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Covid-19: Segundo cálculo de especialistas Foz pode ter quase mil infectados

Segundo um estudo da USP – Universidade de São Paulo, o país seria o epicentro mundial da doença, superando até mesmo os Estados Unidos, que até agora são o epicentro da doença. Informações GDia.

O resultado do estudo repercutiu em todas as cidades brasileiras e se tornou conteúdo da imprensa internacional. Em Foz do Iguaçu, as autoridades sanitárias tentam avaliar as condições regionais e os atuais patamares no combate ao covid-19. 

No Paraná, é uma realidade que o número oficial do estado, não confere com o das cidades, e em certos aspectos, isso acaba diminuindo a quantidade de casos. O desencontro dos números, causa um fator de depreciação, que pode agregar um custo muito alto no decorrer do tempo, porque isso significa vidas.

Foz do Iguaçu, o correto é dizer que se vive uma bolha, onde há um aparente controle, o que possibilita um projeto de flexibilização por parte da administração pública. Isso se baseia em buscas ativas na apuração dos resultados, mas dependendo pode mudar.

Para o médico Luis Fernando Zarpelon, coordenador médico do enfrentamento da COVID-19, com a ponte fechada, sem voos e as medidas de isolamento mais fortes tomadas já a partir do primeiro caso, foi possível manter baixa circulação do vírus, mas o processo de reabertura de setores comerciais deve aumentar a circulação de pessoas e isso aparecerá nos inquéritos que são realizados a cada 15 dias. Segundo Zarpelon, sem voos e sem as pontes abertas, há mais controle; com a abertura do aeroporto e das fronteiras, o desafio será maior.

“No inquérito sorológico feito em 29 e 30 de abril, estimamos que Foz possuía em meados de abril (14/15) 344 pessoas já infectadas pela COVID (com margem de erro entre 175 e 833 – em função da amostra de 754 testagens). Se considerarmos que em 15 de abril, tínhamos 35 casos confirmados e multiplicarmos por 14 (número estimado pelo estudo da USP; e que varia entre vários estudos de 10 a 19 casos estimados por cada caso confirmado) teríamos uma conta de 35 x 14, o que resultaria em 490 casos em Foz, naquele momento; absolutamente dentro da margem e compatível com uma cidade que tomou medidas adequadas”, projetou Luiz Fernando Zarpelon.

Para ele, “se fôssemos extrapolar esse número até hoje, quando chegamos a 62 casos (09/05) teríamos estimativa por volta dos 868 casos; o próximo inquérito que faremos na semana que vem nos trará uma estimativa de casos entre 30 de abril 1º de maio, e, poderemos, comparando com o número de casos confirmados à época, ajustar o nosso próprio número fator, se ele é maior ou menor que 14, de acordo com o estudo da USP”.

Zarpelon evidencia, que “isso ocorre porque mesmo em países que testam muito, sempre há pacientes infectados que não são testados, só que em escala muito menor do que nos países que testam pouco, como é o caso do Brasil; aqui testamos os com mais gravidade e que são internados; então a subnotificação é grande. É necessário avaliar, que no Brasil houve, ou há, um problema maior: estamos testando pouco e com muito atraso; os laboratórios públicos não deram conta no início, e, como temos poucos leitos (baixa capacidade assistencial) muitos morrem sem testar e a demora na coleta ou após ela, atrasa o processamento do exame e isso acarreta muitas perdas de material; ou seja aumenta em muito a subnotificação. Com o segundo inquérito poderemos construir um modelo preditivo; saber em que ponto estamos realmente, prever pico e velocidade de transmissão; com algum erro; a partir do terceiro inquérito isso ficará melhor, com mais precisão”, finaliza o coordenador médico do enfrentamento da COVID-19 em Foz do Iguaçu.

O prefeito Chico Brasileiro recebe os dados a cada minuto e vive o dilema de flexibilizar, sob pressão dos setores e ao mesmo tempo, precisar elaborar atuações frente os resultados das pesquisas. Por enquanto a cidade se mantém num porcentual confortável, mas diante das perspectivas e revelações científicas, como o estudo da USP, é necessário ampliar o horizonte, com tomadas de decisões para cada uma das respostas. 

A USP de Ribeirão Preto, possui num dos laboratórios mais avançados na América Latina e mantém cientistas reconhecidos pelas maiores autoridades sanitárias do mundo. 

