Editorial, Folha de S. Paulo
Juros ao consumidor chegam ao maior valor desde 2011, o que desfaz mais uma das inúmeras fantasias divulgadas pela gestão Dilma
As novas informações sobre as concessões de empréstimos no país, divulgadas pelo Banco Central, evidenciam que também essa área da economia está paralisada, apesar dos esforços do governo.
Pior, os juros do crédito livre (sem destinação específica) ao consumidor chegaram a 43,2% ao ano, um recorde desde 2011. Desfaz-se, assim, mais uma das inúmeras fantasias propagadas pela gestão Dilma Rousseff (PT) –a de que haveria redução nas taxas escorchantes a que as famílias são submetidas.
Não surpreende, pois, que o saldo das operações de crédito tenha desacelerado pelo sétimo mês consecutivo, na comparação com o mesmo período do ano passado. Em julho, houve expansão de 4,6% (já descontada a inflação), menos da metade do padrão observado de 2011 a 2013.
A pequena dinâmica existente deve-se aos bancos estatais. Sua participação no mercado, hoje de 53%, cresceu 18 pontos percentuais desde 2008, quando o governo federal decidiu turbiná-los.
Enquanto isso, os bancos privados, ressabiados com o ambiente econômico incerto, deixaram o saldo dos financiamentos cair 2,8% em relação a dezembro último.
Em termos setoriais, a expansão concentra-se no crédito rural e imobiliário, que são direcionados por lei. Ou seja, as instituições são obrigadas a destinar a essas duas finalidades, com juros mais baixos, um pedaço dos depósitos à vista e na poupança. No segmento livre, as novas concessões estão estagnadas desde 2011.
Natural que seja assim. O crédito, por cerca de uma década, cresceu muito além da economia, complementando a renda salarial e sustentando o consumo. O volume total dessas transações mais que dobrou, passando de 25% do PIB em 2004 para 56,1% no mês passado.
Agora, contudo, as dívidas já representam 45,7% da renda das famílias, segundo dados do BC. As pessoas se sentem com a corda no pescoço, por assim dizer, e ninguém gosta de apertar o nó.
No caso das empresas, a baixa demanda de crédito reflete a falta de confiança na economia.
Verificadas tais tendências, o governo adotou mais medidas de estímulo: reduziu a exigência de retenção de depósitos dos bancos no BC e afrouxou regras prudenciais para empréstimos.
Em paralelo, reforçou a segurança das instituições, com novas diretrizes para o crédito consignado e, no caso de automóveis, maior facilidade para a retomada do bem se houver inadimplência.
Algumas dessas ações até são corretas do ponto de vista regulatório, mas não soa promissor insistir na força do crédito num ambiente de desajuste econômico.
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