Já é escancarado o estranhamento entre CUT e Força Sindical – hoje nos braços do PDT. Na matéria a seguir, da Agência Carta Maior, a CUT acusa a turma de Gustavo Fruet – leia-se Carlos Lupi e Paulinho da Força e seus prepostos no Paraná – de aparelhar o Ministério do Trabalho. Leia a seguir a matéria
“O Ministério do Trabalho está aparelhado para favorecer uma central sindical”, afirmou, para a Carta Maior, o mais provável futuro presidente da CUT, Vagner Freitas, ao final da 13ª plenária da central sindical, que ocorreu de 4 a 7 de outubro, em Guarulhos. O estranhamento com o ministério de Carlos Luppi (PDT), no cargo desde 2007, está produzindo um discurso mais independente da central sindical em relação ao Executivo federal.
“A CUT não indica ministério porque não tem relação com o governo. Nós somos críticos ao fato de o Ministério do Trabalho ter uma definição claramente favorável a uma central sindical. E nós denunciamos isso publicamente. Isso não significa que nós temos melhor ou pior relação com o governo. Estamos falando especificamente em relação ao privilégio que o Ministério do Trabalho concede a outras centrais sindicais”.
Para Freitas, o aparelhamento do Ministério do Trabalho não deu à Força Sindical inserção na base cutista. Mas, de qualquer forma, isso determina privilégios à central que tem mais cargos no Ministério. “Os sindicatos ligados à Força terão mais possibilidades de serem validados, não por mérito da Força, mas por diferença de tratamento dado pelo Ministério.”
Concorrem a um mandato de presidente da CUT dois candidatos, ambos da tendência majoritária Articulação, mas ainda assim a plenária, com cerca de 600 participantes, manteve-se em clima ameno.
Vagner Freitas, bancário do Bradesco, e Jacy Afonso, do Banco do Brasil, querem suceder a Arthur Henrique, eleito consensualmente em 2006. Freitas é considerado o candidato mais forte da corrente que tem um predomínio histórico e absoluto na entidade. Para tentar evitar que existam duas chapas do mesmo grupo político no congresso, a tendência pretende realizar uma plenária sindical em março a fim de entrar em consenso em torno de um nome.
“Vamos discutir internamente e chegar unificados no congresso”, disse Vagner, que preferiu não explicar a diferença entre as pré-candidaturas a serem votadas no Concut em julho. A entidade ainda está se acostumando a conviver somente com tendências internas do Partido dos Trabalhadores concentradas na Articulação, Tendência Marxista, Articulação de Esquerda, CSD (CUT Socialista e Democrática) e O Trabalho, já que todos os outros partidos romperam com a CUT e decidiram atuar em outros espaços.
Imposto sindicalDebate de pré-candidaturas à parte, a Central aprovou o início de uma campanha publicitária pelo fim do imposto sindical. O tema não é novo. Segundo o presidenciável, a entidade sempre defendeu esta bandeira, sem nunca a ter deixado de lado. A diferença é que em 2008, durante a legalização das centrais pelo governo Lula, os presidentes da CUT, Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), NCST (Nova Central Sindical dos Trabalhadores), CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil) assinaram um acordo para acabar com esse tipo de financiamento.
Os anos se passaram, os trabalhadores continuaram pagando involuntariamente um dia de seu salário em cada mês de março e as centrais arrecadaram cerca de R$250 milhões até 2010. Vagner, que é o atual secretario de Administração e Finanças da CUT, a que mais recebe, responsabiliza as demais centrais por escamotear esse debate. Segundo ele, esse tema separa bastante sua central das demais pelas diferenças na concepção sindical.
O histórico militante e fundador da CUT, Waldemar Rossi, 78, afirma que o fim do imposto sindical mudaria completamente o sindicalismo brasileiro, possibilitando inclusive sua maior politização. “O imposto sindical foi uma das formas que o Getúlio inventou para criar os pelegos tradicionais. Não precisando que o trabalhador se sindicalize, o dirigente sindical não tem nenhum interesse em organizar a categoria para lutar”, diz Waldemar. “Isso gerou um desvio nos sindicatos que passaram a fazer parte do sistema”, completa.
Diante da aprovação da campanha cutista, Waldemar é cético. “É mais pra ocupar espaço na política quando eles estão perdendo espaço nas suas bases”, diz, desconfiado do compromisso real das centrais diante inclusive na campanha pela redução da jornada de trabalho. “Por que eles não organizam uma greve geral para parar o país?”, questiona.
A proposta de financiamento levantada pela CUT é de contribuição negocial, a qual o repasse é feito a partir das negociações coletivas. Enquanto Vagner acredita que este seja um avanço por dar ao trabalhador a possibilidade de “aprovar” ou não o seu sindicato nas negociações, Waldemar não vê novidade, pois todos continuarão pagando, já que a decisão sobre a contribuição não será direta e individual do trabalhador.
No mesmo lugarWaldemar diminui o descolamento entre as centrais, e opina que “o eventual conflito que terá entre eles não altera a sua relação de fundo”. Mas, além de criticar o PDT e sua antiga ambição em dominar o setor, Waldemar afirma que “o fato da presidenta Dilma fazer uma distribuição de ministérios não por competência, e sim por composição política, é a origem desse aparelhamento”.
Apesar da dura afirmação sobre o ministério, o atual dirigente da CUT descarta que haja qualquer alteração na relação com o governo. “A CUT não está mais à esquerda nem mais à direita, está no mesmo lugar”, diz Vagner. Já Waldemar sentencia que “de fato eles não tem interesse em tornar os sindicatos rigorosamente independentes do Estado, dos governos e dos partidos”.
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