Por Fábio Campana
Os acontecimentos estão rápidos demais. Nem bem recuperamos o fôlego depois de ver a Polícia Federal invadir casas e gabinete de Eduardo Cunha, presidente da Câmara, as casas do senador Edson Lobão, ex-ministro, vasculhar a vida de mais dois ministros do PMDB, além de outras incursões, passamos ao grande espetáculo do Judiciário. Coincidência ou não, todo esse esforço investigativo da Polícia Federal se deu na véspera da reunião do STF para decidir sobre o rito de encaminhamento do impeachment de Dilma Rousseff, que culminou com a leitura do relatório do ministro Edson Fachin, que todos esperavam que favorecesse a presidente.
Qual o que. O relatório de Fachin impôs duras derrotas para Dilma Rousseff, o PT e assemelhados. Manteve a Comissão do Impeachment, acabou com qualquer pretensão do Senado de comandar o processo. Negou o pedido de afastamento do deputado Eduardo Cunha da comissão; argumentou a favor do afastamento de Dilma quando o processo for instaurado na Câmara; e rejeitou a ausência de defesa prévia. A verdade é que Fachin surpeendeu positivamente seus desafetos e seu voto caiu como pedra no estômago dos palacianos.
Isso foi só o começo. O Procurador Geral da República, Ricardo Janot, não se conformou e logo após a sessão do STF, encaminhou novo pedido de afastamento de Eduardo Cunha do mandato e presidência da Câmara. Sem esconder o que sente pelo desafeto, disse que poderia ter pedido a prisão de Cunha. Nova coicidência. Ao mesmo tempo, denúncias contra Cunha pipocavam na mídia, enquanto ele, com a calma de sempre, atribuia tudo a maquinações do governo Dilma contra ele.
Os petistas tentavam compensar as derrotas com a notícia de que a Justiça condenou o ex-governador tucano Eduardo Azeredo a 20 anos e 10 meses de prisão pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro. Foi café pequeno. Não houve nem tempo para prestar atenção aos depoimentos do ex-presidente Lula na Polícia Federal. Inclusive sobre a Lava Jato.
Mas o dia ainda não terminara. Nova bomba estava por vir. O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou, em delação premiada, que pagou US$ 6 milhões em propina ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA). O acordo foi homologado ainda ontem pelo ministro Teori Zavascki. O senador do PT Delcídio do Amaral, preso desde 25 de novembro, também teria sido, segundo Cerveró, destinatário de outros US$ 2 milhões em propinas.
Enquanto tudo isso ocorria na Câmara, no Senado, no STF e no Palácio do Planalto, onde a turma roía as unhas, o PT tentou kevar militantes às uas para girtar pela permanência de Dilma Rousseff. Iniciativa pífia.Em Curitiba, menos de 500 pessoas, em sua maioria da esquerda funcionária, tentou fazer um jogo de cena logo desmoralizado pelas imagens.
O povo, que já não é bobo, perdeu o impulso neste momento de vacas magras. A crise aperta, o salário diminui, o desemprego é uma maeaça real. As agências de rating apontam para o pior. A Fitch Ratings rebaixou nesta quarta-feira a nota de crédito soberana do Brasil de “BBB-” para “BB+”. Com isso, o país perdeu a chancela de “grau de investimento”, espécie de selo de bom pagador. Repete a agência de avaliação de risco Standard & Poor’s, que em setembro rebaixou a nota do Brasil de “BBB-” para “BB+”.
E talvez para completar a imagem de nosso atraso, de nossa ignorância, de nossa condição de país que ainda não superou mediocridades atávicas, a Justiça brasileira determinou bloquear o funcionamento do aplicativo WhatsApp em todo o território nacional por 48 horas. Sem dizer a razão, sem revelar o autor da ação. Uma violência inaceitável em qualquer país civilizado. Mas estamos no país do samba, suor e corrupção. E vamos carregar mais este vexame, mais este opróbrio.
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