A exigência do Tribunal Regional Eleitoral de que os partidos entreguem às emissoras de rádio e televisão, os programas gravados em uma mídia física de alta resolução tornou-se uma ameaça à campanha de candidatos de siglas menores nas eleições deste ano no Paraná. As informações são de Narley Resende no Bem Paraná.
Ontem em reunião no TRE para confirmação da distribuição do horário eleitoral, os representantes dos partidos receberam a informação de que as emissoras de TV recusaram a responsabilidade de enviar os arquivos às filiais no interior do Estado. Os partidos afirmam que não puderam opinar. A assessoria do TRE confirmou que o juiz Ricardo Augusto Reis de Macedo tomou a decisão em razão da falta de consenso entre partidos e emissoras.
O problema, segundo os partidos, é que isso deve gerar gastos significativos, já que cada programa de TV, por exemplo, deve ser gravado em um disco óptico do tipo “XDCAM” e entregue em individualmente em 46 geradoras do Estado. O custo unitário para enviar o disco ficaria entre R$ 100,00 e R$ 500,00, com base preços de mercados de varejo na internet, segundo estimativa dos partidos. Alguns dos discos são regraváveis, mas isso não anularia o gasto logístico para entrega dos programas.
Somente para o governo do Estado, se o partido optar por não repetir, são 24 programas para o período de 30 dias, enviados diariamente, que serão transmitidos três vezes por semana, dois programas por dia de 31 de agosto a 4 de outubro.
Cada um dos programas diferentes terá que ser gravado nesse disco óptico – por ser o formato adotado pelas TVs após a conversão para sinal digital – e deve ser entregue em 58 emissoras repetidoras do programa eleitoral Estado. Além disso, há o custo logístico para entrega dos discos de carro, via correios, por mala-direta ou outro meio pessoalmente.
Há ainda as inserções, que devem ser entregues em mídias separadas por chapa. São quatro cargos em disputa neste ano: deputado estadual, deputado federal, governador e senador.
O PT, por exemplo, que optou por repetir programas da tarde e noite na TV, vai gravar 15 programas para o candidato ao governo Dr Rosinha e 15 para a candidata ao Senado, Mirian Gonçalves. O partido estima gastar R$ 300 mil somente em discos ópticos dos programas da majoritária, fora o custo para entregar nas repetidoras do Estado e dos programas das eleições proporcionais e inserções.
Nuvem – Em Curitiba, a sede do TRE disponibiliza um “pool de emissoras”, que é um local onde várias emissoras de TV se unem para transmitir um único evento regional. Mas as demais localidades do Estado não recebem a transmissão e as emissoras alegam que não podem repassar entre as filiais.
Uma sugestão de diversos partidos, mas que foi ignorada pelo TRE do Paraná por gerar custos ao órgão, foi a transmissão dos programas via internet, por meio da “nuvem digital”. O TRE de Santa Catarina, por exemplo, optou por esse método, em nome do enxugamento de gastos das campanhas. O mesmo foi adotado nas campanhas presidenciais.
‘Não temos esse dinheiro’, diz candidato da Rede
A situação da geração dos programas eleitorais de rádio e TV no Paraná para as eleições deste ano é ainda mais complicada para campanhas que não contam com recursos do fundo eleitoral, como a do candidato ao governo Jorge Bernardi (Rede), que estima gastar no máximo R$ 200 mil captados somente com doações de pessoas físicas e do próprio candidato. “Onde a gente vai arrumar esse dinheiro? Quem roubou dinheiro público tem esse dinheiro, nós não temos”, reclama Bernardi.
A Rede prioriza a campanha presidencial da ex-ministra Marinha Silva e não vai distribuir dinheiro para as campanhas ao governo.
Conforme representantes dos partidos, os integrantes do TRE disseram na primeira reunião que a exigência foi feita pelas emissoras, que não teriam todas os meios necessários para receber os arquivos pela internet.
O plano de mídia da campanha eleitoral no Paraná deve ser concluído após uma segunda reunião, na sexta-feira. A conclusão foi adiada devido à situação do candidato ao governo Ogier Buchi (PSL), que fez o registro da candidatura por conta própria, por não contar mais com o apoio do próprio partido. Na sexta, após definição dessa candidatura, o TRE poderá distribuir os tempos de TV e rádio entre os candidatos. Após isso, será possível estimar os gastos que cada partido terá para reproduzir a propaganda eleitoral.
PT aponta contradição
Para o coordenador de comunicação da campanha do PT do Paraná, Mário Messagi Jr, o método adotado pelo Tribunal Regional Eleitoral para a logística de entrega dos programas de rádio e televisão afeta diretamente as candidaturas com menos recursos. “A decisão do TRE é antidemocrática, porque praticamente inviabiliza as campanhas de menor porte, mais enxutas. O custo adicional é enorme. Fizeram uma reforma eleitoral toda pautada no discurso de diminuir as estruturas de campanha, torná-las mais baratas. A Justiça Eleitoral bate nessa tecla. E isso é louvável. O problema é que hoje de manhã, com uma batida de martelo, esqueceram essa narrativa e colocaram pelo menos R$ 500 mil na nossa conta. Não faz sentido nenhum. Ou você quer baratear as campanhas ou você não quer”, questiona.
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