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Dilma consola vítimas de inundações com a invenção do ‘bote de fibra ótico’

por Augusto Nunes

“Queria dizer o seguinte”, recitou Dilma Rousseff em 17 de junho, no interior do Paraná, a senha que anuncia o começo de mais uma incursão do neurônio solitário pela selva das vogais e consoantes. Depois de sobrevoar a região castigada por inundações, a presidente baixara em União da Vitória para protagonizar a farsa reprisada a cada temporal de bom tamanho: a super gerente jura que vai fazer no ano que vem as obras de prevenção de enchentes que prometeu para o ano passado.

A continuação do palavrório avisou que Dilma mudara o script para comunicar que iria remediar o que poderia ter evitado: “Primeiro, no caso da… da situação… e da… do apoio do Exército e das Forças Armadas, quer dizer, é muito importante na hora… é… não… principalmente na hora do socorro, né? Na hora de você impedir que as pessoas tenham… as pessoas que foram atingidas, que por acaso não conseguem, tão isoladas num edifício e tal, na sua casa, elas possam sair”.

Em seguida, com a mão direita empunhando uma caneta e a esquerda folheando nervosamente um gordo papelório, a oradora decolou rumo à revelação espantosa: “Mas… outra coisa que é importante na atuação do Exército, eu gostaria de dizê, é a disposição de equipamentos. Então o Exército tem aqui caminhões de cinco toneladas, tem botes pneumáticos e o que eles chamam de pontões, que é um bote de fibra ótico”. Isso mesmo: fibra ótico.

Os dicionários garantem que “fibra ótica é um filamento flexível e muito fino (da espessura de um fio de cabelo), constituída por um vidro ótico puro, plástico ou outro isolante eléctrico, sendo o seu principal objectivo permitir a transmissão de informação digital e sinais de luzes ao longo de grandes distâncias”. No Brasil Maravilha, a troca de um o por umas resultou no nascimento da “fibra ótico”, material que se presta à fabricação de moderníssimas embarcações militares.

“A imprensa nunca publica com destaque o que o governo faz de bom”, voltou a queixar-se Lula neste fim de semana. “Parece que só notícia ruim pode ser manchete”. Faz sentido, sugerem as edições dos principais diários do país datadas de 18 de junho de 2014. O Estadão, por exemplo, reservou o alto da primeira página à situação falimentar da Argentina. A Folha noticiou na manchete que o ministro Joaquim Barbosa se afastara de vez do julgamento do mensalão. O Globo destacou o clima de pessimismo decorrente do mau desempenho da Seleção.

Nenhum dos três jornais valorizou adequadamente o que ocorrera na véspera: no interior do Paraná, a presidente da República patenteou a invenção do bote de fibra ótico. Se a proeza foi efetivamente consumada, tornou-se uma candidata e tanto à reeleição. Se só ampliou a coleção de maluquices e fantasias, Dilma é candidata a uma camisa-de-força e a uma temporada no hospício. Em qualquer hipótese, a performance documentada pelo vídeo merecia manchete.