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Controle da inflação está de volta ao centro do debate eleitoral

A semana que passou deu uma prévia do que pode vir a ser um dos principais debates da campanha eleitoral. Dois ministros do governo Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Guido Mantega (Fazenda), deram declarações contraditórias sobre os preços controlados pelo governo, como combustíveis e tarifas de energia.

À Folha de S.Paulo, Mercadante declarou que o governo segurava as tarifas para conter a inflação: “preços administrados são preços administrados. Você administra em função do interesse estratégico da economia, dos consumidores, não há necessidade de ser repassado imediatamente”. No dia seguinte, Mantega rebateu o colega, em declaração dada em audiência na Câmara. “Nós temos feito sim reajustes. Maior exemplo é o preço da energia, que subiu 18%. Onde está o represamento dos preços?”. As informações são da Gazeta do Povo.

O bate-cabeça entre os ministros mostra que o governo sabe bem o quanto o tema da inflação é sensível para os brasileiros. Os dias de pesadelo inflacionário, que perduraram até o começo da década de 90, ficaram para trás. Mas há uma desconfiança grande em relação à capacidade do governo Dilma Rousseff em lidar com o problema.

Em tese, não haveria motivo para alarde. A média da inflação no governo Dilma é menor que a de Lula e ou de Fernando Henrique Cardoso (veja box ao lado). O problema de Dilma é que a inflação tem permanecido insistentemente no topo da meta anunciada pela equipe econômica, que tem se desdobrado para não permitir um aumento ainda maior do índice.

“Não vivemos uma situação de descontrole inflacionário, mas a inflação está sim pressionada nos últimos dois anos por excesso de demanda. A capacidade produtiva não está atendendo o aumento do consumo”, afirma o economista Lucas Dezordi, coordenador do curso de Economia da Universidade Positivo. Segurar artificialmente o reajuste da energia e combustíveis seria parte do pacote anti-inflacionário de Dilma.

“O principal problema de se vender esses produtos e serviços de maneira subsidiada é que, com os preços relativamente mais baixos do que deveriam ser na verdade, as pessoas acabam não entendendo que estamos sofrendo uma escassez desses bens, e que deveríamos poupá-los ao invés de consumi-los”, afirma Bernardo Santoro, professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ.

O alto potencial eleitoral do tema já está no radar dos candidatos de oposição a Dilma. Tanto Eduardo Campos (PSB) como Aécio Neves (PSDB) colocaram o tema como preferencial em suas agendas. Campos declarou que a equipe econômica de Dilma usa “truques” para que a inflação não supere o teto da meta. Aécio, por sua vez, já declarou que o governo Dilma não trata a inflação com “tolerância zero”. “[O governo] é leniente desde que votou contra o Plano Real apresentado pelo governo Fernando Henrique. Não há uma meta real; a meu ver há uma meta virtual.”

A tática só deve se intensificar nos próximos meses. “A economia é o que elege e derruba os políticos. A Europa trocou seus governantes por conta da crise de 2008. E o aspecto da economia sentido de forma mais imediata pela população é justamente a inflação”, diz o coordenador do curso de pós-graduação em Marketing da FAE Business School, Douglas Zela.