Durante anos, o escritor e empreendedor nigeriano Okechukwu Ofili frustrou-se com a demora da indústria editorial para publicar livros novos -o que gerava, para desânimo dos escritores, uma longa fila de trabalhos inéditos. Ofili, então, inspirou-se nos mototáxis “okadas” da Nigéria e criou o Okadabooks, um aplicativo que permite publicar livros digitais para smartphones. Hoje, por meio desse mecanismo, os nigerianos têm acesso a 10 mil títulos, muitos deles mais baratos que uma corrida de mototáxi.
Assim como muitos empreendedores, Ofili encontrou uma solução para um problema antigo aproveitando a revolução dos smartphones, que está transformando o mundo. Trata-se de mais um exemplo do uso da tecnologia para vencer desafios locais.
Essa tendência mundial está redefinindo a internet. “Build for billions”, ou “Criar para bilhões”, significa conceber uma nova tecnologia, desde o início do processo, para um público global.
As pessoas que acessam a internet pela primeira vez, graças aos smartphones, fazem um uso totalmente novo dela. O futuro da internet será escrito por pessoas como Ofili e os usuários do seu aplicativo.
Mais do que nunca, empresas de tecnologia como o Google precisam ter como foco recriar seus aplicativos, serviços e plataformas para atender da melhor maneira possível a maioria das pessoas do planeta.
Sei o quanto a tecnologia pode mudar destinos. Fui criado na Índia e lembro-me de minha emoção com nosso primeiro telefone fixo, nos anos 1980. O telefone me abriu um mundo novo e, a partir daí, outros avanços marcariam as diferentes etapas da minha vida, como o primeiro computador que usei na escola, o meu primeiro celular e o primeiro smartphone.
A tecnologia sempre me fascinou. Há uma década, vi na iniciativa de desenvolver um laptop de US$ 100 um caminho para levar internet a cada criança no planeta. Hoje são os smartphones que ajudam a cumprir essa missão.
O sistema operacional Android do Google, por exemplo, já roda em 2 bilhões de dispositivos móveis no mundo. Muitos desses smartphones custam menos de US$ 100, sendo mais potentes que os laptops de dez anos atrás. Fora isso, temos potencial para criar telefones ainda mais baratos, sem comprometer sua qualidade.
No Google temos uma equipe chamada Próximo Bilhão de Usuários, cuja tarefa é viajar o mundo para entender os gargalos da internet e pensar em soluções.
Essas experiências nos levaram a desenvolver projetos como o Google Station, que levou conexão de alta velocidade a milhões de pessoas em mais de cem estações de trem na Índia.
Também adaptamos nossos aplicativos de busca, Chrome, YouTube e Maps para funcionar melhor em ambientes de conectividade limitada, reduzindo o consumo de dados e até permitindo o acesso a conteúdo sem conexão de internet.
Atualmente existem 2,8 bilhões de usuários de smartphones no mundo. Até o fim do ano, haverá mais centenas de milhões. A internet está se tornando realmente global, um fenômeno que cria um terreno fértil para empreendedores em lugares como a África, a América Latina e o Sudeste da Ásia.
À medida que cresce o número de internautas no mundo, mais devemos trabalhar com talentos dessas regiões para criar soluções inovadoras para necessidades locais.
Criar o próximo bilhão de usuários da internet não significa apenas levar as tecnologias existentes para todas as regiões do planeta, mas também desenvolver coisas novas para o futuro.
Sundar Pichai, engenheiro indiano, mestre em ciências materiais e engenharia pela Universidade Stanford (EUA), é presidente global do Google.
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