“O golpe militar de 31 de março de 1964 foi o mais longo período de interrupção democrática pelo qual passou o Brasil durante a República. Qualificado pela história como “os anos de chumbo”, o período da ditadura foi marcado pela cassação de direitos civis, censura à imprensa, repressão violenta das manifestações populares, assassinatos e torturas”. O trecho é de uma reportagem feita pelo jornalista Marcos Chagas, da Agência Brasil, em 2011.
Neste 2015 completamos 30 anos de democracia no país, após um longo período ditatorial, que deixou centenas de brasileiros e brasileiras marcados pela sombra da tortura e outros inúmeros mortos, desaparecidos. Neste 2015, porém, vivemos também um período dúbio: ora sombrio, ora duvidoso.
Sombrio pelo fato de haver pessoas pedindo uma intervenção militar no país. Duvidoso porque é praticamente impossível acreditar que sabendo o que foi o período de ditadura militar no Brasil haja cidadãos defendendo este tipo de regime.
Na década de 60, quando houve o golpe, uma série de fatores culminaram com a ascensão da ditadura. No ano de 1961, com a renúncia do presidente Jânio Quadros, foi feita emenda constitucional que instituiu o parlamentarismo no país até 1963, quando foi realizado o plebiscito que decidiu pelo presidencialismo. Em 31 de março de 1964, como diz a historiografia oficial, na madrugada de 1º de abril, começou um dos períodos mais vergonhosos do nosso país.
João Goulart, então vice-presidente, ocupou legalmente a sucessão presidencial, mas foi deposto por golpistas. Jango defendia direitos trabalhistas. Dias antes do golpe, no emblemático comício na Central do Brasil, afirmou que faria reformas de base, garantindo direitos para brasileiros e brasileiras antes esquecidos. Esse foi o estopim para o golpe.
Hoje, 2015, já estamos maduros o suficiente para avaliar os malefícios de uma ditadura. No entanto, ainda há ecos do que foi o militarismo. Existem aqueles que pedem a saída da presidenta eleita democraticamente, por voto direto do povo, o que é lastimável. Ressalto que até 1985 não podíamos protestar contra governos, muito menos tínhamos direito de eleger um.
Para aqueles que pregam, disseminam e defendem discursos ditatoriais, autoritários e antidemocráticos o recado é: 30 anos de liberdade não serão derrubados. O direito de todos, inclusive dessa minoria, em se expressar foi conquistado à duras penas por homens e mulheres torturados, machucados e mortos durante mais de 20 anos de barbárie, será mantido e é garantido pela constituição. Não haverá outro golpe.
A biógrafa de Voltaire, Evelyn Hall, resumiu bem o pensamento do filósofo em They Never Said It: A Book of Fake Quotes, Misquotes, and Misleading Attributions sobre liberdade: “Posso não concordar com o que diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Como parlamentar e cidadão, concordo com a afirmação e como brasileiro sei que não iremos retroceder.
(*) Zeca Dirceu é deputado federal pelo PT do Paraná.
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