Em entrevista ao Bem Paraná, o prefeito Rafael Greca reforçou as ações orquestradas pelo município para organizar as finanças e promover a recuperação econômica da capital no balanço do primeiro ano de mandato. “O início foi mais difícil do que o primeiro mandato (em 1993) agora a casa está em ordem”, disse.
Ao jornal, Greca destacou a importância do Plano de Recuperação Fiscal de Curitiba, aprovado logo no começo do ano pela Câmara de Vereadores, para equilibrar as contas e retomar o progresso econômico e social da cidade. Também avaliou de maneira positiva a expectativa para 2018 em vários setores do município.
Confira a íntegra da entrevista:
Bem Paraná – Como o senhor compara esse primeiro ano de seu segundo mandato com o início de seu primeiro mandato, nos anos 90?
Rafael Greca – A tragédia de 1º de janeiro de 2017 era muito maior do que a de 1º de janeiro de 93. Eu assumi a prefeitura que tinha sido do prefeito Jaime Lerner. Que tinha pendências, mas não chegavam a 25% do que eu enfrentei agora. Eu enfrentei R$ 2,1 bilhões de dívidas. Eu enfrentei coisas patéticas como ausência absoluta de conservação da cidade. Não tinha contrato para recolher lixo, podas, para a conservação de ruas. Não tinha contrato para a limpeza dos banheiros dos parques e para as capelas funerárias do cimitério. Uma senhora me disse que foi velar um defunto e deram para ela o balde e o rodo depois dela pagar R$ 500,00 para a prefeitura, mandaram ela limpar a capela. Eu disse: ‘mas a sua capela a senhora tem que limpar’. ‘Não é a minha, é a sua prefeito’. Daí eu fui saber, nem contrato para a limpeza das capelas de velório o Fruet tinha. As pessoas no facebook dizem que foram com a criança no Passeio Público e não tinha banheiro. Foram no parque Barigui, não tinha banheiro. Tudo isso tinha uma burocracia. Eu tive que enfrentar. Me causou um certo desgaste, mas como eu sei fazer eu fiz. Se eu dizia pro Fruet se está difícil para você deixa que eu faço, agora já fiz. Está tudo feito. A casa está arrumada. As dívidas estão sendo pagas. Os salários do funcionalismo estão adiantados. Eu já paguei o décimo-terceiro e vou pagar o salário de dezembro no dia 22. Em um quadro que no resto do País em pelo menos 22 capitais ainda há pendências do ano passado. As pessoas estão sem receber. Quando eu assumi a saúde estava no desastre. Os mutirões de saúde para especialidades médicas a meses não aconteciam. Hoje nós atendemos 173 mil pessoas que estavam esperando operações. Nós temos 313 leitos de retaguarda para as UPAs. Eu prometi que íamos ter 250. Eu coloquei R$ 1,7 bilhão na saúde. Os hospitais são pagos antes do mês terminar. Nós temos 26 novas ambulâncias de Samu. Seis novas ambulâncias para UPAs. E no laboratório municipal que na época do Fruet fazia 8 mil exames por mês, inha cota para dizer quem merecia e quem não merecia, hoje faz 330 mil exames por mês.
BP – Desta vez foi mais difícil então?
Greca – Foi mais difícil, mas eu tive o apoio da Câmara Municipal e votei o plano de recuperação de Curitiba. E tive a inteligência da minha equipe, que montou o plano de recuperação que me permitiu dizer se está difícil para você Fruet fazer, deixa que eu faço. Agora está feito. A cidade está limpa, as luzes estão acesas, o índice de satisfação do IPMC cresceu.
BP – Logo após a aprovação do plano de ajuste, em junho, uma pesquisa apontou que o senhor tinha 27% aprovação, contra 69,3% de aprovação. O senhor acha que já reverteu isso?
Greca – Eu ignoro essa pesquisa porque eu não senti isso. A população me apoiou fortemente e eu ando estressado de tanto selfie. De tanta gente que quer tirar retrato comigo. Eu mal consigo andar na rua. Eu fiz 300 eventos de Natal, em todos eu fui aplaudido. Essa pesquisa não merece crédito. Eu acho que ela foi feita dentro do sindicato, no Sismmuc. Entre os derrotados pelo ajuste fiscal. O que é uma loucura eles verem o ajuste fiscal como um cabo de guerra entre e os sindicatos. Na verdade eu trabalhei fortemente para salvar o serviço público municipal. Eu salvei o salário dessa gente que é contra mim da insolvência. Eu os amo tanto que eles estão recebendo adiantado.
Bem Paraná – A Câmara aprovou hoje mudanças no Imposto Sobre Serviços (ISS).
Rafael Greca – É muito bom para a cidade porque ele enquadra os planos de saúde que estavam passando ‘piau’ na cidade. E ao mesmo tempo ele tacha alguns setores produtivos mais ricos e privilegia os mais humildes, os mais pobres. Amplia a faixa de desconto no ISS da construção civil para os mais humildes. E diminui o ISS para eventos e espetáculos de 5% para 2%, transforma Curitiba numa Capital amiga do turismo e dos grandes eventos.
BP – Mas as operadoras de planos de saúde dizem que pode haver aumento de até 10% nos valores cobrados dos consumidores.
Greca – É um problema delas. Se elas se mudarem para Pinhais eu não me incomodo. Mas eu vou cobrar nos hospitais onde elas fazem os serviços. Elas estavam passando um ‘piau’ na cidade, no ano passado um prejuízo de R$ 58 milhões.
