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Beatriz Abagge é condenada a 21 anos e quatro meses de prisão

Da Gazeta do Povo:

Beatriz Abagge foi condenada 21 anos e quatro meses de prisão pela morte do menino Evandro Caetano, ocorrida em Guaratuba, litoral do Paraná, em 1992. A decisão dos jurados foi lida por volta das 17h15.

Ela poderá aguardar o recurso em liberdade. O julgamento foi realizado durante sexta-feira (27) e sábado (28) . Centenas de pessoas acompanharam as argumentações da defesa e da acusação. Os pais do menino Evandro também estiveram presentes.

Acusação
Os primeiros a falar neste sábado, segundo dia do julgamento, foram representantes do Ministério Público (MP), responsáveis pela acusação. Eles disseram que há provas de que o corpo encontrado era do menino Evandro e da ligação de Beatriz com crime.

O MP afirmou ainda que não há indícios de que a ré sofreu tortura para confessar. Eles também mostraram vídeos com a confissão dos acusados.

Durante a fala da acusação, os presentes no plenário deram risada dos argumentos apresentados em diversos momentos. Até que o promotor responsável pelo caso, Paulo de Lima, interrompeu sua apresentação e se dirigiu ao plenário:

“Vocês acham isso engraçado? Eu não acho. Precisamos encerrar urgentemente esse caso. O Evandro não tem voz. Não está aqui hoje. Mas eu sou a voz dele aqui hoje”.


A acusação encerrou sua fala às 11 horas. Antes do início da apresentação da defesa, o juiz pediu para os presentes não se manifestassem nem a favor e nem contra as apresentações.

Defesa

Em seguida foi a vez da defesa, que sustentou que Beatriz foi torturada e estuprada. Segundo os advogados dela, mesmo que o corpo encontrado seja de Evandro, não há provas da ligação de Beatriz com o crime.

Durante a defesa, Beatriz se mostrou bastante emocionada e chorou por diversas vezes, principalmente ao ouvir novamente a gravação do vídeo em que confessa a participação no crime.

O advogado de defesa, Adel El Tasse, deu inicio a sua sustentação usando citações de Beatriz e de sua mãe, Celina Abagge: “Não sei quantas vezes fui estuprada ou por quantos”, disse o advogado, atribuindo a fala à Beatriz.

“Escutava minha filha gritar: ‘não, não faça isso, pelo amor de Deus, mãe socorro’, e eu pedia pelo amor de Deus que não matassem minha filha. E ouvia eles dizendo ‘tirem a roupa dela’ enquanto ela gritava”, teria dito Celina.

A defesa também mostrou vídeos nos quais Beatriz estaria sendo torturada, tendo o braço torcido para falar ou com trechos com música ao fundo, recurso usado para esconder os sons da tortura. A promotoria chegou a interromper a fala da defesa quando Adel acusou Diógenes Caetano, tio do Evandro, que encontrou o corpo, de ter inventado o caso, plantando provas, para prejudicar a família Abagge.

A defesa também chamou o próprio processo de farsa. “Há mais de dez anos o tribunal já disse que a Beatriz é inocente. Foi o desejo soberano de sete jurados que durante 34 dias analisaram o processo inteiro e concluíram que a Beatriz era inocente”, disse o advogado de defesa.

“Nós fazemos uma defesa apaixonada. A defesa defende a própria democracia, a defesa do direito das pessoas não terem a casa arrombada, não serem torturadas ou estupradas. É uma defesa das regas democráticas”, disse Adel.

Por volta das 12h30 o tribunal entrou em recesso para o almoço. A sessão foi retomada por volta das 14 horas com a réplica da acusação e a tréplia da defesa.
Testemunhas

Durante o dia, na sexta-feira, foram ouvidas sete testemunhas, sendo quatro de defesa e uma de acusação. Nos momentos de interrupção da audiência, a mãe de Beatriz, Celina, tentou consolar a filha.

Celina e Beatriz não falaram com a imprensa. O plenário foi tomado por amigos e parentes das Abbage. “Está claro que não há prova que sustente a acusação. Mesmo que o corpo seja de Evandro, não há como comprovar a ligação dela”, disse o advogado Adel El Tasse.

Os pais de Evandro assistiram ao julgamento no segundo andar do auditório. “Estamos confiantes. Dezenove anos é muito tempo. Esperamos justiça, mas nada vai trazer o Evandro de volta. Não há um dia que eu não me lembre dele”, disse o pai do menino assassinado, Ademir Batista Caetano, 62 anos. Maria Ramos Caetano, 58 anos, mãe de Evandro, abalada, preferiu não falar com a imprensa.

De acordo com o juiz presidente da sessão, Daniel Surdi Avelar, o julgamento está transcorrendo bem. “O último durou 34 dias. Acredito que terminamos amanhã (hoje), a não ser que ocorra algum incidente, o que não acredito. Estamos colhendo provas de forma rápida e objetiva. Espero que os debates amanhã (hoje) também ocorram em alto estilo.”

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Entenda o caso
Beatriz á acusada pelo assassinato e sequestro de Evandro Ramos Caetano, em 1992, em Gua­ratuba, no litoral do Paraná. O menino teria sido morto em um ritual de magia negra encomendado por Beatriz e a mãe dela, Celina.

Acusadas como mandantes do assassinato, Beatriz e Celina Abagge foram julgadas pela primeira vez em 1998 no mais longo júri da história da Justiça brasileira – foram 34 dias de julgamento. Na época, mãe e filha foram consideradas inocentes porque não ficou comprovado que o corpo encontrado desfigurado em um matagal era de Evandro.

O Ministério Público (MP) recorreu da decisão e pediu um novo julgamento alegando que a perícia da arcada dentária e o exame de DNA que provavam que o corpo era do menino foram desconsiderados no julgamento. Quase um ano depois, em março de 1999, o júri que absolveu Beatriz e Celina foi anulado pelo Tribunal de Justiça (TJ) do Paraná.