosse vice do Lula. Ele estava no PMDB e como o PMDB não queria apoiar o Lula, ele foi para o P, de comum acordo conosco. E por fim foi uma das decisões mais acertadas que tivemos porque o empresariado brasileiro entendeu que o PT estava estendendo a mão. O PT que falava em nome da classe trabalhadora, das classes populares, dos camponeses, trabalhadores rurais, da juventude estava estendendo a mão do empresariado brasileiro, para que o Brasil voltasse a crescer, e crescer distribuindo renda, o que é mais importante, crescer fazendo política social. Porque crescer, um pais pode crescer em 10 anos e aumentar a pobreza a miséria. Nós já tivemos experiência disso no Brasil de 1973 a 1983. Ninguém esquece o crescimento que o Brasil teve no lado econômico, como os problemas sociais, ambientais e urbanos, só se agravaram no país, problemas sanitários, de saúde, educação só se agravaram. Agora o Brasil está tendo ciclo de crescimento não só econômico, mas social também. Isso que conta para nós.
Por que o PT ainda não tem um projeto de governo no Paraná?
Zé Dirceu – Acredito que o PT tem condições o Paraná porque o PT governou cidades importantes do Estado e governa cidades – como Cruzeiro do Oeste, e governou bem. Não necessariamente você ganha ou perde eleição porque você governou bem. Os fatores políticos, os fatores regionais, os fatores partidários, contam muito. Às vezes você não tem o sucessor, que é um problema sério. Você governa uma cidade por oito anos, depois o partido, as forças políticas sociais escolhem outro candidato. Também não se governa só com partido e não se faz política só com mandado parlamentar.
É muito importante o bloco social que você organiza, e as ideias, as aspirações e sonhos que você organiza em torno de um projeto político. Se você não mobiliza a comunidade, se você não faz aliança com a comunidade, com as mais diferentes forças, isso se torna complicado. É muito importante em toda cidade você ter um diálogo com organizações não governamentais, com associação comercial industrial e isso que vai consolidando.
Eu acho que o PT tem uma caminhada no Paraná, que capacita o partido, para ser governo no estado, e essa hora deve chegar. Não tem fórmula para isso. É só olhar o que nós já fizemos e o que já governamos. O PT já governou o Mato Grosso do Sul, o Rio Grande do Sul, governa o Acre, já governou o Amapá, eram vice-governadores, mas já governou. O PT, de certa maneira, já governou quase todo o Brasil.
Nós agora temos que quebrar a barreira e governar São Paulo, Paraná e Santa Catarina, que é realmente uma barreira que temos que vencer. Porque se nó não governamos estados importantes, só são governados por outras forças por causa do nosso apoio, que é o caso de Pernambuco, que é governado pelo Eduardo Campos, e o PT tem condições, tem forças para governar Pernambuco, é uma questão de aliança nacional.
Acredito que chegou a hora do PT se preparar para governar o Paraná nos próximos anos. Esse ano até pela questão nacional, a nossa tendência é fazer alianças no Paraná.
De qualquer maneira eu me sinto completamente com o governo do Roberto Requião nesses oito anos. Eu acho que o Paraná deu um salto extraordinário nesses oito anos e quem vem ao Paraná diz isso. Inclusive os adversários do governador sempre dizem. Temos que reconhecer que ele é um bom governador.
O Requião tem o estilo dele, o lado dele de fazer política, como qualquer um tem o seu, mas ele tem sido um excelente governador no Paraná. Além do apoio que ele deu ao presidente Lula em 2002 e 2006, que para nós foi muito importante. Também da maneira dele, às vezes você pensa que o Requião está fazendo oposição, ele está apoiando do jeito dele. Ele é muito critico, muito duro, às vezes. Eu tenho excelente relação com ele já há muitos anos, me considero amigo dele, além de correligionário político, e sei da importância que tem a crítica, porque a crítica dele pode ser dura, mas ajuda.
(por Zé Beto Maciel, Ronildo Pimentel, Luiz Filho, Romário Ferry, Mirella Carvalho e Francisco Vitelli)
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