BP – A prefeitura reajustou a tarifa técnica do transporte coletivo de de R$ 3,79 para R$ 4,06.
Greca – Para recuperar o fundo municipal de transporte que estava com R$ 5 milhões negativos. Hoje está com R$ 42 milhões positivos. Eu consegui que a cidade voltasse a ter ônibus novos. Hoje chegam dez ônibus novos. E até março chegam 25 novos biarticulados. Serão 150 ônibus em 2018, 150 em 2019 e 150 em 2020. Serão 475 ônibus que desde 2013 não eram renovados. E não haverá acréscimo na tarifa. Porque tais ônibus virão por conta da pendência do dever dos empresários de renovar a frota previsto em contrato que desde 2013 estava congelado por uma decisão judicial que nós revogamos com o ajuste de conduta que fizemos com os empresários.
BP – Mas o contrato prevê novo reajuste da tarifa cobrada dos passageiros em fevereiro de 2018.
Greca – Nessa sala, nesta cadeira o Maurício Gulin (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Curitiba e RMC) disse que não quer reajuste. Eu devo acreditar nele. Se ele disse isso na presença do prefeito é porque não quer reajuste.
BP – Nos últimos anos o transporte coletivo tem perdido passageiros, o que agrava o déficit e leva a novos reajustes de tarifa. Como romper esse círculo?
Greca – Eu acho que as empresas viram isso e viram que precisam salvar o sistema de um colapso que estava anunciado pela judicialização. Eram 33 ações judiciais. O ministro Thompson Flores do Tribunal Federal de Porto Alegre disse que eu tinha que prestar muita atenção nisso, porque sempre se raciocina se a gente ganhar a ação. Mas tem que pensar também se a gente perder a ação, o que que a cidade vai ter que pagar. Em Porto Alegre isso aconteceu, foram para as bravatas e acabaram não só quebrando o sistema e também a cidade.
Bem Paraná – Houve algo que o senhor gostaria de ter feito neste primeiro ano que não conseguiu?
Rafael Greca – Abrir a UPA da CIC. A Justiça não me deixou. Eu poderia abrir, ia custar R$ 800 mil menos do que a UPA pública se fosse por Organização Social. O Conselho Municipal de Saúde, onde votam vários petistas, me deu aval. E a doutora ministra pública do Trabalho não deixou. Ela pediu explicações, eu vou mandar para ela, agora se ela não deixar eu vou ter uma culpada para a UPA da CIC ficar fechada: a judicialização do sistema de administração. Promotores que querem se meter em administração pública devem concorrer à eleição.
BP – Essa judicialização é uma dificuldade adicional hoje em dia?
Greca – É diária. É muito pior do que no outro mandato. Ela já existia mas hoje é muito pior. Porque, por exemplo, a licitação do lixo está emperrada. A licitação dos guinchos para colher caçambas está emperrada. Enquanto isso eles fingem que não vêem o aterro da Caximba, o rio Barigui na Caximba sendo coberto de lixo. Nasceu uma cidade com 25 mil habitantes em cima do rio Barigui na Caximba na era Fruet e o Ministério Público não viu. O meu desafio para eles é o seguinte: me deixem fazer que eu sei fazer, se eu estiver errado me processem e me ponham na cadeia. Mas se não eu fui eleito para fazer, vou fazer. Me deixem fazer. Não me impedirem de fazer, gente que não foi eleita para ser prefeito, segurar a mão do prefeito, não é lícito. É imoral, é indecente e é perverso. No caso da UPA da CIC é perverso.
BP – O senhor suspendeu o reajuste dos servidores em 2017. Deve manter isso em 2018, ou pretende pagar rever isso no ano que vem?
Greca – Eu ia dar uma correção de 1,5%, eles disseram nas redes sociais que era ridículo, eu não dei. Eu agora vou provisionar esse recurso para um dia quando puder dar. Direitos sem sustentabilidade são desenganos. Nós estamos trabalhando para melhorar a arrecadação. Tudo indica que a economia do País está melhorando. Vamos ver como a arrecadação se comporta. E como nós votamos a Lei de Responsabilidade Fiscal nós vamos fazer tudo de acordo com a lei. Tendo arrecadação vai ter salário corrigido. Não tendo vai ter salário, mas não vai ter salário corrigidos. Porque eu não posso prometer o que não posso pagar. Eu tenho que usar uma parte do dinheiro para servir a população. O serviço público é para servir o povo, não é para aumentar funcionário.
BP – O senhor já sabe quem vai apoiar na eleição para o governo em 2018?
Greca – Não. Eu não tenho nenhuma disposição. Eu vou apoiar as pessoas que me apoiaram na eleição, por dever de lealdade. Eu pessoalmente. Mas a prefeitura tem o dever de estar neutra para poder ter sempre, qualquer que seja o governador o seu apoio no bem de Curitiba. A Cida é minha aliada e eu tenho lealdade com ela. Vamos esperar para ver. Não sei se ela vai ser candidata.
BP – Qual sua relação com as redes sociais da internet?
Greca – Eu gosto muito das redes sociais. Eu fico sabendo das coisas que a máquina quer esconder. Eu levanto antes dos secretários. As 5h30 da manhã eu já li tudo na rede social. Eu já sei o que eu devo brigar naquele dia. Surgem demandas, denúncias, muita falsidade, mas surge muita coisa fundamentada.
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