O estudo, avalia os casos que não entram nas estatísticas, quando o Ministério da Saúde e as secretarias dos estados e municípios só contam as confirmações, mediante testes que comprovaram a infecção pelo novo coronavírus. A realidade é que o Brasil apesar da ascendência e complexidade nas contaminações em muitas grandes cidades, ainda realiza testes abaixo da média, se comparado aos outros países. O tema, fruto de uma das principais matérias do Jornal Nacional da última sexta-feira (08), é também comentado por muitas revistas científicas, pois resultado do estudo, com singular precisão, surgiu como uma bomba em meio à pandemia. 

No Brasil, os testes são em grande número realizados em pacientes internados e profissionais de saúde e segurança. Em realidade, muita gente com sintomas leves ou até sem os sintomas característico da doença, não sabe se tem ou teve a Covid-19 e, diante disso, não aparece nas estatísticas. O estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), indica que o número real de casos pode ser 14 vezes maior que o oficial.

O levantamento, utilizou dados da Coreia do Sul, um dos países que mais se empenham em realizar testes para a Covid-19. Os números lá, segundo os pesquisadores, são muito próximos da realidade. A epidemia na Coreia do Sul começou antes do que no Brasil e o número de novos casos lá está desacelerando. Mas quando o país estava no mesmo ponto da epidemia que o Brasil está hoje, 1,65% dos sul-coreanos infectados morriam de Covid-19, destacam os pesquisadores brasileiros. Eles aplicaram essa mesma taxa de letalidade para o Brasil, ajustando o cálculo conforme as diferenças etárias da nossa população em relação aos sul-coreanos, e, assim, a partir do número de mortos, calcularam o que seria o número real de infectados.

O gráfico do estudo, demonstra por meio de linhas a demonstra (na linha de baixo) a evolução do número de casos no país pelos dados oficiais e, na linha de cima, pela estimativa do estudo. Na última quinta-feira (7), quando o Ministério da Saúde contabilizava 135 mil casos de Covid-19 no Brasil, o estudo apontava mais de 1,9 milhão; um dado maior do que o total de casos dos Estados Unidos, país até o momento, mais atingido pela pandemia. Quanto ao número de óbitos no Brasil, muita gente está sendo enterrada sem que se confirme se a causa da morte foi Covid-19.
“Se eu for levar em consideração o número de óbitos que são efetivos, tentando fazer uma estimativa, tirando a subnotificação, o meu modelo, honestamente, explode com o número de casos. Esse modelo é otimista e, por isso, eu tenho defendido de que o Brasil, necessariamente, para o mundo, já é o principal foco da epidemia”, avaliou Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP).

As projeções possuem uma margem de erro para mais ou para menos. Essa margem indica que, no limite, o Brasil teria hoje, no mínimo, 1,5 milhão de casos e, no máximo, mais de 2 milhões de casos de Covid-19.

Segundo a reportagem do JN, o pesquisador defende que já passou da hora de apertar ainda mais as medidas de isolamento: “Essas medidas que foram adotadas não surtiram o efeito adequado. E o que a gente está vendo é um escape importante da mão dos governos do controle dessa pandemia. Então, a população que já está desgastada com essa situação, tem que entender que é o seguinte: o aperto das medidas de contenção, na maioria das capitais brasileiras, elas vão salvar vidas. Muitas vidas”.

Quem assina o estudo
Domingos Alves, possui graduação em Física pela Universidade Estadual de Campinas (1986), mestrado em Física pela Universidade Estadual de Campinas (1993), doutorado em Física pela Universidade de São Paulo (1999), dois pós-doutorados pela Universidade de São Paulo um pelo Instituto de Física de São Carlos (2000) e um pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (2001). Atualmente é professor assistente doutor no Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP. Também atua como Professor colaborador no Center For Health Techology and Services Research (CINTESIS) da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Atuando principalmente nas áreas de Modelagem Teórica e Computacional em Saúde, Simulação de Serviços em Saúde e Sistemas de Informação em Saúde. Em seu grupo são desenvolvidos algoritmos, metodologias e aplicações para produzir ferramentas computacionais e construir sistemas de assistência em saúde regionalizados de capacidade proativa, a partir da possibilidade de tratar as bases de dados integradas em um mesmo ambiente, com dados caracterizadores da população. É importante destacar, que o estudo recentemente divulgado, segue a metodologia de desenvolvimento em três eixos relevantes: (1) terminologias em saúde, (2) interoperabilidade entre sistemas de informação em saúde, (3) sistemas de auditoria e qualidade de dados.