Uma fala da médica Nise Yamaguchi sobre “vacinar aleatoriamente” exaltou ânimos na CPI da COVID em sessão nesta terça-feira (1º). Ela afirmou que nunca foi convidada para ocupar o Ministério da Saúde e ainda defendeu a “eficácia” do “tratamento precoce”.
Houve tumulto durante a sessão desta terça-feira (1º) da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia da COVID-19, que recebeu a médica Nise Yamaguchi, considerada defensora da cloroquina, da imunidade de rebanho e do “tratamento precoce”.
Na quinta semana de apurações da CPI, a especialista em imunologia e oncologista foi questionada sobre a defesa que fez nos últimos meses em relação ao uso da cloroquina e diminuição da importância da vacina. As falas dela foram mencionadas e transmitidas em áudio e video ao longo da sessão.
Os ânimos dos parlamentares presentes ficaram exaltados depois que foi mostrado pelo relator, Renan Calheiros (MDB do Alagoas), um vídeo no qual a médica disse que não era necessário vacinar “aleatoriamente” a população.
Confrontada com o vídeo, a profissional disse que não discordava de sua fala no vídeo, causando confusão e posicionamento dos presentes que criticaram a fala de Nise Yamaguchi por estar sendo transmitida para “milhões de pessoas” naquele momento pela TV Senado.
Na quinta semana de apurações da CPI da Covid, a médica Nise Yamaguchi foi convidada para depor, no dia 1º de junho de 2021
O presidente da CPI Omar Aziz (PSD do Amazonas) pediu que a população não acreditasse nas palavras dela após a transmissão, e enfatizou que todos os brasileiros precisam se vacinar para que a pandemia acabe.
“A doutora Nise, com essa voz calma, tranquila, é convincente. Peço que desconsiderem o que ela está dizendo em relação à vacina”, enfatizou Aziz. “O brasileiro precisa de duas [doses] de vacina. A vacina salva”, completou o presidente da mesa.
Segundo as apurações, a médica teria atuado como conselheira do governo ao longo da pandemia e poderia ter incentivado a ausência de resposta às propostas de venda de vacinas da Pfizer no ano passado, por defender a imunidade de rebanho, mas Yamaguchi negou. A médica se defendeu e disse que divulgou o uso de máscaras em suas redes sociais e que se baseava em fatos científicos para dar suas “opiniões técnicas”.
Yamaguchi se contradisse quando primeiramente negou ter participado de reuniões do Ministério da Saúde, mas depois confirmou ter estado presente em alguns encontros como “convidada eventual” de debates. Ela, porém, não explicou exatamente por quem era convocada para as reuniões em Brasília.
Ela afirmou nunca ter tratado com vereador (RJ) Carlos Bolsonaro e que conversou pouco com Osmar Terra, médico e deputado pelo Rio Grande do Sul. Sobre o presidente Jair Bolsonaro ela declarou que em nenhuma ocasião foi convidada por ele para ser ministra da Saúde.
“Ele [Bolsonaro] queria saber o que tinha de dados científicos da hidroxicloroquina”, explicou a médica sobre seus contatos com Bolsonaro.
Sobre a mudança da bula do medicamento, a oncologista disse que não houve tal proposta, contrariando evidências.
“Deixei bem claro que eu jamais escreveria uma bula por decreto”, alegou Nise Yamaguchi.
A médica desviou de perguntas a respeito do posicionamento de Bolsonaro a favor do medicamento e a apresentação da caixa do remédio em suas lives na internet. Já sobre tratamento precoce para a COVID-19 ela foi direta.
“Eu sou a favor do distanciamento social, do uso de máscara, das vacinas e sou a favor também do tratamento precoce”, destacou na reta final da sessão e ainda anunciou que existem estudos que devem ser apresentados em dezembro que comprovam a eficácia do uso da hidroxicloroquina, mas não deu detalhes de quais estudos seriam esses.
Diferentemente dos ouvidos até agora na CPI, Yamaguchi foi apenas convidada, e não convocada oficialmente para a sessão desta terça-feira (1º). Aziz sugeriu, durante a sessão, que ela fosse novamente prestar depoimento, porém como convocada oficial. A sugestão foi apoiada por outros membros da comissão.
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