A Regional de Saúde de Paranavaí, na Região Noroeste do Paraná, apresenta 881 casos do novo coronavírus (Covid-19) para cada 1 milhão de habitantes.
Essa é a maior taxa de incidência de toda a Região Sul e a sexta de todo país, sendo a primeira fora das regiões Norte e Nordeste.
Como comparação, a Regional de Saúde no Paraná com número de casos mais próximos aos de Paranavaí é a de Cascavel, com 230 casos por 1 milhão de habitantes.
Ao todo 22 municípios compõem a Regional de Saúde de Paranavaí, sendo que todas essas cidades apresentam ao menos uma ocorrência de coronavírus e 15 têm pelo menos um óbito registrado.
A explicação da Secretaria Municipal da Saúde de Paranavaí para esses números é uma contaminação pelo coronavírus em um frigorífico de aves da região.
CASO GTFOODS E TESTAGEM EM MASSA
A GTFoods é um dos principais frigoríficos avícolas do Paraná e tem uma de suas plantas em Paranavaí, empregando funcionários de 21 municípios vizinhos.
Só que na primeira semana de abril, diversos funcionários da empresa testaram positivo para o coronavírus e criaram um epicentro da doença em Paranavaí.
Segundo a secretária municipal da Saúde, Andreia Martins Vilar, uma ação conjunta entre órgãos de saúde local e estadual realizaram uma testagem em massa em funcionários da empresa.
“Dessa forma testamos todos os sintomáticos e assintomáticos da empresa, em um lugar que houve um surto que é claro que sabíamos que teríamos um número grande de casos. Isso é diferente da maioria das regionais que testam apenas de acordo com a nota técnica os funcionários da saúde e os pacientes internados”, explicou Vilar.
A Secretaria Estadual da Saúde disponibilizou uma primeira remessa de 1200 testes para os municípios da regional, mas com o caso GTFoods encaminhou um novo lote apenas para examinar os funcionários da empresa.
PARANAVAÍ PODE MOSTRAR REALIDADE NACIONAL
A Regional de Paranavaí apresenta um caso único no Brasil em relação ao número de pessoas testadas. Para a infectologista Viviane Macedo o cenário apresentado no noroeste paranaense se aproxima da realidade de incidência de casos da doença no país.
“No início do surto nós testávamos todo mundo, se existia uma suspeita de síndrome gripal, independente do critério de gravidade, eram testados. Devido a falta de insumos para os testes, limitou-se o PCR (teste por Proteína c-reativa) para pacientes que iriam internar, medida que segue até o momento”, pontuou a infectologista.
Macedo explica que o cenário ideal para a testagem no Brasil é garantir que todos os pacientes sintomáticos façam o exame para descobrir se foram contaminados pelo coronavírus.
“A estratégia deveria ser testar todos os sintomáticos, até para termos um cenário com todos os infectados, passando na sequência os testes para os contatos próximos das pessoas que testaram positivo. Ao invés de fazer para todos sem nenhum critério, assim teríamos uma base para avaliação”, coloca Macedo.
CENTRAL ÚNICA CONTRA O CORONAVÍRUS
Mesmo com a alta incidência de casos de coronavírus e tendo o único hospital capacitado para atendimento de pacientes com a doença na regional, a situação dos leitos é tranquila em Paranavaí.
Segundo a Secretaria Municipal, a cidade disponibiliza na Santa Casa de Paranavaí 20 leitos de enfermaria e 10 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Atualmente seis leitos de cada tipo estão ocupados no hospital.
“Mas eu estou tranquila com esses números, porque se você ler os dados sob leitos verá que nosso índice de pacientes graves é o menor. A nossa taxa ocupacional mostra que a maioria dos pacientes contaminados estão bem em casa, alguns até já trabalhando”, declarou Vilar.
A decisão de concentrar todos os casos de coronavírus da regional na Santa Casa de Paranavaí foi decidida em conjunto pelas Secretarias Municipal e Estadual e tem se mostrado efetiva no combate a Covid-19.
“Estamos atuantes e vigilantes em relação ao município de Paranavaí. Nossas equipes atuam muito bem, temos confiança em que está lá e vive a situação na ponta. O trabalho conjunto, também com a prefeitura, foi fundamental para entender o alcance que esse surto teve na localidade”, sentenciou o secretária estadual da Saúde, Beto Preto.
FRIGORÍFICO ADOTOU MEDIDAS DE SEGURANÇA
A GTFoods paralisou suas atividades entre os dias 9 e 22 de abril, sendo que nesse período a Secretaria Municipal da Saúde e o Ministério Público do Trabalho adotaram protocolos de segurança para a empresa.
“Analisamos os transportes dos pacientes, determinando quantidade de pessoas, utilização de máscaras distintas no serviço e transporte, assim como medição de temperatura na entrada e saída, plano de metragem de limite de pessoas e que fosse estritamente fechado para os funcionários”, relembrou Vilar.
Ao final dos 14 dias de paralisação, a GTFoods já tinha adotado também a setorização dos ambientes da empresa e a construção de dois restaurantes de campanha, mantendo apenas funcionários que trabalhem no mesmo setor juntos.
“Assim, caso houvesse novo foco na empresa a gente conseguiria saber qual era o setor e rapidamente identificar esse foco”, finalizou Vilar.
Com as recomendações cumpridas, GTFoods e o Ministério Público do Trabalho assinaram no dia 5 de maio um Termo de Ajustamento de Conduta para demonstrar que a empresa está adotando as medidas necessárias para evitar uma nova propagação do coronavírus.
Procurada pela reportagem, a GTFoods não quis se manifestar sobre o tema.
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