Ala favorável a aliança repudia “ilações” de defensores da candidatura própria, agravando racha no partido
por Ivan Santos, no Jornal do Estado
Suspeitas de compra de votos por parte da ala do PT favorável ao apoio do partido à candidatura do ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT) à prefeitura de Curitiba abriram ontem uma grave crise na legenda.
O grupo favorável à aliança divulgou “nota de repúdio”, acusando os adversários de promoverem “ilações e denúncias irresponsáveis” que ameaçam “desconstruir” o partido.
Do outro lado, fontes do PT apontam que os defensores da aliança estariam prometendo cargos e até pagando contribuições partidárias de militantes em dívida com a legenda, em troca de votos no encontro municipal marcado para o final do mês, que decidirá a questão.
O apoio a Fruet é defendido pela corrente “Construindo um Novo Brasil”, antigo Campo Majoritário, que reúne os principais caciques do PT paranaense, entre eles a ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e seu marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
Eles alegam que o partido não teria nomes competitivos para disputar a eleição, ao contrário do ex-deputado do PDT, que lidera as pesquisas de intenção de voto.
No campo oposto estão o deputado federal Dr Rosinha e o deputado estadual Tadeu Veneri, que disputam a indicação de candidato próprio do PT a prefeito, e criticam a aproximação do partido com Fruet, apontando que ele sempre foi um crítico da legenda e dos governos petistas. O grupo vem explorando o fato de que o ex-deputado tucano foi um dos principais nomes da oposição ao governo Lula na Câmara Federal, tendo inclusive papel de destaque na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o escândalo do mensalão.
No último final de semana, as duas alas adversárias mediram forças no registro das chapas para o encontro municipal, marcado para os próximos dias 27 e 28. O grupo majoritário de Paulo Bernardo e Gleisi reuniu 1.283 filiados, enquanto a ala de Rosinha e Veneri, defensores da candidatura própria, conquistou o apoio de 684 militantes. Os filiados vão votar, no dia 15, a indicação dos 300 delegados que decidirão, no final do mês, entre as duas teses.
Pelas regras da disputa, só poderiam votar militantes que estivessem em dia com as contribuições partidárias. Segundo fontes da legenda, porém, muitos filiados que estavam em dívida com o partido teriam sido registrados mesmo assim. Além disso, o grupo favorável à aliança teria bancado o pagamento dessas contribuições para garantir mais votos.
Na nota divulgada ontem, a ala pró-Fruet manifesta “indignação” e “repúdio à forma destrutiva com que militantes de pensamento contrário (…) têm se posicionado na imprensa e por meio das redes sociais da internet para defender sua visão de organização partidária”. O grupo lamenta ainda “o ponto em que chegou o debate interno de forças que divergem da avaliação que temos sobre a construção de uma aliança forte e competitiva em torno da candidatura do pedetista Gustavo Fruet”.
De acordo com a nota, “é inaceitável que se confunda essa diversidade de ideias com a autofagia ou com a manifestação de ilações e de denúncias irresponsáveis, pois isso só serve à desconstrução do próprio PT”.
O texto aponta ainda que estaria havendo “agressão e desqualificação” de lideranças defensoras da aliança, o que “só favorece às forças de direita que querem ver nossa legenda enfraquecida”. A nota, assinada por doze militantes petistas, não esclarece quais seriam essas acusações ou “ilações” a que o texto se refere.
Resistência – O deputado Tadeu Veneri disse desconhecer os motivos que levaram os partidários do apoio a Fruet a divulgar a nota. Para o parlamentar, quem estaria promovendo a desconstrução e desqualificação do PT seria justamente os principais líderes da ala adversária, ao afirmarem publicamente que o partido não teria nomes competitivos para disputar a eleição com candidato próprio.
“Se tem algo que está acontecendo é o desrespeito constante de pessoas afirmando que um candidato do PT não faria nem 5% dos votos, ou de vereadores declarando apoio ao Fruet antes mesmo do encontro municipal do partido”, rebate.
Para Veneri, a reação da ala majoritária seria um sintoma do temor da derrota na disputa interna. “A possibilidade que temos de ganhar é muito grande. “Quem estava muito seguro agora começa a arrumar desculpas”, avaliou.
Segundo o deputado, os defensores do apoio a Fruet subestimaram a resistência da base do PT à aproximação com o ex-tucano. “O Fruet passou a maior parte de sua vida pública construindo uma relação de oposição ao PT e a tudo que o PT representa. Não dá para passar uma borracha em cima disso de uma hora para outra”, considera.
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