Naira Trindade, O Globo
A crise entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, ganhou novo capítulo nesta quarta-feira com a declaração de Bivar de que o presidente já está afastado da legenda. Ontem, Bolsonaro pediu para um apoiador esquecer o PSL e não divulgar vídeo sobre Bivar, porque o presidente do partido estaria “queimado para caramba”. O diálogo ocorreu na saída do Palácio da Alvorada, com um homem que se apresentou como pré-candidato pelo PSL no Recife. A legenda chegou a fazer uma reunião de emergência ontem à noite para avaliar o desgaste da declaração.
A fala dele foi terminal, ele já está afastado. Não disse para esquecer o partido? Está esquecido — disse Bivar ao blog da repórter Andréia Sadi, do G1 .
Também nesta quarta-feira, Bolsonaro disse que não pretende sair do PSL “de livre e espontânea vontade”. Em entrevista ao site “O Antagonista”, Bolsonaro alegou que Bivar tem o “direito” de expulsá-lo do PSL, mas ressaltou que uma eventual expulsão faria o partido “murchar”.
Comigo fora da legenda, a tendência do PSL é murchar. Se eu sair, é natural que muita gente saia também.
O presidente também comentou a declaração para o apoiador esquecer o PSL. Ele explicou que não quis vincular seu nome a nenhum candidato, e ressaltou que a referência a Bivar foi sobre a situação dele Pernambuco, estado pelo qual é deputado federal.
O rapaz falou que era candidato a vereador. Se começar a vincular nome a partido, à minha imagem, pode ter problema de campanha antecipada. Ninguém tem que se antecipar como candidato, cria ciúmes. Quando falei que ele (Bivar) estava queimado, é que ele não está bem no estado dele.
Bolsonaro disse ter feito uma “reclamação do bem” sobre o funcionamento do PSL e afirmou querer que o partido funcione:
Não integro a Executiva, só estou filiado ao partido, mais nada. Essas são as reclamações. Eu não quero esvaziar o partido. Quero que funcione. O PSL caiu do céu para muita gente, inclusive para o Bivar. O que faço é uma reclamação do bem. O partido tem que funcionar, tem que ter a verba distribuída, buscar solucionar os problemas nos diretórios. Todo partido tem problema. O presidente, o tesoureiro, eles têm que solucionar isso.
Reunião sem consenso
A reunião do PSL de ontem foi tumultuada e acabou sem consenso. No encontro, chegou a ser pedido que deputados assinassem um manifesto em apoio a Bivar. A ala bolsonarista se recusou, porém a maioria dos presentes se solidarizou com Bivar e considerou “desnecessária” a declaração de Bolsonaro.
O deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS) afirmou ter ficado decepcionado com os colegas ao perceber que o número de apoiadores de Bolsonaro reduziu. O cálculo do partido é de que apenas 11 sairiam caso o presidente deixe a legenda. Na reunião, Bibo Nunes, Luiz Phillippe Bragança e Orleans e Coronel Chrisóstomo se comprometeram a seguir com o presidente Jair Bolsonaro para outra legenda independentemente dos recursos do fundo eleitoral.
Polêmica, a reunião teve dedo em riste e confusão. Segundo fontes, o deputado federal Luiz Phillippe Bragança e Orleans (SP) pediu que o colega Nelson Barbudo (MS) baixasse o tom de voz. Houve gritos para que ele também tirasse a barba e o chapéu. Nelson Barbudo revidou. O deputado Felipe Francischini (PR) também se exaltou ao bater boca com Bibo Nunes. Nessa hora, Bibo disse que seria melhor seguir “cada um para um lado, sem cinismos”.
Novo partido
A alternativa para que deputados e senadores possam migrar de legenda sem perder o mandato é criar um novo partido, como a UDN, que está prestes a ser criada. Mas essa saída é vista como menos provável, uma vez que levaria um tempo maior até ser viabilizada. Mesmo assim, o caminho está sendo pavimentado, e o partido seria batizado de Conservadores. Aliados do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) estão, inclusive, finalizando o estatuto dessa nova legenda.
De acordo com a minuta com as premissas a serem adotadas, a sigla terá como princípios a “moralidade cristã, a vida a partir da concepção, a liberdade e a propriedade privada”. O texto defende ainda o direito à legítima defesa individual, combate à sexualização precoce de crianças e à apologia da ideologia de gênero e defesa do legado da “moralidade cristã e da civilização ocidental”. Filiados estarão proibidos de fazer alianças com partidos da “esquerda bolivariana”.
Outra possibilidade é Bolsonaro migrar para outra legenda. Algumas delas já começam a se movimentar na tentativa de atrair o presidente. A ideia seria desembarcar num partido menor para promover uma reforma interna. Siglas como o Patriota e a UDN — esta em vias de ser criada — são as opções mais prováveis no momento.
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