Rhodrigo Deda
O Coro da Multidão
Nessa segunda década do século XXI, uma janela de oportunidades se abriu para cidades que possuem universidades de ponta, mão de obra qualificada e ambiente urbano acolhedor a novas ideias e pessoas. É a economia criativa, setor que envolve desde atividades como artes, publicidade e moda até a indústria de software e aplicativos para internet. Algumas cidades, como Rio de Janeiro e Tel Aviv, têm conseguido capitalizar seus atrativos para atrair investimentos e prosperar.
Há um mês a Folha de S.Paulo anunciava que o Rio de Janeiro caminhava para se tornar um polo tecnológico. As causas apontadas pela reportagem para o sucesso do Rio era o número de universidades (oito), de parques tecnológicos (sete), centros de pesquisa (20), incubadoras (22). Mas e existência de centros tecnológicos por si só não é suficiente para provocar o círculo virtuoso da economia criativa. É necessário que a cidade propicie um ambiente acolhedor, que estimule os profissionais de alto desempenho a fixar residência. E nisso o Rio não fica atrás. Possui atrativos naturais, mas também desenvolvimento artístico e um ambiente boêmio, mais despojado, fatores que são apontados por especialistas como chave para o sucesso da instalação de ramos promissores da economia criativa.
Em Tel Aviv há cerca de 1.200 companhias de alta tecnologia e outras 800 empresas embrionárias da área tecnológica atuando. Reportagem de O Globo no início do ano mostrava que em apenas 2,6 quilômetros quadrados, em uma área conhecida como “Milha Tecnológica”, uma diversidade de empresários convivem em cafés e pubs discutindo ideias e buscando financiamento para novos produtos tecnológicos. A cidade é reconhecidamente um dos maiores centros de inovação do mundo e possui empresas filiais de grandes empresas como Google, Intel e HP. Segundo O Globo, um terço da população de Tel Aviv é de jovens entre 18 a 35 anos, convive em um ambiente com centros culturais e cerca de 1.700 restaurantes, pubs e cafés.
Rio de Janeiro e Tel Aviv são cidades que estão descobrindo na economia criativa uma estratégia para o desenvolvimento orientado ao futuro. Criaram o ambiente necessário para reter talentos, são cidades acolhedoras para empreendedores e possuem ambiente propício para o desenvolvimento de inovação. São modelos não para serem meramente reproduzidos, até porque cada cidade tem sua vocação, mas deveriam servir de inspiração para os administradores públicos.
Curitiba tem sido palco de diversas iniciativas bem sucedidas. O Festival de Teatro vai para a 22.ª edição. A Oficina de Música de Curitiba já teve dias melhores, mas neste ano completou 31 edições. O Museu Oscar Niemeyer já foi eleito como um dos vinte mais belos do mundo. A população de Curitiba está adotando o espaço público e passou a festejar em conjunto. O bloco Garibaldis e Sacis abriu as festas carnavalescas e a Quadra Cultural, de Arlindo Ventura, o Magrão, irá fechá-las neste sábado, na Rua Paula Gomes. Há universidades, empresas de tecnologia com sede na cidade. Há também grupos de intelectuais em plena exuberância criativa, a revista Lama, a Arte & Letra, o Rascunho, grupos de cinema autoral.
Então o que falta? Até agora não se viu uma política pública consistente que possa aproveitar todo esse emaranhado caótico de iniciativas públicas e privadas que se acumulam. Curitiba tropeçou na economia criativa. Pensou que era uma pedra, mas se olhar bem pode descobrir ouro. Uma política para a cidade não se faz nem da noite para o dia, nem de um mandato para outro. E quando não há uma direção a que se mire, é impossível dizer em que lugar se quer chegar.
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