Em entrevista em seu escritório da sede da fundação que leva o seu nome, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou sobre a especulação em torno do nome do prefeito de São Paulo, João Doria, para disputar a eleição presidencial de 2018 pelo PSDB. Também comentou as movimentações do Congresso para anistia ao caixa 2 de campanha e disse ter sido mal interpretado quando defendeu que doações por fora em campanhas eleitorais não é necessariamente crime.
O senhor voltou atrás na afirmação de que caixa 2 não era crime, mas um erro. Pegou mal dizer que era preciso separar o joio do trigo?
Não é que pegou mal, me entenderam mal. Eu disse aquilo de propósito porque estavam usando o Aécio (senador Aécio Neves) e não era verdade o que falavam dele (Benedito Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, teria dito que a empreiteira doou R$ 9 milhões em caixa 2 em 2014 a pedido de Aécio). Eu disse que tinha que separar os diferentes delitos. Uma coisa é dar um tiro, outra é dar uma surra. O toma-lá-dá-cá é que separa o caixa 2 puro da corrupção. Deixa a Justiça decidir. Não sou eu nem o Congresso.
Ministra posicionou-se a favor da redução do foro privilegiado Em vídeo, Cármen Lúcia comenta a Lava-Jato: “vai mudar o Brasil se os brasileiros mudarem com ela”. O ex-presidente Fernando Henrique CardosoFH defende PSDB de acusação sobre caixa 2 e reclama da imprensa
O problema é que sua afirmação passou a ser usada por políticos suspeitos e investigados na Lava-Jato. O momento é tão tenso que as pessoas estão loucas pra te pegar com alguma coisa. A punição já existe (para corrupção e caixa 2). Pra quê fazer nova lei? Não vai acontecer anistia. Se o Congresso fizer, o Temer tem que vetar.
Como viu o bate-boca entre o ministro Gilmar Mendes e o procurador-geral Rodrigo Janot?
Não acho bom um debate público entre as instituições. No processo de amadurecimento das instituições tem certas fases que vão longe demais. Tem que segurar.
É a favor do projeto de abuso de autoridade?
Nesse momento isso vai soar como se fosse para controlar. Num momento mais calmo tem que analisar.
O senhor concorda que qualquer mudança no sistema político já seria uma melhora?
De jeito nenhum. Sempre pode piorar. Eu defendo que o Congresso aprove até setembro, que é o prazo para valer para a próxima eleição, o fim das coligações proporcionais e adoção da cláusula de barreira. É o que está na mão. O resto não vai passar.
O prefeito João Doria é o nome mais competitivo do PSDB para 2018?
Não sei. Ele está começando e disse a mim, insistentemente, que o candidato dele é o Geraldo (Alckmin, governador). Doria não é o único. Tem vários que são (competitivos). Acho tudo prematuro. Não por ser o Doria, que é prematuro obviamente porque ele tem um mês de governo, mas é outra coisa: não se sabe o que vai acontecer com o conjunto de políticos com a Lava-Jato. Quem fica em pé?
‘Do jeito que está, o foro privilegiado é um abuso’
– FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Em entrevista ao GLOBO
O discurso “sou gestor não sou político” pode dar resultado também na eleição presidencial?
Quando o Doria fala isso está tocando num nervo que é sensível hoje, que as pessoas querem resultado. Está respondendo a essa angústia. Ele não é só gestor, é político também. O Brasil está cheio de bons gestores e nem todos viram líderes. O importante na política é ser líder. Liderança você constrói e leva tempo. Para governar, tem também que ter credibilidade. Isso não é igual a popularidade. Credibilidade é ser aceito pelos setores organizados da sociedade, movimentos sociais, Congresso, setores da economia, universidades. É muito difícil governar.
Um ano e meio à frente da Prefeitura de São Paulo é suficiente para construir essa liderança?
Não. Mas pode dar voto.
Concorda que Aécio já não é tão competitivo como era em 2014?
Se olhar as pesquisas, é verdade.
O que deve ser prioridade na reforma da Previdência?
Idade mínima e tem que fazer uma regra de transição.
Como viu o projeto de terceirização?
Sou favorável. Pode debater o que quiser, mas a realidade é assim. Infelizmente, você não tem como mudar.
O senhor acha que foro privilegiado tem que acabar?
Do jeito que está é um abuso. Mas algum tipo de foro tem que ter. Se o sujeito faz um discurso, não pode ser processado. Mas se matou ou roubou, não é foro.
Acredita que haverá mudança?
Só se o Supremo interpretar (a constituição). Por que (no Congresso) é difícil?
A fragmentação partidária chegou a um ponto tal que não tem mais maioria. Já no meu tempo fazer a maioria era difícil, imagina hoje. Esse sistema político não funciona mais. Esgotou.
Deixe um comentário