Combates entre o exército da Venezuela e dissidentes das Farc estão acontecendo de forma mais intensa na fronteira daquele país com a Colômbia desde o último dia 21 de abril.
Por conta do conflito, há relatos de deslocamento de tropas também nos estados venezuelanos de Bolívar, Zulia e Amazonas, que faz divisa com o Amazonas brasileiro, o que teria provocado a fuga de civis.
A Sputnik Brasil conversou com Vinícius Guilherme Rodrigues Vieira, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado, para discutir o tema, tendo em vista que o Ministério da Defesa brasileiro passou a monitorar diariamente o conflito.
Oito soldados venezuelanos morreram em enfrentamentos com grupos armados que operam na fronteira colombiana, aumentando o número de baixas desde que a ofensiva contra os combatentes começou em março, informou o Ministério da Defesa da Venezuela
O especialista disse que o monitoramento da situação nos países vizinhos é contínuo desde o começo dos anos 90, quando no governo Collor houve um conflito na chamada “Cabeça do Cachorro, nossa área fronteiriça com a Colômbia, e militares brasileiros foram envolvidos, pois houve incursão de guerrilheiros colombianos em nosso território sendo a operação bem sucedida”.
“Qualquer situação ali tem que ser monitorada, até por conta desses complicadores que são o fato de haver muita migração na região, a instabilidade do regime [de Nicolás] Maduro e claro a tensão com a própria Colômbia. Caracas e Bogotá adicionam complicadores em algo que já parecia estar superado após o acordo de paz com as Farc de 2016, que foi uma preocupação a menos para o governo brasileiro, mas a situação entre Colômbia e Venezuela faz com que este seja um ponto de tensão em relação às nossas relações internacionais”, continuou Vieira.
Para ele, não poderia ser pior o cenário para o Brasil, simplesmente porque o país não tem mais a legitimidade de anos atrás de atuar como eventual mediador, pois apesar de ser parte envolvida, ao tomar partido contra o governo Maduro, o Brasil acabou embarcando em uma “canoa furada” ao reconhecer o autoproclamado governo de Juan Guaidó na Venezuela.
Um barco da marinha colombiana patrulha o rio Arauca enquanto um barco da marinha venezuelana permanece ancorado na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, visto de Arauquita, Colômbia, em 28 de março de 2021
“Agora pagamos as consequências diplomáticas, que incluem o fato de nós não termos aparentemente a neutralidade, o reconhecimento esperado, para eventualmente mediarmos essa confusão na nossa fronteira, não na nossa fronteira, mas na nossa vizinhança melhor dizendo”, avaliou o especialista.
Perguntado sobre o que o governo do presidente Jair Bolsonaro pode fazer — apesar das informações desencontradas sobre o conflito —, Vieira disse que não se surpreenderia se ele usasse essa crise para desviar a atenção da CPI da COVID que acontece no Senado.
“Bolsonaro poderia usar o conflito nos países vizinhos para desviar a atenção da CPI da COVID, desviar das questões relacionadas ao coronavírus, que são mais urgentes. Mas, por hora, vejo a questão apenas circunscrita aos bastidores. Os militares mantêm canais abertos com ambos os lados e eles podem ser um ponto-chave para que esse conflito não aumente, porque tudo que o Brasil não precisa no atual momento é um conflito forte em sua vizinhança”, finalizou Vieira.
Nesta quarta-feira (28), o Ministério da Defesa da Venezuela anunciou em comunicado em seu site os nomes de oito soldados mortos no conflito de fronteira, sem dar mais detalhes, dois dias depois de reportar duros confrontos com “grupos armados irregulares da Colômbia”, que resultaram em “um número significativo” de baixas.
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