Luiz Claudio Romanelli
“Quem se vende sempre recebe mais do que vale”. (Luigi Bellodi)
O Tribunal Superior Eleitoral decidiu na sexta-feira (31) que Lula não pode ser candidato e também que não pode aparecer no horário eleitoral gratuito como candidato. O PT provavelmente insistirá em manter Lula candidato até o julgamento do último recurso, mas inevitavelmente se renderá à realidade dos fatos e Fernando Haddad será o candidato do partido à Presidência.
Em sua coluna na Folha de São Paulo, o cientista político André Singer, faz uma leitura interessante sobre o cenário eleitoral. Ele considera que, a partir da impugnação da candidatura de Lula, provavelmente teremos um segundo turno entre Haddad e Alckmin. Para Singer, haverá duas transferências: de Lula para Haddad e de Bolsonaro para Alckmin.
“Paradoxalmente, o que mais ajudará o ex-governador paulista na tarefa será a ascensão do seu tradicional adversário, Lula. Com quase 40% das intenções de voto, o ex-presidente, mesmo impugnado pela Justiça, tem chance de colocar o vice Fernando Haddad no segundo turno.
Nesse caso, o eleitor antipetista ficará obrigado a pensar em quem teria mais chances de derrotar o PT na rodada final. E cedo ou tarde perceberá que, sendo o tucano mais moderado que o candidato do PSL, embora, também, nitidamente conservador, reúne melhores predicados para o embate decisivo.
Ficaríamos, assim, livres de que uma proposta ditatorial se tornasse a liderança do Brasil”, diz Singer.
O fato é que faltando menos de 40 dias para as eleições, o debate sobre as reformas para que o país saia do abismo não está em pauta.
O que se vê é uma discussão rasa sobre alianças eleitorais, valores morais dos candidatos, ficha limpa, lava jato e outros que tais que de temas acessórios passaram a ocupar o cerne do debate.
Há tempos afirmei neste espaço que desde o início da lava jato há uma crescente criminalização da política, levando boa parte da população a acreditar que todos os políticos não prestam. O resultado disso pode ser visto em algumas eleições suplementares realizadas: o crescimento dos votos brancos e nulos. Afinal, raciocina o eleitor, se a política e os políticos não prestam, por que e para que votar.
A mídia teve papel especial e relevante para disseminar a ideia de que a política é a raiz de todos os males. Adotou um jornalismo com viés persecutório, com manchetes escandalosas e programas na teve e no radio sobre as delações da lava jato e outras operações. Reputações foram assassinadas diariamente sem provas ou julgamento formal, apenas com base na palavra de delatores no noticiário.
O jornalista Reinaldo Azevedo escreveu sobre isso há alguns dias. No texto “Há uma caçada irracional a politica e aos políticos”, ele faz uma analise interessante sobre as leis da improbidade administrativa, ficha limpa e organização criminosa, o protagonismo do Ministério Publico e de setores do Judiciário e sua relação com a caça aos políticos.
“Está em curso uma verdadeira caçada àquilo que os tontos e os oportunistas chamam “a política tradicional”. As ações de improbidade administrativa, por exemplo, se transformaram em meros instrumentos de perseguição política”, analisa.
Em outro trecho, ele faz um alerta:
“Combater a corrupção é um dever de todas as pessoas de bem, não uma meta de governo. Quem toma uma coisa por outra é vigarista”.
Em outra de suas colunas, em que fala sobre as entrevistas com os presidenciáveis no Jornal Nacional, o jornalista critica a escolha editorial da Rede Globo, que insistiu em inquirir os candidatos sobre as alianças partidárias. “Qual é a tese que está na raiz do brutal equívoco? Partidos que contam com pessoas investigadas pela Lava Jato — pouco importando se o que se tem é inquérito, denúncia, denúncia aceita ou condenação — estariam irremediavelmente comprometidos. A política se torna um tribunal da Lava Jato em que todos são réus, inclusive os que não são”, disse.
Já afirmei que considero essas as eleições mais importantes desde a redemocratização do país. Corremos o risco de um grave retrocesso. Lamento que o debate eleitoral até aqui esteja centrado em temas como o combate à corrupção e nos valores morais dos candidatos, deixando de lado o que realmente importa: como fazer o Brasil voltar a crescer e gerar emprego e renda.
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