Devagarinho, Ciro Gomes (CE), o presidenciável do PSB, vai retornando à boca do palco. Já superou a fase da negação do projeto. “Não posso estar mentindo para o povo e dizer que eu não quero ser” candidato à presidência da República. Apenas não deseja ser “candidato de si mesmo”. Aguarda pelo posicionamento do que chama de “bloco de esquerda”. Um bloco “que está incomodado com essa onda conservadorismo que […] o PMDB e o PT estão impondo ao país”.
Ciro encosta o seu discurso no de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE): “Se você vir o que eu estou vendo na Câmara, você vai se arrepiar, você não vai acreditar o que o PMDB está patrocinando”. O deputado deu entrevista às repórteres Flávia Urbano e Juliska Azevedo. A certa altura, perguntou-se a Ciro se Lula acerta ao levar Dilma Rousseff à passarela de 2010 com tanta antecedência.
Para Ciro, a pressa de Lula –“um político intuitivo brilhante”— é motivada por razões domésticas. O presidente age para evitar que o PT lhe fuja ao controle. Diz o deputado: “Se ele não põe a mão num quadro petista que ele possa, sobre esse quadro, fazer um plano tático, inclusive para mudar de candidato ou manter o candidato…” “…Se ele não antecipa essa indicação informal, uma hora dessas vocês iriam ver a maior troca de dossiês e de canelada entre petistas”.
Nesse ponto, Ciro define o PT de forma pouquíssimo lisonjeira: “Aquilo lá às vezes é um ninho de rato”. Daí, segundo ele, a premência de Lula. “Uma hora dessas, Tarso Genro, Patrus Ananias, Jacques Wagner, Marta Suplicy, que seriam os pretensos candidatos…” “…Uma hora dessas estariam se tratando muito bem, aqui por cima da mesa. E, em baixo, canelada…” “…E o governo ia pagar o pato disso. Não duvide que uma parte daquela esculhambação do mensalão foi guerra de petista”.
Ciro discorda da pretensão de Lula de reunir todo o consórcio governista em torno de Dilma já no primeiro turno da eleição de 2010. Acha que os interesses que gravitam em torno do atual governo são díspares demais. “As forças que apóiam o governo Lula são tão heterogêneas, que eu vejo como absolutamente improvável que esta heterogeneidade, que tem uma coesão nacional na sustentação do governo pelas razões mais variadas…”
“…Desde afinidades históricas e ideológicas à fisiologia mais desbragada e a expectativa de meter a mão no cofre público…” “…Então, não precisa estar junto, não deve estar junto, o povo aguardar atenciosamente que isso não esteja junto”.
Ciro recorre a uma analogia futebolística para justificar a presença do partido dele na cédula: "Time que não joga não ganha torcida”. “Eu acho que o partido devia disputar a presidência da República e todos os governos estaduais possíveis”.
Ciro diz que não será “candidato contra” o legado de Lula. Se entrar na disputa –“Não serei [candidato] a qualquer custo”—vai fazê-lo para evitar o “retrocesso”. “O que está em jogo é não deixar [o país] andar pra trás, porque o nosso principal adversário é do PSDB”.
Embora não mencione o nome do desafeto tucano, é de José Serra que Ciro está falando: "Era da equipe econômica do governo Fernando Henrique, era ministro do Planejamento…” “…Todo o descalabro da privataria que aconteceu foi essa turma que fez e a concentração de poder, riqueza e informação na oligarquia em São Paulo”.
por Josias de Souza, da Folha de S. Paulo.
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