Editorial, O Globo
Lulopetismo articula “frente de esquerda” para dar sustentação à campanha pela volta de Lula em 2018 e exercer pressão sobre o próprio governo Dilma
A política é movida por leis próprias, uma delas, a da “expectativa de poder”. No Brasil, país ainda de estrutura partidária frágil, ela patrocina alianças paradoxais entre forças políticas nos planos nacional e regionais. O inimigo no pleito presidencial pode ser o aliado na disputa regional e vice-versa. Tudo em função também da expectativa de vitória dos candidatos.
O segundo e último mandato da petista Dilma Rousseff, por exemplo, mobiliza desde já o lulopetismo para permitir a sonhada volta de Lula ao Planalto em 2018, como já antecipado ainda em 2013 pelo então ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, em um dos seus “sinceridícios”.
O projeto, porém, já era óbvio. Não precisava de inconfidências de assessores e amigos do líder petista para se saber da sua existência. Mas o projeto entra numa fase que pode interferir no próprio governo da ex-auxiliar de Lula.
O primeiro movimento mais amplo do “Lula 2018” ocorreu no final de dezembro, com uma reunião em São Paulo, na Faculdade de Direito da USP, no tradicional Largo de São Francisco, de cerca de 40 líderes de movimentos ditos sociais, sindicatos e representantes do PT, PCdoB e partidos mais à esquerda, PSOL e PSTU. Entre os movimentos, o MST, o dos sem-teto de São Paulo (MTST), dos atingidos por barragens, entre outros, segundo o jornal “O Estado de S.Paulo”.
A pretensão é lançar uma “frente de esquerda” cuja meta, para daqui a quatro anos, é recolocar Lula de volta no Planalto e, até lá, pressionar Dilma para que não sucumba ao “neoliberalismo” ao qual o PT, o próprio Lula e Dilma tiveram de recorrer a fim de reestabilizar a economia — tirada do prumo pelo próprio governo petista, por ironia. Servem ainda de justificativa para a tal frente as “ameaças golpistas” de grupos irrisórios e sem apoio na sociedade que empunham cartazes pelo impeachment de Dilma e a volta dos militares. Simples pretexto.
O metamorfósico lulopetismo, como seu líder, também vê no esquerdismo uma forma de se diferenciar de Dilma, caso o governo dela seja muito turbulento e fracasse. Poderá descolar-se e prometer a volta aos bons tempos do período Lula. Mesmo que se isso seja ilusório, porque não haverá um boom mundial, como o que acompanhou a maior parte dos mandatos de Lula, para empurrar o Brasil. Na realidade, ou se faz o ajuste necessário para o país se recuperar mais à frente, ou o Brasil continuará andando de lado e resvalará para a irrelevância global.
Dilma, por sua vez, precisará ter equilíbrio nas concessões que é forçada a fazer à esquerda do PT e aliados. Uma delas deverá ser a manutenção da diplomacia companheira, já uma concessão feita em 2003, em troca da política de ajuste de Palocci e Henrique Meirelles. O cenário atual é o mesmo, mudam apenas os nomes. Por tudo isso, a presidente Dilma deve esperar cerrado fogo amigo. A prioridade do lulopetismo e aliados é 2018.
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