Dezembro, férias, praia, sol e um dado alarmante: 33.339 pessoas morreram no Brasil em uma década (2008-2017) em decorrência do câncer de pele, segundo dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)> As informações são de Ana Letícia Leão n’O Globo.
O levantamento mostra que o número de óbitos subiu 48% de 2008 para 2017. Hoje, o câncer de pele é o mais frequente e responde por 30% dos diagnósticos de tumores malignos no país.
De acordo com o Painel Oncologia, base de dados coordenada pelo Ministério da Saúde, São Paulo foi o estado brasileiro com o maior número de mortes em decorrência do câncer de pele nos últimos 10 anos, com 7.668 casos, seguido por Rio Grande do Sul, com 3.753, e Minas Gerais, com 2.822. Em quarto lugar, aparece o Paraná, com 2.800 casos. O Rio de Janeiro está em 5º, com 2.747 mortes.
Embora associado à exposição inadequada ao sol, dos 20 municípios que registraram o maior número de diagnósticos da doença entre 2013 e 2019, somente três estão no litoral brasileiro: Fortaleza, na 4ª posição; Salvador, na 10ª posição, e Natal, na 12ª posição.
Segundo o presidente da SBD, Sérgio Palma, o número é um alerta para que a população tome cuidados diários em relação à exposição aos raios ultravioletas, não apenas quando forem à praia ou à piscina durante o verão.
— A radiação ultravioleta está presente no país inteiro sempre. O Centro Oeste, por exemplo, tem uma radiação imensa, como não há em Recife. Temos no Brasil a cultura do bronzeado, e todo câncer de pele tem uma assinatura da radiação ultravioleta em sua essência. É preciso usar filtro solar, roupa adequada, óculos com fotoproteção e evitar o sol em horários de pico.
Pessoas de pele clara, sensíveis à ação do sol e com histórico familiar deste câncer costumam ser as mais atingidas.
*Dois tipos de tumor*
Há dois principais tipos de câncer de pele: o mais frequente é o não melanoma que, apesar de maligno, tem grandes chances de cura se detectado precocemente. Quando diagnosticado ainda no início, ele pode ser tratado no próprio consultório do dermatologista, com uma pequena cirurgia.
O outro é o melanoma, que representa apenas 3% dos cânceres malignos da pele e é o mais grave, devido ao alto potencial de provocar metástase (a disseminação para outros órgãos).
No caso, a cirurgia é o tratamento mais indicado, mas radioterapia e quimioterapia também podem ser utilizadas dependendo do estágio.
Uma dentista moradora do Rio, que preferiu não se identificar, conta que conseguiu fazer o tratamento adequado de um caso mais simples da doença antes de ter grandes complicações.
— Fui fazer outros procedimentos na dermatologista e, em uma das rotinas, comentei sobre o nódulo no nariz.Passei por mais de três médicos e ninguém diagnosticava. Quando entenderam o que era, retirei uma parte no consultório, fiz biópsia e depois uma pequena cirurgia para retirar toda a área atingida pelo câncer — conta a dentista.
Depois do susto, afirma, o protetor solar tornou-se algo essencial em sua rotina.
— Até os 27 anos, tomava muito sol sem proteção. E o nariz é uma área que, mesmo não querendo, a gente acaba expondo. Hoje, o cuidado é redobrado.
Mal parecido acometeu recentemente o técnico Vanderlei Luxemburgo, que descobriu um câncer maligno em um sinal no nariz e também o eliminou em uma cirurgia simples, de raspagem.
*Efeito acumulativo*
Mais de 77 mil pessoas foram diagnosticadas com tumores malignos de pele entre 2013 e 2019. Os idosos são os mais atingidos, com 67% do total.
— O efeito da radiação ultravioleta é acumulativo. Na prática, a luz ultravioleta atravessa a pele, chega nas células, lesiona o DNA e causa alterações que levam a um crescimento desordenado dessas células, o que dá origem ao câncer de pele — explica Sérgio Palma.
Para ajudar no diagnóstico precoce, explicam os especialistas, é necessário ficar de olho e procurar um médico se uma lesão na pele se enquadra nos chamados “critérios A, B, C, D e E”.
O “A” está relacionado à assimetria da lesão. O “B”, a bordas irregulares. Já o “C” é referente a cores difusas, e o “D”, ao diâmetro, que deve ser superior a 6 milímetros.
Por último, deve-se levar em consideração o fator “E”, referente à evolução do quadro, como casos em que a lesão se modifica ao longo do tempo.
— Costumo dizer que o melhor tratamento é o primeiro. É muito importante ter o diagnóstico correto e não fazer tratamentos paliativos. O câncer de pele é facilmente curado, a verdade é essa —— afirma Flávio Luz, diretor médico do Centro de Cirurgia da Pele e professor de dermatologia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Ele afirma que o carcinoma basocelular (um dos tipos mais comuns) tem 98% de chance de cura quando diagnosticado precocemente e tratado em centros de referência, e que, mesmo o tipo mais complicado, tem um índice de cura enorme.
Apesar do crescimento no número de diagnósticos e mortes em decorrência do câncer de pele no Brasil, especialistas acreditam que as pessoas ainda dão pouca importância aos cuidados com o maior órgão do corpo.
— Vejo muitos casos de pacientes que chegam com um câncer em estágio avançado porque não encontraram atendimento adequado. As pessoas não têm ideia da gravidade do câncer de pele. Se fizessem um exame dermatológico completo anualmente para identificar casos em estágio precoce, a mortalidade seria muito menor — alerta Jade Cury, coordenadora do Departamento de Oncologia Cutânea da SBD.
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