Luiz Cláudio Romanelli
“É preciso que todos tenham fé e esperança em um futuro melhor. O essencial é confiar em Deus. O amor constrói e solidifica” – Irmã Dulce
Para quem cresceu e se formou num ambiente de genuíno matriarcado – como foi o caso de minha história pessoal -, os atuais postulados pela afirmação feminina não são exatamente uma novidade nem causam algum tipo de estranhamento. Ao contrário.
A necessidade inadiável e indispensável do empoderamento da mulher foi uma das muitas lições que aprendi na fecunda convivência que tive com minha mãe, a dona Irma, cuja sabedoria, presença de espírito e senso prático das coisas representaram, para mim, um legado profundo para toda uma vida.
Verdadeira matriarca, que agregava toda a família em torno de sua personalidade carismática, exercendo uma influência positiva sobre todos nós, Dona Irma foi uma fonte inesgotável de ensinamentos, que ela me transmitiu nas conversas inesquecíveis que tivemos ao longo de décadas – sobretudo nos seus últimos anos, aqueles em que a vivência já fora alargada por tantas alegrias e decepções, sonhos realizados e projetos que nunca temos a oportunidade de materializar.
Sua simplicidade e gestos tranquilos ocultavam o caráter forte de uma mulher inteligente, experiente e sagaz.
Procurava se manter informada sobre as coisas do mundo, atualizando-se sobre a cidade, o país e a política no rádio, na televisão e eventualmente nos jornais. Mas seu conhecimento vinha de um empirismo meio fora de moda hoje: Dona Irma sabia ler o semblante das pessoas.
Tirava suas conclusões da observação – o que as pessoas costumavam dizer cotejado com o que realmente faziam – e da própria natureza, notando, por exemplo, que o clima de hoje já não é mais nem sombra daqueles ares amenos que ela havia respirado em sua adolescência e juventude (conclusão a que chegara sem precisar ler as previsões de cientistas).
Vem dessa relação com minha mãe o profundo respeito que sempre devotei às mulheres e, mais que isso, o saber que o mundo será um lugar melhor, mais justo e mais solidário se o ilimitado potencial feminino for devidamente aproveitado: mulheres e homens trabalhando de mãos dadas, lado a lado, na condução de nossas vidas, na política, nos negócios, na ciência, na arte, na literatura e na filosofia. Sem discriminação nem preconceitos (voltaremos ao tema em outro artigo).
Dona Irma teve uma vida plena de realizações. Morreu serenamente, em 2007, aos 91 anos. Cumprira integralmente a missão a que se havia dedicado.
Foi um momento difícil para todos nós, da família. Mas superamos a dor e logo estávamos prontos para seguir em frente, cientes de que grandes perdas são inerentes aos ciclos da vida.
Particularmente, eu tinha convicção de que os aconselhamentos de Dona Irma deveriam ser passados adiante, e foi o que fiz. Desde alguns anos atrás compartilho nas redes sociais as lições que recebi de minha mãe, através de vídeos postados no Facebook e textos inseridos em grupos de WhatsApp. Seus ensinamentos serão editados em livro que pretendo lançar ainda este ano com depoimentos, fotografias e mensagens de familiares e amigos.
As mensagens de Dona Irma, acredito, vão muito além da mera autoajuda. Uma das minhas preferidas diz respeito à necessidade permanente de nos reinventar, inclusive desaprender certos conceitos arraigados em nossa vida, abrir a cabeça para novas ideias e nos desvencilhar de preconceitos que prejudicam a nossa visão de um mundo em constante mutação.
Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado e vice-presidente do PSB do Paraná
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