O UOL News entrevistou o cientista político Emerson Cervi para falar sobre as eleições no Estado do Paraná. Leia abaixo a íntegra da entrevista.
O que os candidatos têm abordado nas campanhas?
Emerson Cervi – De maneira geral, a campanha deste ano para o governo do Paraná está muito parecida com a campanha para a Presidência. Candidato à reeleição, o governador Requião está bastante à frente desde antes do início da campanha, e a campanha não mudou isso. Há uma possibilidade de não haver segundo turno.
O senhor não acredita, então, que haja segundo turno no Paraná?
Emerson Cervi – É possível que haja sim, mas hoje não aconteceria. É possível que haja desde que um dos candidatos da oposição, terceiro e quarto colocados, apresentem alguma reação nas próximas semanas. Eles estão com índices estabilizados desde o início da campanha, não conseguem crescer.
Osmar Dias é o candidato que está em segundo lugar. Quem está em terceiro?
Emerson Cervi – O candidato do PPS, Rubens Bueno, que está variando entre 7% e 9% das intenções de voto. Havia uma expectativa de que ele fizesse mais votos porque o PPS no Paraná, este ano, se coligou ao PFL, que é um partido de bancada razoável no Estado, já teve governador, foi o que mais elegeu prefeitos no final dos anos 90, então, esperava-se um desempenho um pouco melhor desse candidato. Em quarto lugar está o candidato do PT Flávio Arns com 3% a 5% dos votos.
O atual governo é bem avaliado pela população?
Emerson Cervi – Ele é bem avaliado, tem de avaliação positiva algo em torno de 50%. Agora, isso não é suficiente para garantir uma reeleição. Estudos mostram que quando o eleitor avalia um governo, ele faz isso pensando apenas no governante, enquanto que ao decidir um voto ele olha para o governante e para os candidatos da oposição. Então pode ser que, para o cidadão, o governo esteja bem avaliado, mas ele tenha em um candidato de oposição uma perspectiva melhor ainda. Os governantes bem avaliados não conseguem repetir esse percentual de avaliação positiva em votos. O que acontece também é que isso depende de bons candidatos da oposição, com propostas que tenham impacto na sociedade, o que me parece não estar acontecendo este ano no Paraná.
O que os candidatos da oposição estão propondo?
Emerson Cervi – A posição desses candidatos é muito parecida entre eles, eles não têm conseguido levar o debate para temas onde o atual governador não domina. Os temas da campanha estão na esfera de domínio do atual governo e isso dá uma vantagem para o atual governador, faz com que ele consiga monopolizar a campanha e mostrar o que já foi feito. A campanha está muito focada na personalidade dos candidatos, que têm dado prioridade para isso, tentando formar a sua imagem, de bons políticos, administradores, e os temas têm ficado em segundo lugar. Para se ter uma idéia, poucos candidatos apresentaram suas propostas de governo completas. E quando elas são colocadas, estão dentro das propostas do atual governo, com algumas mudanças nas políticas atuais. São propostas na área de política social e alguma coisa na área de segurança, duas áreas que o atual governo domina. Ainda que não sejam as melhores políticas implementadas no atual momento, o eleitor, quando as compara com o governo anterior, vê está que melhor. A avaliação do atual governo é melhor que a do governo anterior, que é o que o eleitor usa para fazer a comparação. Isso dá uma vantagem para o atual governador. Não sei se os candidatos da oposição estão guardando para as últimas duas semanas o foco nas propostas de governo ou se pretendem levar a estratégia até o final, correndo o risco de não chegar ao segundo turno.
Segundo pesquisa Ibope do começo de agosto, o presidente Lula teria 35% das intenções de voto no Estado e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, 28%. O paranaense ainda oscila na votação para presidente?
Emerson Cervi – O Lula nunca conseguiu repetir suas médias nacionais no Paraná. O Paraná e os demais Estados do Sul são Estados onde o Lula e o próprio PT sempre tiveram problemas com desempenho quando comparado com a média nacional. Este ano não é nenhuma novidade o que está acontecendo. Embora Lula ainda esteja abaixo da média nacional, ele ainda é o principal candidato para a Presidência.
E o fato do Tribunal Superior Eleitoral ter recebido quatro ações por causa da aparição de candidatos à Presidência no horário eleitoral gratuito de deputados federais e estaduais? O horário político tem dado espaço para o presidente na disputa para deputados?
Emerson Cervi – Isso não é novo, quem acompanha os horários eleitorais já tem denunciado isso. Desde a campanha municipal, onde vereador cede espaço para candidato a prefeito, até as campanhas estaduais e nacionais, tem havido um desrespeito à legislação eleitoral com a utilização direta – no começo indireta – do espaço dos candidatos às eleições proporcionais cedido aos concorrentes das eleições majoritárias.
Três municípios do Estado ganharam destaque nos noticiários nacionais nos últimos dias pela aprovação de leis que regulamentam a prática de nepotismo, que é o favorecimento de parentes em emprego público. Como a população paranaense avalia isso?
Emerson Cervi – Esse é um tema colocado pelos candidatos da oposição, por exemplo, porque o atual governador possui vários parentes na gestão pública, inclusive tem o irmão como secretário do Estado. Também é colocado já há um bom tempo pela elite política do Paraná, por deputados da oposição, mas o impacto no eleitorado é muito baixo, assim como o impacto do tema corrupção é muito baixo. Certo ou errado, não vem aqui nenhum juízo de valor, o fato é que o eleitor não leva em consideração, ou leva pouco, os temas corrupção e nepotismo para decidir seu voto. Ocupar o espaço de campanha política tratando desses temas, tentando convencer o eleitor a mudar o seu voto a partir das denúncias de nepotismo é um risco muito grande porque o eleitor já tem demonstrado que toma sua decisão por outras variáveis, outras questões que não essa de nepotismo, que já vem acontecendo há pelo menos dois anos.
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