Por Josias de Souza, na Folha Online:
A cada nova frase do deputado Roque Barbiere (PTB) tonifica-se a impressão de que a Assembléia Legislativa de São Paulo é um escândalo à espera de investigação.
As penúltimas declarações de Roque foram feitas nesta terça (4).
Membro do consórcio partidário que dá suporte legislativo ao governo tucano de Geraldo Alckmin, Roque comparou a Assembleia a um camelódromo.
“Isso é igual camelô, cada um vende de um jeito”, disse o deputado, referindo-se aos colegas. “Cada um tem uma maneira, cada um tem um preço.”
Roque fala do milagre –a conversão de emendas orçamentárias em negócios— sem mencionar os nomes dos deputados de pau oco.
Ele afirma “nem com revólver na cabeça” entregaria os malfeitores. “Meu objetivo não é dedurar ninguém, é acabar com a prática.”
Cogita a hipótese de trazer à luz “um caso concreto” quando for inquirido pelo Ministério Público, que abriu investigação sobre o caso.
Roque diz ter conversado sobre o balcão de emendas com um par de auxiliares de Alckmin. Um deles foi o secretário de Planejamento Emanuel Fernandes.
A outra, a subsecretária de assuntos parlamentares da Casa Civil, Rosmary Corrêa. Em nota, o governo estadual desconversou sobre as conversas, negando-as.
O texto anota: “O deputado tem o dever de apontar casos concretos que sustentem suas graves denúncias. Até agora não o fez.”
Alheio ao desmentido, Roque disse ter indicado a Emanuel e Rosmary a ponta do fio da meada.
Insinuou que os camelôs da Assembleia escondem-se atrás de emendas que destinam verbas a localidades onde não amealharam votos.
Citando a cidade de São José dos Campos, reduto político do secretário Emanuel Fernandes, Roque constrói um exemplo hipotético:
“O dia que eu, Roquinho, destinar R$ 1 milhão para para São José dos Campos… Eu nunca fui a São José, nem sei ir. Viu como é fácil controlar? Não precisa eu dar nome.”
Em São Paulo, cada deputado pode pendurar no orçamento anual do Estado até R$ 2 milhões em emendas.
A equipe da Folha cruzou a relação de emendas com o mapa de votações do TSE.
Descobriu-se que pelo menos seis deputados estaduais enviaram verbas para cidades que não lhes deram votos.
São eles: Dilmo dos Santos (PV), Ed Thomas (PSB), Geraldo Vinholi (PSDB), Gilmaci Santos (PRB), Orlando Morando (PSDB) e Vanessa Damo (PMDB).
Pastor evangélico e membro do Conselho de Ética da Assembleia, Dilmo destinou R$ 300 mil para obras nas cidades de Lourdes e Nova Castilho.
Não teve voto em em nenhuma das duas localidades. “Tenho compromisso com o Estado todo”, o deputado alega.
Sem votos em Tarumã, Ed Thomas carreou recursos para a prefeitura local. Alega que a cidade integra a região de Presidente Prudente, seu reduto eleitoral.
O tucano Geraldo Vinholi, ignorado pelos eleitores de Duartina, disse ter carreado verbas para a cidade a pedido do prefeito.
Presidente do PRB-SP, Gilmaci Santos deve sua eleição aos votos que amealhou na capital. Destinou R$ 1 milhão a sete cidades que não lhe renderam um mísero voto.
Por quê? O deputado alega que tinha escritório politico em São José do Rio Preto, cidade em torno da qual gravitam as localidades às quais mandou verbas.
O tucano Orlando Morando usou parte de seu lote de emendas para aquinhoar a cidade de Torrinha, que não lhe deu votos em 2010.
Ele alega que, no pleito anterior, de 2006, amealhara em Torrinha 107 votos. “Estava pagando uma dívida política da outra campanha.”
A pemedebê Vanessa Damo atribui a remessa de verbas a cidades alheias ao mapa de votação a contatos recentes, que produziram “uma nova relação política.”
O denunciante Roque Barbiere não vê nexo nas emendas dissociadas dos votos:
“O deputado não pode destinar emenda para lugar que nem sabe onde fica. Tem algo de estranho nisso.”
De duas, três: ou Roque é maluco ou os colegas são inocentes ou a Assembléia Legislativa de São Paulo é feita de cúmplices.
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