Aplicação financeira mais tradicional dos brasileiros, a caderneta de poupança registrou a primeira queda na captação líquida (depósitos menos saques), depois de nove meses consecutivos de melhora. Em novembro, os investidores depositaram R$ 1,48 bilhão a mais do que retiraram da aplicação, informou nesta sexta-feira (4) o Banco Central (BC).
A captação líquida é 39% inferior ao registrado em novembro do ano passado, quando os brasileiros depositaram R$ 2,43 bilhões a mais do que tinham sacado. Nos últimos meses, a caderneta tinha quebrado uma sequência de recordes desde o início da série histórica, em 1995.
Apesar do recuo no mês passado, a poupança acumula entrada líquida de R$ 145,71 bilhões de janeiro a novembro. Esse é o melhor desempenho para o período registrado pela aplicação financeira.
A aplicação começou o ano no vermelho. Em janeiro e fevereiro, os brasileiros retiraram R$ 15,93 bilhões a mais do que depositaram. A situação começou a mudar em março, com o início da pandemia da covid-19, quando os depósitos passaram a superar os saques. A turbulência no Tesouro Direto nos dois primeiros meses da pandemia fez parte dos investidores preferirem a segurança da poupança, mesmo com rendimento menor.
O interesse dos brasileiros na poupança manteve-se apesar da recuperação da bolsa de valores nos últimos meses. No entanto, com a taxa Selic (juros básicos da economia) em 2% ao ano, menor nível da história, e o aumento da inflação decorrente do preço dos alimentos reduziram a demanda pela caderneta.
Rendimento
Com rendimento de 70% da Taxa Selic (juros básicos da economia), rendeu 2,29% nos 12 meses terminados em novembro, segundo o Banco Central. No mesmo período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que serve como prévia da inflação oficial, atingiu 3,52%. O IPCA cheio de novembro será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no próximo dia 8.
Para este ano, o boletim Focus, pesquisa com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, prevê inflação oficial de 3,54% pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com a atual fórmula, a poupança renderia 1,4% este ano, caso a Selic de 2% ao ano estivesse em vigor desde o início do ano. Como a taxa foi sendo reduzida ao longo dos últimos meses, o rendimento acumulado será um pouco maior, mas insuficiente para repor as perdas com a inflação.
Histórico
Até 2014, os brasileiros depositaram mais do que retiraram da poupança. Naquele ano, as captações líquidas chegaram a R$ 24 bilhões. Com o início da recessão econômica, em 2015, os investidores passaram a retirar dinheiro da caderneta para cobrir dívidas, em um cenário de queda da renda e de aumento de desemprego.
Em 2015, R$ 53,57 bilhões foram sacados da poupança, a maior retirada líquida da história. No ano de 2016, os saques superaram os depósitos em R$ 40,7 bilhões. A tendência inverteu-se em 2017, quando as captações excederam as retiradas em R$ 17,12 bilhões, e em 2018, com captação líquida de R$ 38,26 bilhões. Em 2019, a poupança registrou captação líquida de R$ 13,23 bilhões.
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