Ricardo Noblat
Assim como o país parece respirar melhor depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a Câmara dos Deputados tem tudo também para respirar melhor depois da cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Respirar melhor, no caso do país, significa dar por virada uma página política que o infelicitou nos últimos cinco anos e meio, empurrado que foi para a mais grave recessão econômica desde os anos 30 do século passado.
Para a Câmara, respirar melhor quer dizer restaurar a tranquilidade para votar as medidas econômicas do novo governo, livrando-se de um estorvo (leia-se: Cunha) que nos últimos 11 meses só serviu para desgastar ainda mais a imagem da instituição.
Com atraso, a Câmara procedeu como de outras vezes quando os deputados que a presidiam acabaram em desgraça diante da opinião pública. Íbsen Pinheiro (PMDB-RS) foi cassado depois de ter presidido ali o processo de impeachment de Fernando Collor.
Severino Cavalcanti (PP-PE) foi cassado depois que se descobriu que ele recebia um mensalinho pago por um concessionário de restaurante. João Paulo Cunha (PT-SP) caiu fora para em seguida ser condenado pela Justiça como mensaleiro.
Quem imaginava que Cunha escaparia à punição que se abateu sobre seus antecessores, imaginou mal. “Esta Casa faz o que o povo quer”, cito de memória uma frase de Íbsen. Principalmente às vésperas de eleições como as que estão próximas.
Cunha preferiu “cair de pé” na esperança de garantir no futuro o reconhecimento por ter sido o artífice do impeachment de Dilma. Menos, Cunha, menos! Dilma foi derrubada por seus próprios erros. Assim como foram os erros de Cunha que o derrubaram.
Dilma caiu não só por ter cometido crime de responsabilidade ao gastar mais do estava autorizada a gastar. Caiu pelo conjunto da obra desastrosa que legou. O conjunto da obra de Cunha agravou o fato de ele ter mentido aos seus pares, quebrando o decoro.
O fim de uma presidência autoritária como a de Cunha, sustentada por favores suspeitos feitos por ele a dezenas de deputados, não significa necessariamente que haverá uma mudança substancial no modo como a Câmara funciona. Infelizmente, não.
A qualidade dos deputados, mas não só deles, só faz piorar a cada legislatura. E a multiplicação absurda de partidos favorece à inércia, à paralisia. São 32 partidos no momento. Impossível qualquer consenso para a apresentação e votação de propostas.
Seguirá a Câmara – até quando? – como uma espécie de casa destinada apenas a recepcionar o que o governo lhe remete, e a deliberar a respeito.
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