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Com alto índice de desemprego, Brasil joga fora o seu futuro

Com alto índice de desemprego, Brasil joga fora o seu futuro

Antônio Delfim Netto

A mais cruel notícia da última semana veio do mercado de trabalho. De acordo com o IBGE, foram consultadas 166 milhões de pessoas em idade de trabalhar. Delas, 64 milhões declararam-se fora do mercado: nem trabalham, nem procuraram emprego. Isso nos deixa com uma força de trabalho da ordem de 102 milhões: 90 milhões declararam que estavam empregados e 12 milhões afirmaram que procuraram emprego no período mas não tiveram sucesso — ou seja, estavam desempregadas por definição.

Desses números emerge a assustadora taxa de desemprego de 11,8% (12/102 x 100). Em termos físicos: de cada dez pessoas que podem e querem trabalhar, uma está desempregada. Mais preocupante ainda é a revelação de que, na faixa de 18 a 24 anos de idade, uma em cada quatro está desempregada!

Não há tragédia mais dolorosa imposta a uma sociedade do que a de dissipar a sua maior riqueza, os seus cidadãos, roubando-lhes a oportunidade de se realizarem no exercício de uma atividade decente que lhes dê identidade e os qualifique entre os seus pares. E quando ela se concentra sobre a sua juventude, o país joga fora o seu futuro!

Diante desses fatos, o presidente Temer, que, na qualidade de vice, nunca foi consultado nem cheirado em matéria de economia, mostrou a sua preocupação, mas pôs os pingos nos “is”: “a culpa pelo alto desemprego não é minha”. E tem razão.

O alto nível de desemprego é o resultado não intencional de uma política econômica voluntarista e insensata que, a pouco e pouco, desde 2012, foi desconstruindo a confiança da sociedade no governo. Este atingiu o paroxismo e consagrou o seu completo alheamento quando escondeu a verdadeira situação do país, à custa da propaganda enganosa, para reeleger-se.

Se reconhecesse seus erros e tivesse tomado a tempo as medidas adequadas, sua reeleição talvez não se realizasse. Em compensação, talvez não tivéssemos chegado a 12 milhões de desempregados! Não há explicação plausível para o desmonte institucional revelado no último documento do World Economic Forum, fora a insensibilidade do governo.

A juventude de 14 a 18 anos (faixa em que a taxa de desemprego é de 38%) e de 19 a 24 anos (faixa em que a taxa de desemprego é de 23%) está na rua protestando legitimamente. Merece o respeito e a atenção do novo governo, que lhe deve um urgente programa de capacitação que coopte o setor privado e seja capaz de devolver-lhe a esperança perdida.

Esperemos que ela conserve o seu espírito crítico, mas que entenda a gravidade do momento, gestada na aventura que vivemos até recentemente e que não vai desaparecer amanhã.