Quando for exatamente dia 30 deste mês, todos os partidos organizados do país terão terminado as convenções. Uma verdade sobre essa data é que ela é muito importante para a política, que ela é tão ou mais importante do que as votações de outubro. Por outro lado, as convenções não ganham praticamente nenhuma expressão popular. Não se vê aquela comoção que se vê em outubro.
Mas esse artigo não nasceu para ser onisciente, nem um texto romântico sobre política, ou sobre algum período em que a política era mais nobre, que as causas eram mais justas. Companheiros de todas as bancadas sabem contar de trás para frente a história da transição democrática. Mas esse artigo, repito, não é uma nostalgia.
O assunto é sobre os eleitores que vão votar em outubro e sobre o que as convenções representam para esses cidadãos. Porque eles só vão poder votar nos candidatos que nós, políticos, dirigentes e filiados de partidos políticos, estamos escolhendo agora. O que se pergunta é “para onde estamos indo”? Ou ainda, “onde está o povo, que deveria estar aqui?”
Talvez a questão seja a mudança na comunicação. Quem sabe nossas causas e perguntas tenham envelhecido. Quando falo de mudança na comunicação, é principalmente sobre a internet, que chegou no Brasil, para mudar o Brasil, antes do Brasil assimilar o processo democrático completamente. Isto é, temos que lidar com este fato: de que vamos consertar o avião sem poder pousar.
Por outro lado, pra que não pareça uma desculpa, não é que atualmente as convenções partidárias e os partidos políticos não despertam mais a atenção das pessoas. A verdade é que os partidos sempre representaram pouco ou quase nada para a sociedade, quando essa representação passa por ajudar o eleitor a participar das decisões.
Extinguir os partidos políticos também não é a questão. Então, qual é o ponto? Minha sugestão é que falta um pouco mais de concentração. Desde agora, desde as convenções, até as próximas convenções. Mas, quem sabe, um pouco mais de concentração e esforço de nós mesmos, formalmente eleitos, para melhorar o processo político vigente, que ainda pode melhorar, mas, acima disso, pensar sobre como queremos ser quando acabar nossa juventude política, quando formos um país adulto.
Escrevo isso, porque uma porção das nossas convenções partidárias não representa o verdadeiro processo democrático, a maioria delas, pelo menos; nossos partidos parecem cartórios. Nossas secretarias fazem todo o trabalho mais difícil, o burocrático, e assim, na maioria das vezes, beneficiamos quem já nem precisa mais de benefícios. Como?
Alguns partidos fazem isso abertamente: substituem os diretórios pelas comissões provisórias, e, logo que podem, proíbem as convenções! Já outros partidos incentivam as convenções, mas, na verdade, elas funcionam como uma cortina de fumaça: quem preside o diretório ou a provisória leva a melhor sobre qualquer outro filiado que queira se aventurar.
É que na cabeça desses dirigentes e políticos, o partido não pode atrapalhar, ter ideologia, ter muita opinião. Afinal de contas, esses políticos podem cruzar com um eleitor que não gosta muito dessas ideias radicais, essa conversa de ideologia, de defender ou combater temas tão obscuros, tão delicados, como a reforma política, por exemplo.
Em um contexto exatamente assim: em que as pessoas não são chamadas pra política, porque essa política dos partidos não é nem um pouco atraente; em que candidatos e políticos eleitos não conseguem enxergar os partidos como bases intelectuais, mas como escada para alcançar cargos poderosos; em que candidatos procuram legendas e não ideias e, logo, eleitores votam em candidatos sem ideias; em um contexto em que a democracia se reinventa no mundo, todos os dias, através da internet, do celular, se reinventa pelas manifestações pacíficas, pelo desejo de que causas sejam representadas e não regiões geográficas sejam representadas, nesse contexto é que as eleições passam, vereadores, prefeitos, deputados, governadores tomam posse, os partidos ganham, e ganham muito com isso, mas quem sabe o que isso representa.
Ideias geram ações; ações geram comportamentos; e comportamentos definem futuros; se não há ideias, não há futuro. Como esquecer que as decisões das bancadas municipais, estaduais e federais, os planos de governo, principalmente os planos de governo, tudo isso passa pelos partidos políticos.
Temas como o financiamento público de campanha, o modelo como votamos, a escolha dos dirigentes e candidatos dos partidos, são temas difíceis, realmente difíceis. Qualquer um que arrisque falar sobre eles irresponsavelmente, sem muita dor de cabeça, sem muita pesquisa, está, na verdade, fugindo de efetivamente interferir no futuro.
(*) João Arruda é deputado federal e secretário-geral do PMDB do Paraná
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