Da Gazeta do Povo:
Paraty, Rio de Janeiro – Curitiba, e não a paradisíaca Paraty (RJ), foi o exemplo de sustentabilidade brasileira dado pelo ex-líder da extinta banda nova-iorquina Talking Heads, David Byrne, em sua participação na Festa Literária que terminou ontem na cidade do litoral fluminense. Amanhã, ele fala sobre seu ativismo pró-bicicleta num fórum de mobilidade no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
“Sei que Curitiba fez mudanças urbanas que influenciaram outras cidades”, disse a jornalistas, apontando que o difícil acesso à sede da Flip agride o meio ambiente. “Todos chegamos após uma longa viagem de carro, e a maioria das pessoas daqui vive do turismo. Não podemos olhar para cá como um modelo para o resto do mundo.”
Sobre o sistema de transporte público curitibano, adotado em cidades como Bogotá, na Colômbia, e Santiago, no Chile, Byrne acrescentou que o espalhamento de ideias leva tempo e muitas vezes parte de países do Hemisfério Sul em direção ao do Norte. Defensor do transporte limpo, ele publicou no Brasil Diários de Bicicleta (Amarilys, 2009).
Ativismo dócil
Byrne não é o típico ativista, com seu jeito dócil e contemplativo. Diz acreditar que as mudanças mais bem-sucedidas crescem de forma orgânica, sem serem traumáticas nem radicais. Em seu livro, ele fala de diferentes lugares por onde passou sobre duas rodas, experiência que ele usa para defender que melhorias no trânsito são possíveis. “Dizemos que Nova York ou os brasileiros nunca deixarão seus carros, mas os dinamarqueses também não queriam, de início, e hoje Copenhague é muito simpática à bicicleta”, conta. Outros lugares por onde ele teve facilidade de se locomover com sua magrela foram Amsterdã, na Holanda, Berlim, na Alemanha, e Ferrara, na Itália.
Já o troféu de pior cidade para ciclistas ele concede a Hong Kong. “Pensamos que, por ser na China, haveria muitas bicicletas, mas eles têm muitas indústrias e bancos. Quando conseguirmos colocar banqueiros sobre bicicletas, aí sim as coisas irão mudar.”
Sobre o conflito entre motoristas e ciclistas, que renderam atropelamentos recentes em Porto Alegre e São Paulo, o músico e escritor disse acreditar em estatísticas que mostram que, à medida que as pessoas usam mais a bicicleta, cai o índice de acidentes, porque os motoristas se acostumam com o ciclista como parte do ambiente.
O ativismo de Byrne começou por acaso, quando ele viajava com a banda e se sentia preso em hotéis e bares. “Levar a bicicleta se tornou uma maneira de manter a sanidade, de me sentir dono da minha vida de novo, e uma forma de explorar as cidades em que estava.” Sem rodeios, ele confessa que a preocupação com o meio ambiente foi um “efeito colateral”.
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