O Exército do Povo Paraguaio (EPP) já matou mais de 20 pessoas nos últimos dois anos e alguns se perguntam se o governo de Assunção está realmente tentando combatê-lo
No coração da América do Sul, um grupo terrorista relativamente novo no universo das lutas armadas está tomando o espaço das autoridades locais e provocando rumores de que o próprio governo age como cúmplice do grupo. O Exército do Povo Paraguaio (EPP) foi formalmente fundado em 2008, mas o movimento rebelde por trás da guerrilha marca presença no norte do Paraguai por quase 20 anos. As informações são de Veja.
Habilidosos com explosivos e equipados com armas automáticas, os rebeldes do EPP são regularmente ligados a grupos armados estrangeiros, como por exemplo, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Sua ideologia é uma mistura das doutrinas marxista, leninista e guevarista, com uma característica local muito particular: o grupo reverencia o ditador que controlou o país após sua independência, José Gaspar Rodríguez de Francia. O político selou as fronteiras do Paraguai ao comércio exterior para impulsionar o desenvolvimento interno e executou e encarcerou centenas de seus oponentes.
O EPP se financia por meio da cobrança das chamadas “taxas revolucionárias” de donos de propriedades agrícolas locais, contou um fazendeiro da cidade de Horqueta – um dos locais de mais força do grupo – ao jornal britânico The Guardian. “Eles afirmam ser como Robin Hood, roubando dos ricos para dar aos pobres, mas nós somos pessoas que trabalham duro também”, contou o homem que pediu para ser mantido em anonimato após ter sido advertido pelas guerrilhas para não falar com a imprensa.
Mesmo com o envio de milhares de soldados e tendo declarado estado de emergência na região, o governo paraguaio parece não conseguir conter o grupo, que opera em algumas centenas de quilômetros quadrados de extensas florestas e propriedades agrícolas que só crescem. Ao todo, o EPP e seus fundadores já mataram mais de 50 pessoas – 25 só nos últimos dois anos – das quais 30 eram civis e 21 policiais ou militares. Em março, assassinaram três fazendeiros paraguaios desarmados, e espalharam panfletos proibindo o cultivo de “soja, milho, ou qualquer outro produto que exija pesticidas” pela propriedade.
Governo omisso – Contudo, a manutenção da força do grupo tem provocado dúvidas sobre o real interesse do estado em combater o EPP, e sobre os benefícios em não acabar com a organização. A ideia de que a guerrilha é um inimigo conveniente e controlável do governo é defendida por Cristóbal Olazar, antigo secretário geral do Movimento Pátria Livre, cujo braço armado se dividiu para formar o EPP, e que agora é informante da polícia. “A corrupção é muito forte entre as organizações de segurança, e não é vantajoso para eles acabar com este grupo, porque isso também acabaria com o seu apoio econômico”, afirmou ao Guardian.
Ele alega também que a polícia e a Força-Tarefa Conjunta (FTC) – a força organizada pelo presidente Horacio Cartes para combater os terroristas – são cúmplices no esquema de tráfico de drogas que acredita ser organizado pelo EPP. No final de junho, a Câmera dos Deputados criou uma comissão para investigar as acusações de corrupção na FTC. O clientelismo, cultivado por décadas de regime de partido único e que resultou em funcionários corruptos, que desviam grandes quantidades de dinheiro público, também desmotiva a população a denunciar as ações do grupo terroristas – que fica cada vez mais perigoso.
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