“Precisamos ver a história da estrada. Ela já existia e isto não foi considerado quando foi fechada em 1986. Foi uma decisão errada. É como dizer que essa gente não direito àquele caminho”.
A declaração tresloucada é do deputado federal pelo PT, Assis do Couto, ao defender em Foz do Iguaçu, o projeto de reabertura da Estrada do Colono, via de 17 quilômetros que simplesmente dividia ao meio o Parque Nacional do Iguaçu, importante reserva de Mata Atlântica, localizada em Foz do Iguaçu, na fronteira do Brasil com a Argentina.
Couto, que apresentou o projeto na Câmara, participou de reunião de apresentação da proposta no Conselho Municipal de Turismo de Foz do Iguaçu (Comtur). Os pontos defendidos pelo deputado, foram rebatidos por ambientalistas e pesquisadores, informa Fernanda Regina, no portal H2FOZ
Para justificar a ideia “mirabolante”, o parlamentar disse que a estrada, extinta há mais de 11 anos, não será asfaltada, não haverá transito de caminhões e permanecerá fechada durante a noite.
Para a bióloga e ambientalista Anne-Sophie Bertrand, da Rede Verde e Mater Natura – Instituto de Estudo Ambientais a proposta tem base em interesses econômicos e pode trazer sérios danos à conservação do parque. “É necessário que exista uma solução verdadeiramente sustentável para a população local. Estão usando um conceito controverso, pois cortar o parque ao meio vai trazer sérios danos à fauna e à flora local”.
A ambientalista citou como exemplo a alta taxa de mortalidade de animais atropelados que acontecem em estradas desse tipo. “Já temos uma série de crimes ambientas a que precisam ser combatidos, como a extração de palmito e a caça. Os atropelamentos são um grande problema, pois se perdem espécies que são presas naturais e contribui para o desequilíbrio ecológico”, explicou Anne-Sophie. Ela ainda lembrou que o governo federal havia firmado compromisso de não mais abrir a estrada.
Turismo – Um dos argumentos utilizados pelo autor do projeto da Estrada-Parque Caminho do Colono é o incentivo turístico que o caminho pode trazer à região. Ele comparou com o caso da Ruta 101, que corta o Parque Nacional Iguazú, na Argentina. “Boa parte dos turistas vindos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina vêm pela Argentina. O turismo de foz só ganha com a abertura dessa estrada-parque”, defendeu Couto
O presidente do Comtur, Paulo Angeli, que abriu o espaço ao deputado Assis Couto para a apresentação do projeto não comentou o posicionamento da entidade com relação ao assunto, mas explicou que a pauta merece ser debatida e estudada. “Temos uma opinião muito formada com relação ao meio ambiente. É preciso abrir a cabeça”. Ele ressaltou que em turismo existem conceitos de segurança para a visitação de determinados lugares.
Controversias – Em setembro um manifesto chamado “10 fatos sobre a estrada do Colono e o Parque Nacional do Iguaçu” foi lançado por onze instituições, entre elas Greenpeace, SOS Mata Atlântica, WWF e Sociedade de Pesquisa e Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). O documento foi uma tentativa de barrar a aprovação da lei para reabertura da Estrada do Colono.
Durante a reunião de ontem o deputado Assis Couto também apresentou uma cartilha com os “10 pontos sobre o Projeto de Le 7.123/2010”. Nele, são apresentados argumentos para corroborar e defender a aprovação da lei. São eles: A estrada é histórica; O Caminho do Colono foi fechado por um erro do Plano de Manejo do Parque; decisões seguirão o Plano de Manejo; A estrada ainda existe; A estrada e o turismo no Brasil; O combate a crimes ambientais; Estrada-Parque não ameaça título de Patrimônio da Unesco; O projeto regulamenta o uso da Estrada-Parque e Estradas-Parque em todo o Brasil.
Diversos pesquisadores presentes rebateram a cartilha apresentada e sugeriram a apresentação de dados científicos para a necessidade de reabertura da estrada. A botânica Marcela Kropf, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJR) afirmou que o documento trazido pelo deputado continha uma “série de informações equivocadas”. Por exemplo, neste ponto que diz que a estrada não existe mais, sugiro mudar o discurso, pois atualmente no leito da estrada existem muitas árvores nativas, árvores com cerca de três metros de altura”.
A bióloga Anne-Shopie Bertrand também contesta a informação. De acordo com ela, a imagem utilizada na cartilha, onde aparece um trecho da estrada é o caminho pequeno. “Fizeram um recorte do único trecho em que ainda aparece um pouco da estrada. Ela já esta tomada fechada pela mata”, ressalta.
Os pontos que tratam de crimes ambientas, segurança e o turismo também foram alvo de críticas dos que defendem a permanência da Estrada do Colono fechada. O Parque Nacional do Iguaçu é um dos maiores remanescentes do Bioma Mata Atlântica do Brasil.
O PL foi aprovado na Câmara dos Deputados e agora está no senado federal para análise. Uma das sugestões para a continuação do debate surgiu do professor de Direto Ambiental da Unioeste, Julio Cesar Garcia, que propôs audiência pública sobre o tema em Foz do Iguaçu.
Got a Questions?
Find us on Socials or Contact us and we’ll get back to you as soon as possible.