Há não muito tempo todos os holofotes que iluminavam denúncias de corrupção envolvendo empresários miravam no carioca Eike Batista, falido dono do império das empresas X e ex-candidato a homem mais rico do mundo. No ritmo frenético da Lava-Jato, os canhões miraram em seguida para Joesley Batista, marido da apresentadora Ticiane Villas-Bôas e maior produtor de carne do mundo.
Enquanto Joesley e Eike agora cumprem temporada na cadeia, outro empresário que igualmente viu seu império ganhar corpo durante os governos petistas e que manteve Antônio Palocci e José Dirceu em sua folha de pagamento durante um bom tempo pode ser a nova bola da vez.
Carlos Sanchez, novo dono da Globo de Santa Catarina e que já teve o nome mencionado em depoimento do doleiro Alberto Yousseff, pode estar muito perto de entrar na roda, especialmente com a delação do ex-Ministro e seu ex-funcionário Antônio Palocci prestes a ser homologada.
O empresário tem um longo histórico de polêmicas. Abaixo, listamos algumas das principais traquinagens nas quais ele se envolveu.
O perfil e trajetória de Carlos Sanchez, o poderoso novo dono da Globo em Santa Catarina, é muito semelhante ao de Joesley Batista.
QUASE R$ 8 MILHÕES PARA JOSÉ DIRCEU
Sanchez está envolto em polêmicas há bastante tempo. Quando veio à tona a vida nababesca que José Dirceu levava mesmo tendo sido cassado pela Câmara dos Deputados e condenado no mensalão, vivendo supostamente de “consultorias”, Sanchez, dono do laboratório farmacêutico EMS, apareceu como seu principal “cliente”. Apenas para Dirceu, o empresário pagou R$ 7,8 milhões. Não se sabe que tipo de expertise farmacêutica o ex-Ministro de Lula pode ter emprestado ao empresário.
Na época, o jornal O Globo tratou do tema:
SAÚDE? É PRA LUCRAR MUITO!
No mercado, Sanchez é acusado de utilizar métodos pouco ortodoxos para ter atingido e consolidado esta liderança. O empresário Leonardo Meirelles, da concorrente Labogen, também envolvido na Lava-Jato, acusou Sanchez de ser favorecido por um diretor do Ministério da Saúde em um negócio de R$ 134 milhões.
Outra acusação é de que Sanchez teria falsificado documentos para acelerar o registro de genérico do Sigmasporin, usado para diminuir o risco de rejeição a transplantes renais. Em ambos os casos, o empresário afirma ser vítima de armações de concorrentes querendo prejudicá-lo.
A denúncia de Meirelles:
http://www.cljornal.com.br/saude/delator-envolve-bilionario-da-saude-na-lava-jato/
A tentativa de Sanchez de se explicar, jurando que não falsificou nenhum documento, aparece em matéria de 2001 do jornal Correio Braziliense:
http://www.anvisa.gov.br/hotsite/genericos/noticias/2001/181201.htm
AO INVÉS DE ANTIBIÓTICOS, PÍLULAS DE FARINHA
Talvez, dados os efeitos que causou na vida de centenas de pessoas, a maior polêmica de Sanchez tenha sido a distribuição de supostas pílulas de farinha ao invés de anticoncepcional. Três lotes foram recolhidos e pelo menos 200 mulheres teriam tomado as pílulas de farinha. A matéria é do portal G1:
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL175770-5605,00.html
Sanchez já teve outros medicamentos suspensos pela Anvisa após apresentarem problemas. O jornal Folha de São Paulo mostrou que antibióticos da EMS sendo recolhidos, também por baixa qualidade.
Idalina da Silva Pinto Montari teve uma gravidez indesejada quando tinha 40 anos. A foto é de Daniel Santini do portal G1.
CRESCENDO NOS BRAÇOS DO GOVERNO FEDERAL
Não foi a primeira vez que Sanchez buscou a companhia de homens poderosos para acessar os corredores do poder. Em 2002, ainda durante o governo de FHC, ele contratou Jorge Negri, irmão do então Ministro da Saúde, Barjas Negri, para acessar os corredores do poder. Deu certo. Vários gabinetes importantes viram suas portas se abrirem facilmente para Sanchez.
Sua ascensão no mundo empresarial havia sido espetacular. Apenas dois anos depois dos genéricos começarem a ser fabricados no Brasil, Sanchez já era o líder do mercado, com 95 medicamentos sendo fabricados. A segunda colocada, Eurofarma, fabricava 62.
Mas o grande salto viria na era PT, com bênçãos de José Dirceu. Num esquema muito parecido com o utilizado pelos irmãos Batista para crescerem com a JBS, Carlos Sanchez levantou mais de R$ 270 milhões em empréstimos no BNDES. E virou praticamente o dono do setor de genéricos.
Muito antes do Jornalivre, o site O Antagonista já comparava a história de Carlos Sanchez com a dos irmãos Friboi. Confira: https://www.oantagonista.com/brasil/dirceu-generico/
A COMPRA DA RBS-SC: UM VEÍCULO PARA PROMOVER SEUS NEGÓCIOS?
Seu mais recente e igualmente polêmico negócio foi a aquisição dos ativos do grupo RBS em Santa Catarina. De brinde, Sanchez tornou-se o feliz proprietário da concessão de retransmissão da Rede Globo no estado. Chamado de “Hidra” por desafetos, por atuar em negócios tão diferentes entre si quanto o ramo farmacêutico, a compra de usinas eólicas da Odebrecht ou a aquisição de ativos do setor imobiliário, agora o ex-patrão de José Dirceu e Antônio Palocci também tem uma importante rede de veículos de comunicação para chamar de seu.
O modo como gere os negócios deixa claro que ele não vê fronteiras entre suas diversas atividades. Em nota publicada pelo jornalista Roberto Azevedo, da concorrente RIC-Record, informa-se que Sanchez estaria utilizando a gráfica do jornal Diário Catarinense para imprimir bulas dos remédios de sua empresa. Não se pode dizer que o empresário não saiba maximizar o potencial de cada uma de suas empresas.
https://carlostonet.wordpress.com/2016/03/07/maior-cliente-de-jose-dirceu-compra-a-rbs/
Mencionado no último depoimento de Alberto Yousseff como sendo homem do ex-ministro Antônio Palocci e com a delação do próprio Palocci prestes a sair, Carlos Sanchez pode estar prestes a se tornar o sucessor de Eike Batista e Joesley Batista como magnata bilionário da era petista a ter que prestar contas para o juiz Sérgio Moro e para a Operação Lava-Jato.
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