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Contagem regressiva contra as fake news

Órgãos preveem estratégias nas eleições municipais

Gilberto Scofield Jr.

Começou em agosto —com um ano de antecedência— a luta para evitar que notícias falsas soterrem as eleições municipais do ano que vem. Em 2020, o Brasil elegerá mais de 5.000 novos prefeitos. Com WhatsApp, Facebook e Twitter na posição de grandes difusores de informação, o terreno é fértil para a propagação de um volume gigantesco de dados truncados.

Foi pensando nisso que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu anunciar em 30 de agosto o “Programa de Enfrentamento a Desinformação com Foco nas Eleições 2020”. Segundo a ministra Rosa Weber, presidente da corte, o conteúdo do projeto prevê ações —algumas em andamento e outras a serem adotadas— em áreas como investimentos em tecnologia, campanhas educativas e parcerias com institutos de pesquisa, associações de tecnologia, empresas de mídia e partidos.

O passo que o TSE dá agora remete ao dado pelo Instituto Nacional Electoral (INE) no ano passado. Em 2018, a autoridade que organiza as eleições do México tomou para si a tarefa de proteger o processo democrático local e, com mais de um ano de antecedência, colocou em marcha o Projeto Certeza, baseado num tripé de ações que, ao que tudo indica, agora inspira o TSE.

Em primeiro lugar, o INE criou uma ampla campanha para explicar —online e off-line todos os fundamentos das eleições mexicanas. A proposta era clara: sanar dúvidas sobre o processo eleitoral e a votação.

Depois treinou todos seus funcionários em técnicas simples de checagem e estabeleceu um processo sobre como agir, em tempo real, para bloquear boatos. Porta-vozes foram preparados para desmentir notícias falsas nas redes sociais com linguagem simples e direta.

Por fim, o INE se apoiou no Verificado. O projeto de colaboração jornalística coordenado pela plataforma de “fact-checking” Animal Político reuniu cerca de 70 veículos e existiu entre março e julho. Ao estabelecer uma troca de informações em tempo real com esse grupo, o INE reduziu o dano causado pelas notícias falsas e virou referência continental no assunto. Até a OEA reconhece o feito.

Desde o último dia 19, inspirada no México e com autorização do TSE, a Agência Lupa treina integrantes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) como parceiro do tribunal. Já esteve em Rondônia e irá a outras capitais da região Norte neste mês. A ideia é equipar os funcionários dessas cortes com ferramentas para realizar checagens básicas. Jornalistas locais também são bem-vindos.

Até a campanha do ano que vem, todos os estados receberão oficinas do LupaEducação. A partir delas e com o apoio do WhatsApp, a agência criará uma rede de checadores locais para enfrentar a desinformação da corrida eleitoral de 2020.

Ainda por iniciativa da Lupa, do Instituto de Tecnologia & Equidade (IT&E) e do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), os TREs receberão a segunda parte do projeto “Democracia Digital”, apoiado pelo Instituto Betty e Jacob Lafer, antes do início das eleições. Os integrantes das cortes regionais eleitorais terão a oportunidade de participar de debates sobre tecnologia de ponta e esclarecer dúvidas sobre o ecossistema da desinformação.

É fato que parcerias desse tipo logram bons resultados —não só no México. Em 2018, o TRE de Rondônia debelou uma tentativa de fraude graças a um treinamento recebido da Lupa semanas antes. O órgão prendeu e multou um eleitor que havia postado um vídeo nas redes sociais sugerindo que determinada tecla das urnas fosse colada de forma a impedir o voto em certo candidato.

O TRE-RO e a agência comemoram o resultado da parceria até hoje. Se o TSE agir de acordo com o seu projeto, acertará em cheio.

Gilberto Scofield Jr.
Diretor de Estratégia e Negócios da Agência Lupa